18.8.08

Grupo de Danças a Cantares seguiu completo para Pequim
Sensibilidade e bom-senso

Uma intervenção pronta e pessoal do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Fernando Chui Sai On, desbloqueou numa manhã a questão da dispensa de serviços das duas funcionárias do Hospital Central que os Serviços de Saúde não conseguiram resolveram em meses. Os 40 elementos do grupo partiram juntos para Pequim onde realizaram esta madrugada o primeiro “ensaio a sério.”

Alfredo Vaz

No final imperou o “bom senso”, e a comitiva partiu junta terça-feira à tarde num voo rumo a Pequim. Como o PONTO FINAL noticiou na edição desse mesmo dia, até à véspera - segunda-feira – as duas funcionárias do Hospital Central Conde de São Januário não tinham recebido qualquer resposta ao pedido “feito há vários meses e dentro dos prazos legais pelo Instituto do Desporto”, revelou em entrevista o coordenador do grupo, o professor João Fonseca. Numa carta dirigida ao PONTO FINAL, o director dos serviços de Saúde, Lei Chin Hoi, “a referida reportagem não corresponde aos factos, tendo os dois trabalhadores do hospital público partido para Pequim em conjunto com o Grupo de Danças e Cantares, no dia 29 de Julho.” O que Lei Chin Ion não diz na carta é que o problema se resolveu, mas apenas no próprio dia, e que tudo se terá desencadeado nessa mesma manhã, depois da notícia ter sido tornada pública pelo PONTO FINAL e pala Rádio Macau.
E terá sido uma intervenção pessoal do Secretário para a Saúde e Assuntos Sociais, Fernando Chui Sai On, que desbloqueou a situação, conforme disse ao PONTO FINAL João Fonseca, ao telefone, de Pequim. “Logo que o Secretário teve conhecimento do problema (na manhã do dia 29, dia da partida), quer através das nossas diligências e da imprensa, começou a trabalhar neste problema. Permitiu que as pessoas pudessem vir mesmo pedindo as férias, para que pudéssemos todos vir no mesmo voo, e o gabinete está a trabalhar para futuramente resolver esta questão”
No entender do coordenador do grupo, tudo se resolveu porque houve boa vontade: “nada neste mundo é perfeito, como nós sabemos, e só queríamos que nos dessem soluções para resolver o problema. Este problema secundário, que é a ultrapassagem deste problema legal das pessoas estarem enquadradas legalmente numa dispensa de serviços – como todas as outras pessoas de outros serviços, quer públicos, quer privados – para nós é que é fundamental. É uma questão de bom senso.”
João Fonseca fez ainda questão de deixar claro que quando usou a expressão “discriminação” – em declarações ao PONTO FINAL, na véspera da partida, e quando os funcionários dos serviços de saúde ainda não tinham autorização para integrarem – o fez para sublinhar o facto de haver dois pesos, e duas medidas, na aplicação do regime de dispensa, por comparação com outros serviços da Administração Pública: “sublinho que a expressão ‘discriminação’ não é entre ninguém em particular, muito menos entre etnias – longe disso – tem a ver com a questão dos serviços. Achamos estranho que um serviço público não tenha tido o mesmo cuidado, facultando a dispensa de serviços das pessoas que estavam envolvidas neste projecto. Foi só e somente neste sentido. Tudo isto não passou de um equivoco, mas não da nossa parte.”
O professor realça ainda que todos os elementos do grupo trabalham há meses na preparação, com um grande sentido de orgulho e determinação em realizar “o espectáculo das suas vidas. Houve muitos casos de pessoas que não necessitaram de pedir dispensa, porque a sua a actividade profissional a tal não obrigava (por exemplo professores que estão neste momento em férias, como o próprio João Fonseca, docente na Escola Portuguesa). Mas há pessoas de outras actividades profissionais que optaram por férias, não tendo recorrido à figura da dispensa de serviços, porque não necessitavam, ou não o quiseram fazer, por diferentes ordens de razão. Isto porque se trata de um evento de grande importância, não só para Macau como para a própria República Popular da China. Nós estamos, com muito orgulho, a representar a Região Administrativa Especial de Macau, como sempre fizemos e sempre fazemos, e queríamos vir para cá com todo o potencial - psicológico e físico – isto é fundamental.”

Cidade Olímpica

“Muito bem instalados e felizes”, João Fonseca diz que o grupo encontrou um ambiente fantástico de uma cidade que vive, respira e transpira, a contagem decrescente para o início dos jogos: “As pessoas sentem um grande orgulho e demonstram-no abertamente. São fantásticas, são abertas, estamos a ser muito bem recebidos. A cidade está muito organizada – notei uma grande diferença de há dois anos a esta parte, quando da minha última visita. O novo terminal do aeroporto é moderno, agradável e eficiente, em cinco minutos já estávamos cá fora, com malas e tudo. As infra-estruturas são de uma cidade nova e cosmopolita
O grupo está hospedado nas instalações do Instituto para a Administração das Etnias da República Popular da China, numa zona verde da capital, nas imediações do Palácio de Verão, na zona das universidades, sensivelmente a meio caminho entre a baixa da gigantesca metrópole e a Cidade Olímpica,”uma zona verde, bastante calma, com excelentes instalações internas e externas, e também com comida excelente, que se consegue adaptar não só à comunidade chinesa de Macau, mas também à comunidade portuguesa. Com muita fruta e boa fruta, carne e peixe e até tivemos peixinhos da horta, uma surpresa muito simpática.”
O grupo teve um primeiro ensaio de adaptação, e ontem à noite teve o primeiro ensaio no recinto onde vai decorrer a cerimónia de pré-abertura, a decorrer madrugada fora, entre as duas e as nove da manhã “um ensaio já com roupas, com as luzes, como se fosse o verdadeiro espectáculo.”

A VERSÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

É este o conteúdo, na íntegra, de uma carta recebida ontem na redacção do PONTO FINAL, com o título Esclarecimento dos Serviços de Saúde ao jornal “PONTO FINAL”, assinada por Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde:
“Relativamente ao artigo publicado no vosso jornal de dia 29 de Julho, intitulado “Atitude Discriminatória”, em que consta que dois dos 40 elementos do Grupo de Danças e Cantares não partem hoje para a capital chinesa, onde deveriam participar na actuação do grupo folclórico, na cerimónia de pré-abertura das Olimpíadas, as necessárias dispensas de serviços não chegaram, e os requerentes não foram sequer informados, sabendo apenas por via não-oficial. O ambiente é de consternação, e João Fonseca, coordenador do grupo, fala em “atitude discriminatória, cumpre-me esclarecer o seguinte:
A referida reportagem não corresponde aos factos, tendo os referidos dois trabalhadores deste hospital público partido para Pequim em conjunto com o Grupo de Danças e Cantares, no dia 29 de Julho.
Para alem disso, de acordo com as informações suplementares fornecidas pelo Instituto de Desporto, e depois de uma troca de opiniões entre os dois serviços, esta actividade foi definida como satisfazendo o interesse público, e consequentemente, foi autorizada dispensa de serviço dos referidos elementos dos serviços de saúde no período de deslocação e actuação em Pequim.”
O que Lei Chin Ion não diz na sua carta é que as dispensas tinham sido pedidas há vários meses pelo Instituto do Desporto, com os mesmos argumentos de “actividade de interesse público.” Nem que só na manhã do dia em que a notícia foi tornada pública, o dia da partida, “foi autorizada dispensa de serviço dos referidos elementos dos serviços de saúde no período de deslocação e actuação em Pequim.” Ou seja, que numa manhã se conseguiu resolver uma questão que estava pendente - e sem resolução - há vários meses, “questões de timing”, como definiu João Fonseca na entrevista de segunda-feira ao PONTO FINAL.
Refira-se ainda que a carta foi entregue - por estafeta - por volta das 23:00 horas, na redacção deste jornal, já esta história estava redigida. Mais uma vez, segundo os ‘timings’ da Direcção dos Serviços de Saúde.

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