18.8.08

Liu Heng Shing apresentou China, Portrait of a Country
Um País, 88 imagens

Se uma imagem vale mil palavras, 88 valem muito mais. Liu Heng Shing vasculhou os arquivos de 88 fotógrafos chineses e o resultado é "China, Portrait of a Country", um retrato dos 60 anos da historia da RPC. O PONTO FINAL teve a oportunidade de conversar com o fotógrafo.

Rui Cid

A convite da livraria Bloom o conceituado fotógrafo chinês Liu Heng Shing viajou até Macau para a apresentação de China, Portrait of a Country. São 88 instantâneos - de outros tantos artistas - da história da China nos últimos 60 anos que Liu compilou num livro de 423 páginas em edição trilingue - Inglês, Francês e Alemão - com chancela da Taschen. Ontem, ainda antes de se dirigir à vintena de pessoas que se reuniram no albergue de São Lázaro, Liu disponibilizou-se para uma breve conversa com o PONTO FINAL. O fotógrafo começa por dizer que a história contemporânea chinesa é desconhecida para a grande maioria das pessoas, em especial para as gerações mais novas. "Quis fazer um mapa visual do caminho que a China percorreu desde 1949, data da fundação da RPC. Normalmente a história recente da china é mostrada de forma selectiva. A revolução cultural e Tianamen incomodam, então não se fala nelas. Todos os chineses gostam de recordar os mais de 3 mil anos da nossa cultura, mas não têm conhecimento dos últimos 60 anos da história". Para dar a conhecer a verdade e "mostrar a história como ela é", um pouco à imagem de Deng Xiaoping, que, no período pós-Mao, incitava os seus concidadãos a "procurar a verdade perante os factos", Liu pesquisou durante quatro anos os arquivos de vários fotógrafos, alguns deles já reformados que guardavam os seus negativos como relíquias em caixas de sapatos debaixo da cama. O resultado é uma obra que mostra tanto a China dos tempos em que quem incentivava o capitalismo era perseguido e humilhado em praça pública, como a China das grandes obras, o país moderno dos Jogos Olímpicos. " É interessante, os autores retratam a China de duas maneira. Ou pintam-na de uma forma muito negra ou muito romântica, muito idílica. É uma visão na qual não me revejo. Eu quis mostrar como vivem as pessoas, a história do seu dia a dia". Liu confessa que China, Portrait of a Country foi também uma forma de redefinir a sua relação com o próprio país:" Nasci em Hong Kong em 1952, tenho quase a mesma idade do que a RPC, este livro é também um pouco da minha memória pessoal."

"Nunca a China foi tão livre"

A ideia de publicar este livro surgiu no dia em soube que seria Pequim a acolher as olimpíadas. Liu Heung Shing percebeu que os olhos do mundo iriam estar centrados na China, e interrogou-se sobre qual seria a imagem do país e de que maneira seria visto: " a China vai ser escrutinada ", e por isso quis criar um documento que ajudasse a compreender o caminho que o país e as suas gentes percorreram para chegar até aos dias de hoje, um país aberto ao mundo, e uma das economias de topo a nível mundial com uma ascensão vertiginosa de sucesso nos últimos anos. Na obra, Liu procura acima de tudo apresentar toda essa transformação, unindo todos os seus vértices. Uma viagem visual, através do olhar de 88 fotógrafos, ao longo dos 60 anos da República Popular, que ilustra o seu curso humanista e mostra como o povo chinês floresceu, apesar de uma longa austeridade e privação que sofreu nas décadas anteriores. Mas será a "China dos jogos Olímpicos, a "China moderna", a verdadeira China? E os atropelos à liberdade de imprensa, aos direitos humanos, ou a enorme diferença no desenvolvimento entre o interior e o litoral? Liu percebe a questão, e, diplomaticamente, opta por contorna-la: " não podemos falar na China por "gavetas", por assuntos, há sempre algo de positivo. Isto é, o país é um todo, e o que posso dizer é que nunca a China foi tão livre como agora. Nos últimos 30 anos 400 milhões de pessoas saíram de uma situação de pobreza. Este é um número incrível, um nível que nenhum outro país alcançou. Mas temos também os burocratas que querem passar uma imagem perfeita para o exterior e por isso têm uma atitude controladora, e usam o medo do terrorismo como pretexto para algumas atitudes, mas quem vive ou viveu na China sabe perfeitamente que este é um dos países mais seguros do mundo." Palavra de fotógrafo. A edição da Taschen - à venda desde ontem na livraria Bloom ao preço de 499 patacas - não contempla a língua do país retratado no livro, mas Liu sonha com nova edição trilingue, desta vez em japonês, coreano e chinês, apesar de reconhecer que "dificilmente poderia ser publicada na China, por causa de Tianamen e da Revolução Cultural, dois assuntos tabu". A breve prazo a Taschen lançará uma edição três em um, desta vez para Portugal, Espanha e Itália.

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