Casa de Portugal estreia-se no Bairro se S. Lázaro a 1 de Abril
Brisas de revolução na Casa de Portugal
Brisas de revolução na Casa de Portugal
Abril traz ventos de mudança para a Casa de Portugal. A instituição alargou-se ao Albergue da Santa Casa de Misericórdia com uma mão cheia de projectos: ateliers de artes plásticas e audiovisuais, uma oficina de joalharia e um ciclo de cinema. Criar um produto “made in Macau”, no encontro de culturas, é a base de tudo
Sónia Nunes
A Casa de Portugal expandiu-se. Arrendou quatro salas no Albergue da Santa Casa de Misericórdia e oferece agora novas mesas de trabalho aos criativos de Macau e salas de ensino para os aprendizes. Os workshops em artes plásticas já começaram, o espaço multimédia arranca este mês e falta só arrumar a casa para que o atelier permanente de design de jóias arranque. O objectivo: criar (e vender) um produto de Macau. Pode ter sido dado mais um passo na transformação do Bairro de S. Lázaro num centro de indústrias criativas.
“As salas vão ser usadas como ateliers de ensino e de trabalho. Funcionam como ponto de apoio para a aprendizagem, com curso de artes manuais e audiovisuais. Também se pode usar o espaço para realizar trabalho criativo e técnico que precise de equipamento mais pesado e dispendioso”, descreveu a presidente da Casa de Portugal, Maria Amélia António.
No rés-do-chão, ao lado da sala de apoio que está a fazer as vezes da sede oficial do organismo em frente ao Consulado (o edifício está em obras), há mesas em madeira que se pretendem multiusos. Há cerca de duas semanas, começaram a receber duas acções de formação em artes plásticas: uma de xilografia e outra sobre ciência da cor, leccionadas pelo artista Joaquim Franco. A bancada pode ainda vir a ser usada para serigrafia, pintura de azulejos ou produções em cerâmica. “Tudo o que conseguirmos pôr aqui a funcionar e que vá ao encontro dos interesses da comunidade e do que nos for solicitado”, avança Maria Amélia António.
Para breve está também a inauguração da sala de multimédia. A estreia, ainda em Abril, será feita com um curso de técnicas informáticas para o utilizador comum. Porém, a tempo, será alargada aos possíveis trabalhos de edição de texto e imagem que as novas tecnologias permitem, afirma a presidente. Sempre com os dois pontos do programa de ateliers em cima da mesa: a formação de iniciados e o reforço das capacidades dos que já dominam as técnicas. O espaço será ainda ramificado noutras salas. “Vai haver uma câmara escura para a revelação de fotografias, por exemplo”, ilustra Amélia António.
Os “workshops” vão ter tradução, para que não haja excluídos. “Para que ninguém deixe de frequentar o curso por não falar a língua”, destaca. A Casa de Portugal não se concentra apenas na comunidade portuguesa que reside em Macau. Quer “criar um ponto de encontro de culturas que às vezes parece andar desencontrado”, refere a presidente da instituição.
A funcionar a tempo permanente vai estar a oficina de joalharia. “É um workshop muito solicitado e estamos a ver que temos de organizar mais do que um”, sublinha. O atelier tem já os equipamentos necessários, como fornos de fundição, falta apenas “testá-los antes das aulas”. A sala vai dividir-se também em cursos de diferentes níveis de formação, da iniciação à arte à especialização. Para o último sector será dado espaço “a tudo o que é possível fazer na joalharia enquanto arte de design. Não é joalharia industrial, são peças únicas, realça Amélia António. Mas o incentivo à criatividade quer chegar ao mercado. Aqui entra a função da sede da Casa de Portugal, na rua Pedro Nolasco da Silva.
O edifício vai assumir a parte administrativa e de organização da instituição e alargar a dimensão como espaço de convívio. “A falta de lugares de encontro de que toda a gente fala pode ser na sede. Vamos também expor o trabalho que as pessoas vão realizando aqui. Queremos que o produto entre no mercado”, afirma a advogada. A ideia procura, além de estimular o trabalho os que estão a frequentar as acções de formação, “dar origem a um produto que realmente resulte da simbiose de culturas, originário de Macau, dos que vivem de em Macau”, realça.
Abril será ainda mês de cinema no novo espaço conquistado pela Casa de Portugal. Está programado um ciclo de 15 sessões, em que os filmes farão referência “ao encontro Ocidente -Oriente”. As projecções, marcadas para quartas e Sábados, serão antecedidas por uma curta palestra de um convidado que fará uma introdução à obra. Findo o filme, abre-se o debate entre o público. “É uma ideia de cineclube”, resume Amélia António.
Estão lançadas as bases para o “projecto há muito sonhado” pela Casa de Portugal, que até agora “não tinha condições e não tinha espaço”. A nova fase da instituição poderá ainda aproximar os portugueses e reforçar a presença da comunidade no oriente. “Acredito sempre. Sou optimista. Há os que gostam de estar no seu cantinho. É mau. Tem de haver uma comunidade, no seu conjunto, se não parece que desapareceu”, observa. Amélia António espera que a alma lusa tome “consciência das suas capacidades, de que têm um trabalho útil”. E conclui: “A auto-estima também tem que ser cultivada. A nossa presença é desejável e é importante que seja estimulada”.
CAIXA
Primeira exposição depois da morte do pintor
Inéditos de Kwok Woon no Dia das Mentiras
Primeira exposição depois da morte do pintor
Inéditos de Kwok Woon no Dia das Mentiras
Os últimos segredos que o artista Kwok Woon deixou ao mundo vão ser revelados a 1 de Abril na Galeria do Albergue da Santa Casa da Misericórdia. São obras de colecções particulares, em que metade são inéditos. Os desenhos já feitos pela mão esquerda e que marcaram o derradeiro momento de criação do pintor.
“São desenhos feitos na fase mais avançada da doença, próximos da morte, em que ele já não trabalhava com a mão direita. Mostram um homem que tentou ultrapassar a doença. É uma mensagem de esperança”, descreveu o designer Nuno Calçada Basto, membro da direcção da Casa de Portugal. A última peça da exposição – a mostra inclui também poemas - foi desenhada por Kwok Woon dez dias antes de morrer.
A colecção de obras, parte cedida pela viúva do artista, Joana Ling, recupera também outras fases da carreira do pintor. “Das colagens àquilo a que ele chamava industrial junk: o uso de materiais como madeira e metal. Ficou intoxicado pelos materiais com que trabalhava, provocaram-lhe um cancro”, explica Calçada Bastos.
O dia de estreia da mostra será ainda marcado pela exibição de um arranjo floral, criado por Cindy Chao. A estrutura é “baseada nas três coisas que Kwok Woon mais gostava: as flores, as mulheres e o mar”, revela Maria Amélia António.
A exposição, a primeira feita depois da morte do pintor, homenageia também o homem “que estava muito próximo da comunidade portuguesa”. E resume o objectivo da expansão da Casa de Portugal para o bairro de S. Lázaro. “É uma maneira de tornarmos clara a intenção de fazer deste local um encontro de culturas. É um cultivo da simbiose, que é a identidade de Macau”, refere a presidente. A exposição está patente até 20 de Abril.
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Casa de Portugal convida alunos chineses a contarem o 25 de Abril com flores
Novos cravos de Abril
Casa de Portugal convida alunos chineses a contarem o 25 de Abril com flores
Novos cravos de Abril
As comemorações do 25 de Abril vão ter novos cravos este ano. A par de uma exposição de fotografias da revolução, a Casa de Portugal convidou alunos chineses dos cursos de arranjos florais para contarem o dia em que a ditadura caiu em Portugal e se pôs um cravo numa espingarda. Há também um concerto, ainda sem data certa, de um dos filhos da revolução, João Mendes.
“Vamos conhecer a interpretação artística de alguém que está longe do 25 de Abril e ouviu a história que lhe foi contada por nós”, resume Maria Amélia António. O jogo de simbolismo terá a forma de concurso e acompanha uma exposição fotográfica que reporta o dia, há 34 anos, dos Capitães de Abril. As imagens, cedidas pela Associação 25 de Abril, serão legendadas nas três línguas: português, chinês e inglês.
No dia seguinte, “possivelmente”, será ouvida a voz de um dos rebentos da democracia, João Mendes. “Vamos ter um concerto de um jovem português que é filho do 25 de Abril nos dois sentidos: nasceu depois da revolução e é filho de Carlos Mendes”, avança a presidente da Casa de Portugal.
O músico não deve trazer a canção de intervenção a Macau – segue o jazz e o reggae – mas ilustra o que os portugueses ganharam com a Revolta dos Cravos: “Representa a nova geração, a que pode escolher caminhos e sair do pais. É uma voz excepcional. Vai ser apelativo, sobretudo para a juventude. É um concerto que lhe é dedicado”, remata Amélia António.