4.5.08

Apenas três equipas aceitaram as inscrições
Campeonatos jovens podem ser cancelados,
clubes ameaçam com queixa na Confederação


Já não é de agora a discordância. A Associação decide critérios e regulamentos, que vão definir subsídios. Maioria de dirigentes e técnicos não aceita e recusa inscrição. E assim os campeonatos de sub 18 e sub 16 estão em risco. Clubes ameaçam apresentar queixa à Confederação Asiática

Vítor Rebelo
rebelo20@macau.ctm.net

A “guerra” vem de há vários anos. Tudo por causa dos subsídios que o IDM atribui à Associação e esta por seu turno define regras para os distribuir.
No início do projecto, ainda com Manuel Silvério na presidência do ID, não havia grandes imposições. Cada equipa recebia um montante para fazer face às despesas e não tinha que justificar o que gastava, uma vez que bastava a participação nos campeonatos dos escalões mais jovens do futebol do território.
Com o passar dos anos a situação começou a alterar-se, uma vez que os dirigentes associativos, com apoio do Instituto de Desporto (entidade que despendia a verba), chegaram à conclusão de que “nem todos mereciam” ter acesso ao subsídio total, ou seja, o máximo que era atribuído.
Havia que impor regras, até porque alguns clubes pareciam “desinteressados” do projecto sério que se pretendia implementar na divulgação da modalidade. Desistiam a meio do campeonato; faziam várias faltas de comparência; não se apresentavam em campo com jogadores suficientes; não treinavam; não mostravam em jogo a mínima capacidade para discutir resultados ou desenvolver o futebol; demonstravam indisciplina; enfim, uma série de aspectos negativos que em nada beneficiava a modalidade.

Beneficiar equipas
com projecto sério

Estavam muitos furos abaixo de outras equipas que tinham outro tipo de organização, ou seja, que levavam o projecto mais a sério e gastavam mais dinheiro com isso. Havia que fazer a diferença.
Foi então que Associação e ID, ainda no tempo da direcção da AFM liderada por Chui Vai Pui, se começou a fazer uma selecção das equipas
Que mais trabalhavam para a promoção do futebol jovem. E há que, desde já, falar em nomes: Sport Macau e Benfica, Monte Carlo, Lam Pak, Tim Iec, Tai Tong. Apenas para referir alguns.
Assim, a partir da temporada passada, os regulamentos têm sido mais rígidos e com muitas imposições às equipas, como a obrigatoriedade de fazer testes físicos (muito contestados desde o início da ideia…), beneficiar os clubes com melhores resultados, menos cartões amarelos ou vermelhos.
Quem não cumprisse com os requisitos não tinha direito aos subsídios e não era abrangido cedência de campos oficiais para treinar. O Sport Macau e Benfica e o Monte Carlo, por exemplo, preferiram o ano passado “ficar de fora” do projecto, mas não deixaram de participar, a custos próprios, nos respectivos campeonatos. Os “encarnados”, que tiveram de procurar espaços não-oficiais para treinar, ficaram em segundo lugar e ganharam a Taça.

Campeonato a curto prazo
com prejuízo dos atletas

Os regulamentos também mudaram (para pior, dizem muitos dos dirigentes e treinadores…), tendo-se realizado em 2007 apenas uma volta e uma fase final com os primeiros quatro classificados (meias-finais e final).
Uma prova considerada muita curta, ainda que depois seguida pela Taça de Macau naqueles dois escalões (sub 18 e sub 16), obrigando a uma paragem posterior de vários meses, com prejuízo para o desenvolvimento do jovem atleta.
O problema era (e parece que ainda é) a existência de poucos recintos.
Veio a época de 2007/2008. As velhas questões voltaram a vir ao de cima e ainda com mais protestos dos clubes. A situação é grave, pode dizer-se, porque estamos em Maio e os campeonatos de sub 18 e sub 16 nem sequer começaram. Quando a temporada dos seniores está praticamente no fim.
As competições dos mais jovens deveriam ter início em Setembro, mas a falta de campos, fez adiar o arranque. Parece impossível como ainda se fala em carência de instalações, numa altura em que o território está dotado de infra-estruturas de excelentes condições para quase todas as restantes modalidades.

Esperar vários meses
pelo início da época

Os clubes esperaram meses para que o campeonato começasse. Alguns nunca deixaram de se preparar. Outros preferiram aguardar.
Há cerca de uma semana a Associação de Futebol de Macau publicou, apenas nos jornais chineses, uma notícia sobre o inicio da época e a abertura das inscrições. “Com antecedência de três ou quatro dias”, referiu ao PONTO FINAL, o presidente do Monte Carlo, colectividade que, nessa semana, se sagrara campeão de seniores.
“Os dirigentes associativos parece que andam a brincar connosco. Passaram-se meses de espera e vêm agora decidir em cima da hora? Ainda por cima com imposição de testes sem tempo para os atletas se prepararem? Por isso o Monte Carlo não se inscreveu, assim como mais onze equipas. Enviámos uma carta ao Instituto de Desporto e até agora não obtivemos resposta. É inaceitável que a Associação não tenha um plano para cada temporada. É tudo em cima da hora.”
Firmino Mendonça parece ser o dirigente-líder do protesto de 12 clubes que decidiram não se inscrever para os dois campeonatos (sub 18 e sub 16), como forma de protesto.

Carta explica decisão
e ainda sem resposta

Enviaram uma carta em que explicam as razões da sua discordância, afirmando mesmo que boicotam o programa de formação do futebol juvenil de Macau.
Apontam o prazo curto de inscrições e o critério que consideram fora da realidade para jovens jogadores; o período de jogos coincidente com exames escolares; pouco tempo para treinar; falta de recintos; falta de guias claras para atingir a percentagem positiva dos diferentes testes do programa; a proposta do programa de formação não tem assinatura nem carimbo da entidade organizadora.
Apenas dois aceitaram as inscrições, sendo um deles o Sport Macau e Benfica, mas mesmo assim solidários com os restantes.
Rui Cardoso salienta que o Benfica apoia o protesto das equipas, “mas só se inscreveu porque quer que os atletas joguem”.
“Acima de todas as questões, que consideramos na verdade exageradas por parte dos dirigentes associativos, como por exemplo a forma como se realizam os testes e a razão porque se fazem. No que diz respeito às inscrições nós, Sport Macau e Benfica, também nos sentimos marginalizados, porque não fomos avisados como deveria ser. Só inscrevemos os jogadores porque, como disse, queremos que haja campeonato. Mas concordamos com a maioria dos protestos das equipas.”
As provas de sub 18 e sub 16 (nem sequer os sub 14 foram contemplados, o que se estranha, atendendo a que se trata de um escalão de grande importância para o futuro…), deveriam arrancar já daqui a uma semana, mas pelos vistos fica tudo adiado, uma vez que apenas três equipas estão inscritas para jogar.

Associação vai analisar
IDM tem soluções

Do lado da Associação, um dos seus membros apenas nos referiu que “vai haver uma reunião proximamente para decidir o que fazer com este caso. Os órgãos de comunicação serão informados”.
Mas a nossa reportagem colheu também a opinião de José Tavares, vice-presidente do Instituto de Desporto: “Nós não queremos dizer que a Associação não falhou, porque há de facto erros que têm de ser resolvidos. Mas também não podemos obrigar os clubes a fazer a sua inscrição e participar nos campeonatos. Só não entendo como é que os clubes não tiveram tempo para se inscrever e arranjaram tempo para elaborar a carta que nos enviaram. Vamos reunir na próxima semana, porque esta é dedicada à tocha olímpica, e decidir o que fazer, em colaboração com a Associação de Futebol. Há de facto uma guerra instalada entre clubes e AFM.”
Aquele dirigente adiantou ainda que “os miúdos é que não podem ser prejudicados e por isso estamos já a pensar em alternativas no caso das provas oficiais não se efectuarem. Tentaremos que os jovens jogadores participem em torneios à parte, mesmo com nomes de clubes diferentes. Iremos analisar a situação, isto no caso de se esgotarem todas as possibilidades de um acordo entre a Associação e os clubes.”
Fica-se então à espera de saber como irá acabar mais uma “guerra” no seio do futebol da RAEM.

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