15.5.08

Casa do FC Porto em Macau ascende à II Divisão
Dragões do Oriente fazem história

A Casa do FC Porto em Macau estreou-se este ano no futebol de onze e garantiu a subida. Poderá não ser inédito, mas é certamente pouco vulgar. É a equipa mais portuguesa de todos os escalões. 2-1 ao Ponto 48 e a presença na final do campeonato da III Divisão. Dirigentes prometem investir ainda mais na próxima temporada

Vítor Rebelo
rebelo20@macau.ctm.net

A festa foi de arromba ontem à noite, nas horas que se seguiram ao triunfo, mais um, da equipa da Casa do FC Porto em Macau, que participa no campeonato da III Divisão.
Nas meias-finais da prova, os “azuis e brancos” derrotaram Ponto 48 por duas bolas a uma, depois de ao intervalo estarem já em vantagem por 2-0.
Horas antes do desafio, realizado no relvado da Universidade de Ciência e Tecnologia, ficou a saber-se que afinal apenas duas equipas, as qualificadas para a final, garantiriam a subida à II Divisão. Mas pelos vistos os jogadores não foram avisados:
“Eu soube no próprio dia que só dois iriam subir e nada disse aos meus jogadores”, palavras do treinador Rui Cardoso, já depois da euforia portista e quando o plantel saboreava um merecido “churrasco à brasileira”.
“Fizemos um bom jogo, de entreajuda, contenção e apostámos no contra-ataque. Resultou e até poderíamos ter ganho por maior diferença, uma vez que desperdiçámos boas ocasiões, mesmo actuando com dez elementos.”

Ambições confirmadas
mas além do esperado

Rui Cardoso, um adepto benfiquista e dirigente do Sport Macau e Benfica, que não deixou de abraçar este projecto do “rival” no futebol de Macau, era um técnico satisfeito pelo objectivo cumprido, ao lado do presidente da Casa e um grande portista, António Aguiar.
As ambições eram muitas no início de uma época de estreia nestas andanças do futebol macaense, mas talvez ninguém se tenha arriscado a prever um campeonato da III Divisão com tanto sucesso.
O balanço é de oito jogos na fase de grupos, sete vitórias e somente um empate. Agora, nas meias-finais, mais um triunfo.
“Esta equipa foi formada à imagem do Rui Cardoso e conseguimos aquilo que pretendíamos, ou seja, ascender ao segundo escalão. Claro que tudo isto superou as nossas expectativas, já que não conhecemos até ao momento o que é perder”, salientou António Aguiar, um dos que sofreu ao lado dos jogadores durante o desafio de ontem à noite.

Entrada de rompante
assustou adversário

O FC Porto, como é designado oficialmente na participação no campeonato, entrou bem no jogo e desde logo deu a ideia de que estava ali para “assaltar” uma das vagas de acesso à II Divisão, mesmo pensando que uma derrota não esgotaria o sonho, adiando tudo para um novo jogo entre os derrotados das meias-finais.
No entanto, o triunfo de ontem à noite evitou dissabores, uma vez que, afinal, só duas formações estarão no escalão imediatamente a seguir na próxima temporada.
O conjunto da Casa do FC Porto em Macau até actuou sem um dos seus artilheiros, Pelé, ligeiramente tocado. Rui Cardoso não quis arriscar, mesmo tratando-se de uma das pedras fundamentais ao longo da caminhada azul e branca na fase de grupos.
O ataque portista foi confiado ao luso-francês Jean Peres e ao jovem guineense Francisco Lopes, de 23 anos. O africano acabaria por ser a figura do jogo, ao apontar os dois golos do FC Porto, fazendo assim esquecer a ausência de Pelé.
Mas outros se destacaram com o decorrer do desafio. O guardião João Guedes esteve sempre muito seguro e na segunda metade o angolano Quinzinho ajudou a combater as dificuldades de uma equipa que estava a actuar com dez unidades.

Jean Peres foi expulso
por resposta a agressão

Mesmo assim, pertenceram ao FC Porto as oportunidades mais flagrantes, em sistema de contra-ataque e na vontade de dilatar o marcador.
O primeiro golo dos portistas aconteceu sensivelmente ao quarto-de-hora e o segundo aos 35 minutos, o que veio dar maior tranquilidade.
No entanto, entre um e outro tentos, o avançado Jean Peres foi expulso, depois de uma picardia com um adversário que o pontapeou.
Jean, um ex-jogador do Vá Luen e do Monte Carlo, com grande sentido de baliza, não gostou das entradas violentas e respondeu, o que lhe valeu o cartão vermelho. Só que desde logo houve revolta nas hostes azuis e brancas pelo facto do elemento do Ponto 48 apenas ter visto o cartão amarelo.
Jean vai certamente ser punido com alguns jogos de castigo e assim não vai estar presente na final do dia 21, também uma quarta-feira. A que se juntam as ausências de Fábio Ritchie (de férias) e algumas dúvidas em relação a vários elementos lesionados.
“Foi uma situação normal no futebol, com um jogador adversário a carregar-me e o árbitro a mandar marcar a respectiva falta. Voltei a ser pontapeado e respondi. Depois afastei-me, mas a confusão instalou-se. Vi o cartão vermelho, mas o jogador da equipa contrária apenas teve amarelo. Isto é uma injustiça”, reacção de Jean Peres, que, por outro lado, destaca o bom jogo que o FC Porto fez e “o gozo enorme que me deu voltar a jogar esta temporada e logo pelo FC Porto.”

Vitória merecida
e futuro risonho

Tratou-se de uma partida de bom nível, atendendo ao futebol de Macau a que estamos habituados a ver e ao escalão a que as duas formações dizem respeito.
Mas é caso para dizer que este FC Porto-Ponto 48 não ficou nada a dever a encontros do escalão principal. Houve emoção, equilíbrio no marcador, oportunidades, bolas ao poste para os dois lados. E um justo vencedor.
No final, o presidente da Casa do FC Porto em Macau, António Aguiar, já perspectivava o futuro imediato:
“Acima de tudo vamos lutar para nos mantermos na II Divisão. O primeiro objective da formação do clube era este, a subida. Agora logo se verá, mas iremos tentar continuar a onda de vitórias. Vou conversar com o treinador, que espero que fique, e então delinear o plantel para a próxima temporada. Podemos até reforçar a equipa com chineses da China, mas sempre com uma forte componente portuguesa. O orçamento vai ser superior ao deste ano, nunca fugindo, no entanto, às reais possibilidades da Casa do FC Porto em Macau.”


*****


Aguiar fala sobre notícias de castigo europeu
FC Porto deveria ter recorrido
da decisão do Apito Final

No meio da euforia da subida do FC Porto à II Divisão do futebol do território, a notícia de uma possível ausência da equipa-mãe, FC Porto (de Portugal) na Liga dos Campeões Europeus da próxima temporada.
Tudo por causa do “apito final” que penalizou os portistas em seis pontos.
António Aguiar disse ao PONTO FINAL que “poderá não ser por acaso que estas notícias surgem, havendo por certo outros interessados na penalização do FC Porto.”
“Há de facto regras na Uefa que penalizam equipas nestas circunstâncias, não possibilitando a presença nas provas europeias. Só que o caso remonta à época de 2003-2004 e por isso penso não ser justo o FC Porto pagar cinco anos depois. Nem quero pensar que possa haver um “complot” para pôr fora da Liga o clube.”
António Aguiar, no entanto, é de opinião que Pinto da Costa e seus pares fizeram mal em não recorrer. “Porque é uma atitude de fragilidade, quase uma admissão de culpa. Mesmo que o recurso se atrasasse e levasse à perda de seis pontos no campeonato da próxima temporada.”

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