21.1.08

PRESIDENTE DA AAM DEFENDE MAIS PODERES NORMATIVOS DA PRÁTICA DA PROFISSÃO
Falta Ordem aos arquitectos

De acordo com Nuno Jorge, presidente da Associação dos Arquitectos de Macau (AAM), que celebra o 20º aniversário, "é importante que haja uma associação com força e dignidade." Sem os poderes de uma Ordem, argumenta, é inútil pensar em criar um curso de arquitectura porque não se consegue defender os direitos dos profissionais de Macau a poder trabalhar no território. É que, acusa, o 'boom' da construção tem passado ao lado dos arquitectos locais

Hugo Pinto

No momento em que a Associação dos Arquitectos de Macau (AAM) celebra o 20º aniversário (ou o 28º, se contarmos os anos em que se chamou Associação dos Arquitectos do Sector Privado de Macau), Nuno Jorge, o presidente, defende que é urgente colmatar "uma lacuna" e dotar a associação dos poderes de uma Ordem. Sem os poderes que adviriam dessa estrutura, Nuno Jorge considera que a AAM está limitada a ser "um grupo de amigos, de gente interessada", e afirma mesmo que não faz sentido pensar em criar um curso de arquitectura em Macau se a AAM não fizer parte do processo de acreditação profissional.
"A AAM não é uma Ordem, e não tem poderes de acreditação profissional, não somos parte no processo do registo dos arquitectos, ao contrário do que se passa em todo o Mundo", disse ao PONTO FINAL Nuno Jorge. "Não tendo esse poder, não temos o poder normativo da prática da profissão, não temos o poder de impor um código de ética, não temos poderes disciplinares."
Ainda que seja uma boa ideia, Nuno Jorge considera que um curso de arquitectura em Macau não tem viabilidade neste quadro. "Não me parece que seja uma ideia realista. Para criar um curso era preciso assegurar um número suficiente de alunos e também hipóteses de colocação no mercado de trabalho. E é óbvio que não há."
O responsável critica o facto de o '''boom' de construção não se reflectir nos arquitectos locais na medida em que é feito por arquitectos estrangeiros e passa muito à margem de toda a classe profissional local." Para Nuno Jorge, apesar de nos projectos construídos em Macau costumar figurar um arquitecto local, era importante definir uma percentagem "de conteúdos locais em todos os projectos".
O processo de reestruturação da AAM e da dotação destes poderes, recorda Nuno Jorge, "esteve parado durante muitos anos na gaveta do anterior secretário para Obras Públicas e Transportes [Ao Ma Long], não sei bem porquê."
Lau Si Io, que substituiu Ao Man Long na pasta, "prometeu que ia mexer neste assunto, e confirmou que estava a rever o processo todo. Desta maneira, esperamos por um desfecho mais bem sucedido." O presidente da AAM conta com o resultado desejado este ano, mas não há prazos.
"Este é um passo necessário para a profissão e para Macau. É importante que haja uma associação com força e dignidade. Imagine-se o que seria o desenvolvimento urbano em Hong Kong se o Instituto de Arquitectos não tivesse poderes de acreditação. O Estado não pode fazer tudo. Uma coisa é impor as leis, mas a força moral dos pares é igualmente importante", argumenta.
"Este, para mim, é o grande desafio da AAM, porque sem isso, as posições que tomamos são apenas posições de um grupo de pessoas, profissionais, mas que não têm peso nem junto dos sócios. Não precisamos de mudar o nome da AAM, mas precisamos de ter os poderes de uma Ordem."
Actualmente, a AAM tem 74 membros, mas Nuno Jorge estima que haja cerca de 400 arquitectos em Macau, embora muitos não exerçam a profissão. Para saber o número exacto, era importante ter o poder de registo profissional. "Não temos poderes para chegar a essas pessoas."
No fundo, diz Nuno Jorge, a associação "é um grupo de amigos, de gente interessada, mas de uma forma pouco estruturada."
Este perfil, no seu entender, não serve o actual desenvolvimento de Macau, uma situação "totalmente impossível de imaginar há 20 anos. Ninguém acreditaria se se dissesse que Macau seria aquilo que é hoje", observou.
Em termos de actividades para os tempos mais próximos, a AAM tem agendada a realização de acções de formação tendo em conta os "desafios que a nova situação de Macau exige, em termos de tecnologia e de novos meios." Na calha, revelou Nuno Jorge, está ainda a criação de uma livraria e a organização de um fórum sobre as mudanças climáticas.

CAIXA
Nuno Jorge defende que não se deve mexer na parte antiga da cidade
"Prédio na Calçada do Gaio será mais prejudicial ao Farol da Guia"

A polémica em torno das construções nas imediações da Colina da Guia, como seria de esperar, não tem passado despercebida aos arquitectos. Tendo em conta as construções que estão na origem da discussão - um edifício projectado para a Calçada do Gaio com 126 metros, e o novo edifício do Gabinete de ligação do Governo Central, já em construção no sopé da Colina, com 88 metros -, Nuno Jorge considera que existem "duas questões diferentes" e diz que o primeiro é mais prejudicial à preservação do Farol da Guia.
"Um dos edifícios é do governo chinês e outro é particular. Por outro lado, um está na zona nova da cidade, no Porto Exterior, e outro está na zona antiga da cidade. A terceira diferença, que eu acho muito importante, é que um está numa zona desafogada, com ruas mais largas, mais preparada para esta densidade, e o outro está numa rua estreita, que se calhar não vai comportar esse aumento de densidade."
Assim, diz, "pessoalmente, a mim desagrada-me mais o edifício da Calçada do Gaio e também acho que esse é o mais prejudicial ao Farol da Guia. Uma coisa é mexer na parte velha da cidade, e outra mexer na parte nova. Na parte velha ainda há muitos pontos com a vista para o Farol totalmente desimpedida, enquanto que do lado do Porto Exterior o Farol da Guia está ocultado em muitas frentes."


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REUNIÃO ENTRE AUTORIDADES DE MACAU E CHINA SOBRE FAROL DA GUIA
De Pequim sem novidades

A viagem da delegação do Governo de Macau a Pequim para encontros com dirigentes e especialistas do Gabinete da Administração Estatal do Património Cultural da China, da Comissão Nacional da China para a UNESCO e da Comissão Especializada para o Património Cultural Mundial da China não resultou em novidades quanto à nova legislação e reequacionamento do planeamento urbanístico para a zona da Guia.
De acordo com um comunicado difundido pelo Gabinete de Comunicação Social, as autoridades do continente elogiaram o trabalho do Executivo de Macau. "A partir do momento em que a construção de alguns edifícios na área circundante à zona tampão do Farol da Guia começou a gerar preocupação, o Governo da RAEM foi rápido a reagir, com investigações, estudos e a elaboração de projectos de viabilidade", foi dito à comitiva liderada pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Chui Sai On.
Do lado do Governo de Macau, foi referido que "o reajustamento do plano do desenvolvimento urbano da área periférica à zona tampão do Farol da Guia oferece novas oportunidades ao trabalho de protecção do património mundial".
De acordo com o que foi anunciado, no novo projecto que interligará as zonas do Farol da Guia, Monte de Fortaleza e a costa litoral do Porto Exterior, vão estar incluídos "factores de altura e densidade dos edifícios e outros factores respectivos, para que o planeamento urbanístico não influencie a conexão visual entre os edifícios e a fisionomia urbanística."
Os responsáveis de Macau terão ainda feito uma apresentação sobre os trabalhos preparatórios da nova legislação do património cultural, cuja consulta pública começará em meados de Fevereiro.
No desenvolvimento destes trabalhos, as autoridades da China prometeram "prestar todo o apoio ao Governo da RAEM".

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