10.3.08

Amy Marshall em Macau
Escolhidas as duas coreógrafas
que vão a Nova Iorque


Candy Kuok Soi Peng e Stella Ho Nga Sze foram escolhidas pela coreógrafa americana Amy Marshall, depois de uma audição com 10 candidatos. Em Agosto, vão passar três semanas a Nova Iorque, e no dia 19 de Outubro mostram o resultado no CCM

Marta Curto

"Eu já estou assustada com o que a Amy me disse há pouco sobre Nova Iorque ser uma cidade onde tudo acontece muito rápido, inclusivamente o trabalho. Os chineses trabalham muito devagar, é tudo feito com tempo". Candy Kuok Soi Peng tem 34 anos e foi uma das coreógrafas de Macau escolhidas para ir a Nova Iorque em Agosto, preparar uma peça original com a companhia de dança Amy Marshall. A outra feliz contemplada chama-se Stella Ho Nga Sze e tem 32 anos.
Há um ano, desde que Jacob, o mentor do projecto pelo Centro Cultural de Macau (CCM), e Amy se conheceram, que este projecto anda a ser preparado. "Eu gosto sempre de aprender, de trazer novas ideias às coreografias, de conhecer novas culturas, maneiras de dançar e de pensar", admite Amy, sendo complementada por Jacob. "Nós encontrámos logo objectivos parecidos, formas de pensar parecidas. Eu acho que a Amy é muito boa a nível educacional, que é uma vertente que nós também temos em conta.
O objectivo final é uma performance no dia 19 de Outubro no CCM que misture influências americanas e chinesas, com uma obra da autoria das três coreógrafas, e actuação dos dançarinos da companhia de Dança Amy Marshall, assim como bailarinos locais, que serão seleccionados após um workshop intensivo, entre dia 1 e 2 de Outubro.
Mas mais importante que isso é o processo até chegar ao resultado final. E o processo começou este fim de semana, quando Amy viu as actuações dos candidatos à experiência nova iorquina.
As inscrições tinham começado em finais de Janeiro e dos 13 coreógrafos - amadores e profissionais - que deram o nome, só 10 apareceram no passado Sábado. Dos dez, oito eram mulheres. "A maioria decidiu improvisar, o que é raro. Nos Estados Unidos ninguém improvisaria. Depois fiz uma entrevista, perguntei-lhes o que acham que trariam à minha companhia e porque queriam ir comigo para Nova Iorque", explica Amy, acrescentando que "eu achei que as pessoas estavam ansiosas por aprender algo novo, e também notei que, enquanto nos Estados Unidos, os jovens não sabem muito bem o que anda a acontecer no país, nem o que querem fazer da vida, aqui, a faixa etária dos 18, 20, 23 já tem metas de vida e consegue falar de Macau, da economia, sociedade e cultura".
As audições demoraram um dia e ontem já Amy se sentava no sofá da sala VIP a dar uma conferência de imprensa, ladeada pelas felizes contempladas, Candy e Stella. "Senti logo uma empatia com elas, senti-me em casa e achei que ia aprender imenso com as suas experiências", conta Amy.
Enquanto Candy escolheu o percurso da dança moderna desde os sete anos, Stella dança desde os seis, tendo feito carreira na área da dança clássica chinesa. "Eu já vi o trabalho da Amy no site e acho que ela tem um estilo livre e feliz. Macau é muito tradicional, clássico, e não tem fama de produzir espectáculos de dança muito ambiciosos. Acho que Macau precisa de ganhar personalidade. Eu também integro uma companhia de dança, a Violet Dance Company, e quero trazer mais experiências para partilhar com os meus colegas".
Candy sempre quis conhecer Nova Iorque. É uma apologista de experiências no estrangeiro e já esteve em Paris, Londres, Índia e Viena, onde colaborou com diversas companhias de bailado. "Há muito tempo que eu quero conhecer Nova Iorque, já me disseram que havia lá todos os cursos, mesmo aqueles que nem se imaginaria existirem. Para além disso, também tenho uma companhia de dança com um colega, a Comuna de Pedra Arts and Culture Association, mas tenho dificuldade em juntar todas as ideias numa só obra de coreografia. Quero entender como a Amy trabalha para ser melhor no meu trabalho em Macau".
Talvez por ter já alguma experiência em trabalhos no estrangeiro, Candy é a que se mostra mais 'realista' em relação ao projecto de Nova Iorque. Admite que, antes de ir, ainda terá de se preparar física e psicologicamente. Para além disso, quer conhecer melhor o que anda a acontecer em Macau para não levar só as suas experiências para a Big Apple.
"A melhor maneira de eu me preparar para a viagem é treinar mais, dançar mais, ter material para sugerir à Amy", admite, por sua vez, Stella.
No meio das duas, Amy adianta que ainda não se trocaram ideias concretas e que tudo pode acontecer em Nova Iorque. "Ainda quero ver vídeos com os trabalhos delas, mas estou ansiosa por começar a trabalhar. Eu e a minha companhia. Muitos deles nunca saíram dos Estados Unidos, portanto isto vai ser uma experiência inédita e enriquecedora para nós a vários níveis", explica.

Construir um público

"O ballet clássico ou a dança tradicional chinesa têm mais público, mas nós queremos educar as pessoas. Sabemos que as bilheteiras esgotam quando são espectáculos conhecidos, mas há muito menos público quando se apresenta dança contemporânea, algo que as pessoas não estão certas de que irão gostar. Isso acontece no mundo inteiro", explica Jacob. Essa foi também uma das razões para Amy ter sido escolhida para o projecto. A sua companhia de dança faz frequentemente performances em escolas, de forma a incentivar os mais jovens - o público do futuro - a conhecer a dança moderna. "Se eles levarem os pais a ver estas actuações, já não é mau. Nos Estados Unidos é muito complicado colocar uma actuação de dança moderna numa sala de espectáculos. No máximo, eles porão uma performance deste género no programa anual, porque não têm a certeza de que irá vender e portanto preferem jogar pelo seguro", adianta Amy. Esta é uma das lutas de Amy, nos Estados Unidos, e de Jacob, em Macau. E coincidência ou não, a verdade é que as duas coreógrafas seleccionadas também estão muito viradas para o lado promocional e educacional da dança.
Em Outubro, aquando a visita da companhia Amy Marshall a Macau, estão igualmente previstas visitas às escolas do território, com a intenção não só de divulgar a dança moderna junto dos jovens, mas também de levar mais público ao espectáculo de dia 19. "Eu penso que esta actuação só acontecerá uma vez, cá em Macau, e duvido que seja levada até uma sala americana. Mas essa é a parte boa da coreografia: o processo é que é interessante. E nós iremos documentar tudo. Durante aquelas três semanas iremos trabalhar das nove da manhã às cinco da tarde e tudo será filmado", explica Amy.
A coreógrafa americana admite que a sua companhia já encetou iniciativas como esta, mas nunca fora dos Estados Unidos. A Ásia pode ser a primeiro de muitos projectos do género, mas não é só por ser pioneiro que é marcante. "Os meus pais viveram no Japão, onde eu acabei por nascer. Cresci a comer comida japonesa e sinto-me em casa cá. Aliás, mal cheguei a Hong Kong senti logo que fazia sentido eu estar ali".
Amy admite que, até a nível mundial, é raro existirem projectos com estes moldes e que é uma pena, porque "a dança é uma excelente forma dos povos comunicarem entre si ".

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