24.3.08

Kuomintang no poder com objectivo de aproximação à China, o que pode prejudicar turismo de Macau
A revolução que virá de Taiwan

Oito anos depois de Chen Shui-bian ter interrompido um período de 51 anos de governação do partido Kuomintang em Taiwan, esta força política volta agora ao poder com promessas de transformar a ilha numa "Suíça do Oriente" e de maior aproximação à China

A vitória de Ma Ying-jeou nas eleições presidenciais de sábado em Taiwan vai, caso o presidente eleito cumpra o que prometeu durante a campanha eleitoral, provocar uma "revolução" no sudeste asiático e, por consequência, algumas alterações no mundo da economia globalizada.
As promessas de aproximação a Pequim, com o estabelecimento de voos directos no estreito da Formosa, a criação de um mercado comum entre a República da China (Taiwan) e a República Popular da China e a maior abertura ao turismo chinês não vão passar despercebidas na região e no mundo.
A popularidade conquistada na campanha - muito concentrada na repetição das promessas do Kuomintang nas eleições legislativas de Janeiro que deram uma esmagadora vitória ao partido - fazem de Ma Ying-jeou o homem que vai ditar o calendário político ao qual Pequim terá de responder.
Actualmente, um cidadão de Taiwan que pretenda ir para Pequim tem de "comprar lugar" num avião para Macau, Hong Kong ou Coreia do Sul e, depois de ver o seu voo mudar de número, seguir para a capital chinesa, numa viagem que demora, em média, o dobro do que poderia tardar se os aviões cruzassem directamente o estreito de Taiwan. E o mesmo se passa com o comércio bilateral.
Actualmente só existem algumas ligações marítimas entre as ilhas de Kinmen e Matsu (muito próximas do continente) e portos da província de Fujian, francamente diminutas para os contactos indirectos bilaterais existentes.

Aproximação económica

O antigo presidente da Câmara Municipal de Taipé - um cargo que representa talvez o maior trampolim político do país - acabou por vencer folgadamente as eleições, como previam vários analistas.
As propostas do presidente eleito são (e podem ser entendidas como tal embora não tenham esse nome), um primeiro passo para a reunificação chinesa, o grande objectivo de Pequim e cujo processo foi iniciado a 1 de Julho de 1997 com a devolução, pela Inglaterra, de Hong Kong à administração chinesa, seguindo-se o retorno de Macau à "mãe-pátria" a 20 de Dezembro de 1999.
Qualquer aproximação entre os dois lados terá sempre, numa primeira fase, de ser económica, de se mostrar benéfica para as duas partes em termos práticos e nada como as ligações aéreas directas e o mercado comum para potenciar essas vantagens comuns.
O estabelecimento de voos directos, simbolicamente a 1 de Julho, a data do regresso de Hong Kong, a terra natal de Ma Ying-jeou, à soberania chinesa, pode não ter um grande impacto numa primeira análise, já que se trata de voos charter a realizar ao fim-de-semana. No entanto, estes voos serão um teste para as ligações regulares e, essas sim, vão ter impacto regional, principalmente em Macau e Hong Kong.
Os princípios de um eventual mercado comum não estão ainda definidos mas é certo que também neste ponto os dois lados terão muito a ganhar. Pequim conquista livremente o investimento de Taiwan e as empresas da ilha beneficiam de um mercado mais barato de mão-de-obra que pode ajudar na revitalização económica tão desejada. Por outro lado, o consumo de Taiwan terá muito a ganhar com produtos mais baratos oriundos do continente e que as ligações directas irão proporcionar mais (produtos) por menos dinheiro.

Pior para Macau

Já no campo do turismo, Ma Ying-jeou quer abrir a porta a 10.000 turistas continentais por dia num prazo de quatro anos, um número que poderá ser pequeno no contexto chinês ao traduzir 3,6 milhões de pessoas anualmente, mas que rapidamente poderá tornar-se num bom rendimento para a ilha Formosa devido ao crescimento do poder de compra no continente.
A grande interrogação em relação às políticas preconizadas por Ma Ying-jeou é a sua aceitação de Pequim, já que será impossível evitar efeitos negativos nas economias de Macau e Hong Kong, com o impacto a fazer-se sentir mais no antigo território sob administração portuguesa.
Por um lado, a Air Macau, companhia de bandeira local que tem acumulado elevados prejuízos nos últimos anos, tem a sua operação fortemente concentrada no mercado de Taiwan, ou seja, no transporte de pessoas entre Taiwan e o continente chinês, um mercado que também tem uma expressão considerável em Hong Kong, embora as companhias da antiga colónia britânica possuam muito maior capacidade de resposta a uma mais que provável perda de passageiros.
Já no campo das transacções comerciais, poderá ser Hong Kong a mais afectada, porque o seu porto é um dos mais concorridos da região e por lá passaram muitos dos produtos destinados à China e a Taiwan.
Os próximos meses serão cruciais para verificar o que Ma Ying-jeou quer mesmo apresentar aos seus "irmãos" do continente e de que forma serão capazes Macau e Hong Kong de reagir ao namoro do estreito da Formosa.

CAIXA
Não haverá visita à China "num futuro próximo"

O próximo presidente de Taiwan, Ma Ying-Jeou, eleito sábado com perto de 60 por cento dos votos, repetiu ontem que vai promover melhores relações com a China, que não tem a intenção de visitar “num futuro próximo”. “Não tenho qualquer projecto para visitar a China num futuro próximo”, disse Ma Ying-Jeou, durante uma conferência de imprensa em Taipe.
“Desejamos trabalhar sobre questões de fundo. Se o conseguirmos fazer, então vamos avaliar a oportunidade de uma visita de alto nível”, acrescentou.

CAIXA
Referendos sobre adesão à ONU falharam

Os dois referendos sobre a adesão de Taiwan às Nações Unidas sob o nome de Taiwan ou “outro mais conveniente” como propunham, respectivamente, o Partido Democrático Progressista no poder e o Kuomintang falharam, revelou a comissão eleitoral.
De acordo com os resultados divulgados pela comissão central eleitoral, apenas 35 por cento dos eleitores inscritos participaram nos referendos, o que invalida as consultas populares por não terem pelo menos 50 por cento dos votos.
Os dados oficiais apontam para que na eleição presidencial, que decorria em simultâneo com os referendos, votaram 75 por cento dos 17,3 milhões de eleitores.
O falhanço dos referendos, condenados pela China e pela comunidade internacional, é mais uma vitória para o partido Kuomintang que, apesar de ter também elaborado uma pergunta, preferia a não realização da consulta de forma a não afrontar Pequim.
Taiwan (ou República da China, de acordo com a designação oficial do território), deixou a cadeira das Nações Unidas em 1971 quando Taipé foi substituída por Pequim naquela organização e, desde então, tem vindo a pressionar a comunidade internacional para voltar a ser aceite.
A política mundial de reconhecimento de uma só China, ao mesmo tempo que defende o "status quo" da ilha e a paz no estreito da Formosa, tem permitido que Taiwan viva, de facto, como um país independente, embora a comunidade internacional aceite a pretensão chinesa da existência de uma única China, a China Popular.


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Académico e deputados olham para eleições de Taiwan como exemplo para Macau
Sem consciência política
não há eleitores


Larry So, professor no Instituto Politécnico de Macau, olha para as eleições presidenciais que se realizaram este sábado em Taiwan como um exemplo e uma referência para futuras eleições em Macau. O académico nota sobretudo a elevada participação da população no escrutínio. Segundo a Lusa, votaram nas eleições presidenciais cerca de 75 por cento dos 17,3 milhões de eleitores da ilha.
Em declarações à TDM chinesa, Larry So justifica a elevada taxa de participação pelo facto de estas terem sido umas eleições extremamente politizadas, estando de um lado (o que acabou por vencer) um discurso de aproximação à China, mas mantendo a tónica na independência do território e, por outro, um discurso radical de total oposição à aproximação entre os dois lados do Estreito da Formosa.
Conforme Larry So observa, todas as eleições em Taiwan são marcadas por fortes pontos de vista políticos, com os candidatos a abordarem vários tópicos que assumem fortes significados e impactos. Este tipo de politização de várias questões, comenta o académico, é revelador das posições dos candidatos, e tem a virtude de fazer a população interessar-se pelo debate político, ao mesmo tempo que permite um maior conhecimento.
É neste aspecto que Larry So espera que Macau aprenda com Taiwan. Ou seja, considera o professor, em Macau o debate político é diminuto comparado com o da ilha.
Numa altura em que o Governo da RAEM tem em curso uma reforma dos três diplomas eleitorais - que poucos ou nenhuns efeitos terá, na prática, neste aspecto -, Larry So acredita que a promoção da participação da população nos assuntos da política é benéfica para o desenvolvimento da Macau. Ou seja, argumenta, essa participação vai permitir aos cidadãos uma maior consciência política. No entanto, conclui, essa consciência vai depender quase na totalidade do papel que a educação cívica desempenhar.

Deputados elogiam cidadãos

No mesmo sentido, também os deputados Leong Heng Teng e Ng Kuok Cheong consideram que o elevado número de votantes nas eleições de Taiwan se deve à consciência dos cidadãos.
Em declarações à TDM chinesa, Leong Heng Teng afirmou que o Governo de Macau tem a responsabilidade de explicar melhor à população as políticas que pretende implementar, por forma a que as pessoas adquiram a consciência e o interesse nos problemas e suas resoluções.
Ng Kuok Cheong, por seu turno, também em declarações ao canal, considerando "normal" a participação dos eleitores em Taiwan, disse que tal se deve ao desenvolvimento constitucional da ilha.
O deputado aproveitou para dizer que, se em Macau houvesse mais deputados eleitos pela via directa na Assembleia Legislativa - uma ideia que o deputado frequentemente retoma -, o número de votantes nas eleições teria um crescimento de dois dígitos.


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Macau tem um papel a cumprir
na aproximação das duas partes


Ieong Wan Chong, vice-presidente da Federação das Famílias para a Paz Mundial e Unificação, considera que Macau pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento das relações entre a China e Taiwan. Em declarações à TDM chinesa, Ieong afirmou que, pelas intenções expressas durante a campanha presidencial, o candidato vencedor, Ma Ying-jeou, pode levar a relação entre a ilha e o continente no bom caminho.
No entanto, alerta, tal não acontecerá no curto prazo, pelo que será mais prudente não acalentar demasiadas expectativas. Na sua opinião, o que acontecerá é um contínuo aumento das relações entre as duas partes.
Neste sentido, Macau, enquanto plataforma, pode desempenhar um papel importante não só em termos comerciais, mas também ao nível cultural, ao mesmo tempo que pode servir como um palco neutro para encontros entre responsáveis políticos chineses e taiwaneses.
Considerando este cenário, Ieong Wan Chong também é da opinião de que a Federação das Famílias para a Paz Mundial e Unificação pode ter bastante utilidade como entidade promotora e coordenadora.

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