28.4.08

Duas exposições de artistas locais estrearam sexta-feira na capital de Guangdong
Macau contemporânea em Cantão

Na passada sexta-feira, o Museu da Academia de Belas Artes de Cantão foi tomado por artistas de Macau. Além da estreia de exposições de duas associações locais (Armazém do Boi e Cut Association), também o grupo de teatro A Comuna de Pedra apresentou a peça "Listening to The Wind ". E, claro, desde 28 de Março que o primeiro andar do museu é quase inteiramente ocupado pela monumental exposição de Mio Peng Fei e Un Chin Iam.
Alice Kok, curadora assistente da exposição organizada pelo Armazém do Boi, "Emulação e Verdade", explicou ao PONTO FINAL que, com esta mostra, "queríamos mostrar qual é a situação dos artistas e da arte em Macau."
O tema, "Emulação e Verdade", sugere algo como fingir ou imitar. "Como artistas, sentimos que isto corresponde ao que está a acontecer em Macau."
A maioria dos 15 artistas seleccionados apresentou trabalhos "directamente relacionados com a situação de Macau". Isto é, "casinos, arquitectura e a mentalidade reinante." As cópias mastodônticas, os epítetos como Las Vegas do Oriente, as gôndolas de centro comercial...
Todas as disciplinas artísticas serviram para retratar esta Macau. James Chu, por exemplo, levou fotografia. Bianca Lei e Gigi apresentam pinturas, e Frank Lei, fora do habitual - a fotografia -, expõe uma escultura.

Arte para os estudantes

A Academia de Belas Artes de Cantão fica na cidade universitária, um complexo localizado a 40 minutos do centro da capital da província de Guangdong. "É como uma grande aldeia, onde ficam todas as universidades", ilustra Alice Kok.
O facto de o Museu ficar, assim, afastado das rotinas da maior parte dos quase 7 milhões de habitantes de Cantão, faz com que se torne "difícil alguém se deslocar à cidade universitária de propósito para ver a exposição."
No entanto, a exposição está próxima de milhares de estudantes que diariamente dão vida à cidade universitária. Particularmente próxima dos 5 mil alunos das Belas Artes, nota Alice Kok. "É significativo para os artistas de Macau poderem mostrar os seus trabalhos aos estudantes de arte de Cantão." E foram eles que encheram o Museu na estreia.


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A arte do segundo sistema

Hugo Pinto

"Houve algumas diferenças entre as organizações." De forma simples, é assim que Alice Kok, curadora assistente da exposição "Emulação e Verdade", que estreou na passada sexta-feira no Museu da Academia de Belas Artes de Cantão, descreve a relação entre os convidados e os anfitriões.
Todos rumaram a Cantão com o mesmo objectivo - mostrar que arte se faz na Macau contemporânea. O que encontraram, no entanto, foram reminiscências de outros tempos.
"Em Macau, todas as associações são apoiadas pelo Governo, mas não são controladas ou geridas pelo Governo. Acontece que a Academia de Belas Artes de Cantão é administrada pelo Estado chinês", explica Alice Kok. "Isso leva a uma forma de lidar diferente da nossa. Digamos que no nosso modo de funcionamento há mais livre arbítrio. Ou seja, podemos apresentar o que queremos, o que sentimos."
Nesta exposição, continua, "apercebemo-nos de que na Academia tudo tem que passar pelos dirigentes. Ou, como os chineses dizem, numa linguagem comunista, pelos 'líderes superiores'. Apercebemo-nos também de que teríamos que concordar com este modo de funcionamento. Teríamos que ser aprovados pelos 'líderes'".
No entanto, não se pense que os "superiores" examinaram de lápis azul os conteúdos de cada uma das obras apresentadas pelos artistas de Macau. "Já tinham as informações sobre cada obra que nós enviámos, as descrições e explicações dos próprios artistas. Na verdade, não se mostraram minimamente preocupados com o teor dos trabalhos."
Aquilo que mereceu maior atenção foram os conteúdos que serviam de introdução à exposição - a forma como o evento era apresentado ao público. "O catálogo, os convites. Prestaram uma atenção meticulosa a tudo isto, até ao detalhe da forma das vírgulas, se o chinês tradicional, se o simplificado", descreve. "A apresentação da exposição tinha que caber dentro do padrão usado no continente. É claro que não discutimos por causa deste tipo de coisas, mas sentimos que havia muitas diferenças."
Frustrante mesmo, conta Alice Kok, foi o facto de o texto que Frank Lei, director do Armazém do Boi e curador desta exposição, escreveu para apresentar os trabalhos na inauguração não ter sido aprovado. "Decidiram que o texto deveria ser alterado e eles próprios fizeram essa alteração. Ficou uma coisa completamente diferente. Nós achámos isso estranho, não compreendemos, mas, para eles, é um mero procedimento. Querem ser mais formais e oficiais. É assim..."

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