Apoio à tocha marca início da Associação de Intercâmbio Sino-Lusofonia de Macau
"Queremos ser uma associação diferente,
sem reivindicações, nem armas"
Marta Curto
"Queremos ser uma associação diferente,
sem reivindicações, nem armas"
Marta Curto
"Vamos estar presentes na partida da passagem da tocha por Macau, no dia 3, para mostramos a nossa gratidão para com a China. Estaremos unidos com camisolas iguais e todos os países lusófonos vão levar uma bandeira do seu país, Moçambique, Guiné-Bissau, Timor, Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé, Angola". Esta é a primeira iniciativa pública da Associação de Intercâmbio Sino-Lusofonia de Macau, cujo vice-presidente é Fernando Gomes, mais conhecido como médico, vice-presidente da Associação dos Médicos dos Serviços de saúde de Macau.
A Associação nada tem, no entanto, a ver com medicina, mas mais com laços culturais entre os países lusófonos e a China. "Sentimos necessidade de criar uma associação que aproximasse as culturas, que mostrasse a essência de cada país lusófono e servisse de elo entre as comunidades lusófonas e a China", explica o vice-presidente, acrescentando considerar que as associações dos vários países lusófonos estão muito viradas sobre si, algumas até com dificuldades em aproximar-se com a comunidade chinesa. Existe o Fórum de Cooperação Económica também, entre países lusófonos e a China, mas "está muito condicionado para o lado comercial das relações entre os países".
A associação foi criada no dia 25 de Abril, "porque a data marca um virar de página para Portugal e para os países lusófonos", e o apoio dado à passagem da tocha olímpica por Macau será a sua primeira iniciativa, igualmente com um elevado simbolismo. "É a primeira actividade pública porque achámos que era uma excelente oportunidade de apoiar o esforço e atenção que a China tem dado aos Jogos Olímpicos. Uma coisa é o político, outra é o desportivo, e devem ser discutidos em corredores diferentes. Ninguém é perfeito, a perfeição é inatingível".
E a Associação de Intercâmbio Sino-Lusofonia de Macau nada quer com a política, prova disso é que, até agora, só tem os corpos gerentes como sócios. "Esta é uma associação aberta e claro que queremos ter mais sócios e pessoas disponíveis, mas não somos uma associação sindical, não queremos sócios como armas, não queremos reivindicar nada. Há aí muitas associações que aparecem e depois desaparecem, há sempre aquelas querelas, guerras. O que queremos é mostrar, aproximar. Não estamos ali a ganhar nada nem a fazer política".
Os corpos gerentes são formados por 21 pessoas na Direcção, sete na Assembleia Geral e outros sete no Conselho Fiscal. Entre eles está o presidente, Fong Hong Vai, "funcionário público português de etnia chinesa que esteve dois anos a ter formação em Coimbra", o advogado Nuno Simões, presidente da Assembleia Geral, e o médico Miguel Trovoada. Existe também um mecenas anónimo, "a seu tempo ele há se apresentar, se assim o entender", amigo do presidente da associação, que apoiou financeiramente o projecto e cedeu o espaço, com uma área de dois mil metros, que servirá de sede da Associação.
"O espaço, ali para os lados da Almirante Lacerda, ainda está em obras de restauro mas gostávamos de ter tudo pronto a tempo do Euro 2008, de forma a juntar as pessoas para verem os jogos de Portugal. Será uma sede aberta às outras comunidades lusófonas, já que queremos dar vida ao espaço. Por outro lado, achamos que a língua é uma dos pontos essenciais da cultura e, por isso, estamos a pensar em organizar cursos de chinês e português para os interessados".
Antes disso, está programada a tomada de posse da direcção da Associação que Fernando Gomes admite que gostaria de ver realizada a dia 10 de Junho, dia de Portugal. "Mas isso pode ser complicado, já que nesse dia também o consulado irá fazer a sua recepção, onde alguns dos corpos gerentes da Associação estarão presentes". A data alternativa é dia 24 de Junho, dia de Macau.
Como tudo começou
Foi com um jogo de futebol. "Eu e o Fong Hong Vai já nos conhecemos há algum tempo e achámos que devia haver um espaço que conseguisse aproximar as duas comunidades no aspecto cultural e desportivo. Surgiu então uma oportunidade, através das relações do presidente. Uma federação de associações de Hong Kong fez-nos o convite para participarmos num jogo de futebol de onze". Isso aconteceu há um ano e meio e a equipa de Macau, organizada por Fong e Fernando Gomes, pretendia ser o mais heterogénea possível, nomeadamente a nível de países de expressão portuguesa. "Passados uns meses, a Federação de Hong kong, decidiu organizar um campeonato maior em que estariam presentes quatro equipas, uma de Macau, outra composta pelo corpo diplomático de Hong Kong, uma terceira da Comissão Executiva da Assembleia Legislativa de Hong Kong e uma última da Federação de associação de Hong Kong, sendo que a idade mínima era de 40 anos. Faz um ano agora". Macau decidiu apresentar uma equipa dos "VIP de Macau". Pela RAEM jogaram, entre outros, Jorge Humberto, de 68 anos, como capitão e treinador da equipa, Mário e Humberto Évora, o deputado José Pereira Coutinho, o advogado Nuno Simões, Nuno Figueiredo e Vítor Morais Alves, ambos do Banco Nacional Ultramarino. "Ficámos em terceiro lugar, perdemos para a Assembleia Legislativa mas ganhámos o corpo diplomático". O resultado podia ter sido melhor, mas a verdade é que estes jogos mostraram que uma união entre a China e os países lusófonos era possível. Tanto que, um ano depois, foi criada a Associação de Intercâmbio Sino-Lusofonia de Macau.