Especialista chinês em política comparada deu palestra no IIUM
"A China ainda não é uma superpotência
ao nível do Estados Unidos"
Quansheng Zhao, especialista em política comparada, considera ser cedo para equiparar a China aos Estados Unidos no panorama político internacional. Mas diz que o gigante asiático está no bom caminho. O Docente da American University esteve ontem no Instituto Inter-Universitário de Macau
Rui Cid
"A China ainda não é uma superpotência
ao nível do Estados Unidos"
Quansheng Zhao, especialista em política comparada, considera ser cedo para equiparar a China aos Estados Unidos no panorama político internacional. Mas diz que o gigante asiático está no bom caminho. O Docente da American University esteve ontem no Instituto Inter-Universitário de Macau
Rui Cid
As questões sabiam-se à partida: a China está próxima de ser a principal superpotência? Como olham os Estados Unidos para a ascensão chinesa? Poderão os dois países coabitar no poder?
Durante cerca de uma hora, na biblioteca do Instituto Inter-Universitário de Macau (IIUM), 20 pessoas ouviram, atentamente, este especialista em política comparada explicar que é precipitado considerar que a China será a curto prazo a principal superpotência a nível mundial.
O professor da American University defende que a China tem, ainda, vários problemas internos para resolver, como a existência de um só partido, o pouco desenvolvimento de bancos e serviços, a falta de políticas ambientais e sobretudo a "enorme" diferença económica entre as zonas costeiras e o interior.
Para Quansheng Zhao os Estados Unidos têm a tradição de rotular um país como a "próxima ameaça" à sua liderança internacional, e é essa a ideia que transparece para a opinião pública: "É mais percepção do que realidade. Nos Estados Unidos metade das pessoas pensa que a China anulará rapidamente a distância que tem para a América, mas apenas 2% dos especialistas em politica chinesa a viver nos Estados Unidos acreditam que isso será conseguido nos próximos dez anos."
Fazendo uso de uma análise dos Produtos Internos Brutos e às capacidades militares convencionais - número de tropas, tanques, aviões e submarinos - dos dois países de 1990 a 2005, o investigador diz que a China está, apesar de tudo, a encurtar distâncias, e que por esse ponto de vista é justo afirmar que este país está numa fase de ascensão que tem tendência para continuar.
Mais vale prevenir que remediar
Ao contrário do que defendem algumas correntes que consideram inevitável um confronto entre Estados Unidos e China, o professor Quansheng acredita que a coabitação dos dois países no domínio da cena internacional é possível, apesar de admitir que normalmente há conflitos quando se assistem a transferências de poder: "Quando há duas potências em jogo, qualquer mal entendido pode ter consequências muito graves."
Para isso não acontecer, o docente propõe um conjunto de medidas preventivas, de forma a que se estabeleça uma confiança mútua: "É fundamental que se deixe de encarar o sucesso de uma parte como o insucesso da outra", argumenta Quansheng Zhao. O professor defende que os países dominantes devem evitar a todo custo participar em intervenções militares, assim como trabalharem para definir uma política externa que seja consensual internamente. Outra medida que o especialista em política internacional destaca é o intercâmbio de estudantes, logo nos primeiros anos de escolaridade, de forma a haver um conhecimento e aceitação da "outra" cultura, formando (ou alargando) "bases comuns".
O papel de Macau
Já no período em que respondia a perguntas da audiência, Quansheng Zhao disse que Macau tem tido um papel importante nas relações da China com os Estados Unidos, uma vez que o território é a prova de que o Ocidente e o Oriente podem conviver. "Macau, Hong Kong e Taiwan, locais onde milhares de chineses experienciam o capitalismo, mostram à China que este modelo pode funcionar."
Questionado sobre se a recente abertura que os governantes tinham mostrado em consequência do terramoto de Sichuan significava uma mudança de mentalidades na China, ou se seria apenas a proximidade dos Jogos Olímpicos a provocar esta atitude, o professor considerou que existe, de facto, uma nova mentalidade no seu país, onde "finalmente se começa a dar o valor devido à vida humana", e onde os governantes começam a "perceber que a transparência é o caminho a seguir". A terminar, Quansheng Zhao deixou uma mensagem optimista: "A China está a seguir o caminho da modernidade."