22.5.08

Governo e concessionárias do jogo reuniram pela primeira vez desde a liberalização do sector
Venetian contra o resto do mundo

Stanley Ho acusou Sheldon Adelson, patrão da Las Vegas Sands (LVS), de querer “controlar Macau por terra, mar e ar.” Stephen Weaver, da LVS, discorda e diz que a companhia promove a qualidade.O Governo promete encontrar consensos.

Alfredo Vaz

À saída do encontro houve um ponto de concordância: a reunião foi produtiva, já devia ter acontecido há mais tempo, e os encontro são para repetir. Aliás, a criação de uma associação dos operadores de jogo é uma ideia com quase três anos e foi avançada por Stanley Ho, segundo disse o próprio à imprensa. E só não se materializou antes porque “o senhor Adelson recusou-se a juntar-se a nós”, acusou Stanley Ho.
As declarações do antigo detentor do monopólio do jogo na RAEM resumem o ambiente das quase duas horas de encontro entre o Executivo e as operadoras do jogo, o primeiro a juntar todas as partes em torno da mesma mesa em quase seis anos de liberalização do sector: um encontro necessário, franco, mas pouco consensual.
Em cima da mesa duas propostas: uma para fixar o número máximo de mesas de jogo; uma outra para estabelecer um tecto das comissões a pagar aos chamados ‘junkets’ os promotores e angariadores dos principais jogadores – os ‘high-rollers’ – a principal fonte de receitas dos casinos.
A necessidade de se fixar um ‘tecto’ para as comissões é relativamente consensual, embora as propostas de valores variem de operadora para operadora. O valor mais alto no mercado, 1,38 por cento, é pago pela Melco PBL Entertainment (Casino Crown) à agencia de Hong Kong A-MAX. Stanley Ho propôs na reunião de ontem um valor máximo de 1,25 por cento, e o magnata acusou a Las Vegas Sands (Sands Mação e Venetian Macao) de querer inflacionar o mercado das comissões, prometendo valores na casa do um e meio por cento.
Menos consensual é a fixação do número máximo de mesas nos casinos da RAEM; Stanley Ho avançou com um limite de seis mil mesas (mil por operadora licenciada), mas acusou Sheldon Adelson de querer “mais 20 ou 30 mil.” Stephen Weaver, presidente para a Ásia da Las Vegas Sands Corp. Diz que tem de haver uma relação entre a qualidade da oferta e os números da procura:”O Venetian atrai quase dois milhões de visitantes por ano, uma estrutura destas requer mais casinos, mais mesas. Mas com base na qualidade da oferta”, defendeu o responsável.

“O momento adequado para um
papel mais activo do Governo”


Durante o encontro o Secretário recordou que o Chefe do Executivo, no mês passado, durante a deslocação à Assembleia Legislativa para resposta às questões dos deputados, indicou algumas orientações para o desenvolvimento da indústria do jogo. O mesmo responsável disse que durante a reunião foi possível entender que a comissão dos promotores e o número de mesas de jogo são, actualmente, os aspectos mais relevantes, anunciando que, depois de ouvidas as partes presentes no encontro “a definição do valor máximo de 1,25% para os promotores de jogo foi praticamente consensual, enquanto o número de mesas encontrou mais divergências.
Francis Tam salientou que o governo está atento à questão recente da concorrência nas salas VIP e, como responsável pela gestão, vai garantir o desenvolvimento sustentável da indústria de jogo através de um funcionamento ordenado do respectivo mercado e ajustado às necessidades sociais.
O Secretário lembrou que, volvidos mais de quatro anos sobre o início da liberalização do sector do jogo e entrada em funcionamento da primeira nova operadora, com as concessionárias ainda à procura do caminho e direcção certa para a exploração do mercado, o sector tem hoje seis concessionárias a operarem cabalmente: “O governo tem acompanhado de perto e com grande atenção o evoluir da indústria do jogo ao longo destes quase cinco anos, considerando agora o momento adequado para assumir um papel mais activo e preponderante para assegurar um desenvolvimento saudável”, observou o Secretário. Francis Tam indicou, entretanto, que se o governo chegar à conclusão que as orientações propostas para auto-regulação do sector não surtem efeito, poderá eventualmente vir a definir, futuramente, disposições administrativas ou legislativas. Francis Tam disse que os resultados da reunião de ontem à tarde serão agora alvo de análise por parte da Comissão do Jogo, que deverá avançar com propostas de definição quanto ao número máximo de mesas e um tecto para as comissões a serem pagas aos angariadores. O Secretário prevê que o Executivo possa voltar a reunir com as concessionárias dentro de aproximadamente um mês. Antes do início dos trabalhos, os presentes aguardaram um minuto em silêncio em memória das vítimas do sismo de Sichuan.


*****


Stanley Ho ‘ataca’ patrão da Las Vegas Sands Corp
“Adelson tenta controlar Macau”

O ambiente da reunião foi cordial, mas as acusações ‘ouviram-se alto’ no final dos trabalhos. Stanley Ho acusou Sheldon Adelson de se recusar a reunir com os pares, de ser “pouco flexível”, de querer “controlar Macau” e de ter “ideias megalómanas”. Com Adelson ausente do encontro de ontem, coube a Stephen Weaver, o presidente para a Ásia da companhia norte-americana, defender os interesses da empresa, negando que a Sands está a boicotar os trabalhos e que se rege pelos princípios da qualidade dos produtos que oferece.
No entanto Stanley Ho queixou-se do encontro ser tardio: “Apresentei uma proposta ao Executivo nesse sentido há dois ou três anos. Está na altura de formarmos uma associação entre os operadores do jogo. Na altura todos concordaram, à excepção do Sands, o senhor Adelson recusou juntar-se a nós”, acusou Stanley Ho.
Ho diz que Adelson é sempre do contra :”porque ele tenta controlar Macau: por terra, por mar, pelo ar. Veja, ele quer forçar o governo a ter 20 a 30 mil mesas de jogo, o que significa mais dez casinos,
Isto não faz sentido. A única forma de controlar esta competição de ‘cortar à faca’, esta competição louca, é controlando duas coisas: o número de mesas de jogo – eu propus um máximo de seis mil mesas. Las Vegas têm 3800....seis mil é mais do que suficiente. A minha proposta é que cada concessionária tenha um máximo de mil mesas. Mas eles objectaram de forma veemente. Quatro das operadoras concordaram com a minha proposta, e a outra (que não identificou também) não se opôs. Apenas a Las Vegas Sands discorda desta minha proposta”, considerou Stanley Ho.
Quanto às comissões a pagar aos angariadores, Ho defendeu que é preciso haver um mecanismo de controle, porque as que são pagas actualmente “são demasiado elevadas. A Melco PBL para 1,38 por cento e a Venetian está a tentar elevar para um e meio por cento. Na reunião propus 1,25 por cento, o que na minha opinião é mais do que razoável.”

“Somos diferentes,
oferecemos qualidade”


Apesar de não ter havido consenso quanto aos dois pontos em discussão, Stephen Weaver considera como “muito positivo” o facto de ter havido este encontro, de um outro já estar agendado, e de haver margem para negociação. “Em algumas áreas há margem para chegarmos a um acordo. Noutras há diferenças significativas”, disse o responsável para a Ásia da Las Vengas Sands.
Weaver disse que a operadora norte-americana tem um ponto de vista próprio, diferente dos outros operadores, sobre o modelo de competição: “acreditamos que este passa pela oferta de um produto de qualidade. Outros acreditam que tem a ver com o preço.
Para a nossa companhia, o preço compensa a falta de qualidade dos produtos. Estamos empenhados em manter os nossos critérios, que se pautam pela qualidade dos produtos que oferecemos
Esta foi a posição que trouxemos para a mesa das negociações.O Executivo responde às preocupações de certos sectores da indústria do jogo que consideram que a estrutura do pagamento das comissões é prejudicial à ‘saúde’ do sector. Para nós uma coisa é clara: não foram os angariadores que começaram a ‘guerra das comissões, ela foi despelotada pelas concessionárias. Nós sempre estivemos na fronteira mais baixa do pagamento das comissões, foram outras operadoras que decidiram inflacionar as percentagens para proveito próprio.”
Em relação à fixação de um limite novos casinos e de mesas de jogo em Macau, Weaver considerou que “o anúncio de que não há novas concessões não foi inesperado, nem o consideramos mau, antes pelo contrario, é uma coisa boa. Quanto ao número de casinos, achamos que deve estar de acordo com a procura. Se forem construídas infra-estruturas que atraiam para o território milhares de pessoas, como é politica da nossa empresa, então consideramos que serão necessários construir casinos (mais unidades) porque atraímos mais gente, mais jogadores. Mas tem que haver sempre uma relação entre a oferta e a procura. Por exemplo, o Venetian atrai quase dois milhões de visitantes por ano, uma estrutura destas requer mais casinos.Ou seja, se contribuímos com qualidade para a vinda de mais pessoas para Macau, temos que ter uma retribuição, que deve ser reflectida também no número de casinos e de mesas que podemos operar”, disse Stephen Weaver.

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