Ponto Final

Ma Ying-jeou toma hoje posse como presidente de Taiwan
Kuomintang volta ao poder apostado
nas relações com Pequim

José Costa Santos *

O Kuomintang regressa hoje ao poder em Taiwan com uma nova política de aproximação a Pequim e apostado em estabilizar as relações no Estreito da Formosa e em aproveitar o "boom" da economia continental.
Com a presidência entregue a Ma Ying-jeou, um quadro nascido em Hong Kong que leva para vice-presidente Vincent Siew, a aposta numa nova relação com Pequim está centrada na aproximação entre os dois lados do Estreito e num clima de diálogo e não de confronto, protagonizado nos oito anos da presidência de Chen Chui-bian.
As decisões políticas de abrir os voos directos entre os dois lados, de implementar uma política de conversão do yuan chinês para os dólares de Taiwan, de querer cativar o turismo e abrir as portas ao investimento e criar um mercado comum podem conduzir a uma verdadeira "revolução" no sudeste asiático e, por consequência, na globalizada economia mundial.
Com a promessa de transformar Taiwan na "Suíça do Oriente", a popularidade conquistada por Ma Ying-jeou na campanha - muito concentrada na repetição das promessas do Kuomintang nas eleições legislativas de Janeiro que deram uma esmagadora vitória ao partido e a conquista de 81 dos 113 lugares no parlamento - fazem do novo presidente um homem que vai ditar o calendário político ao qual Pequim terá de responder.
Mas se entre os dois lados do Estreito uma maior aproximação é positiva, já para Macau e Hong Kong é certo que a "amizade" entre Taipé e Pequim vai provocar alguns dissabores aos quais as duas Regiões Administrativas Especiais terão de responder.
Actualmente, um cidadão de Taiwan que pretenda ir para Pequim tem de "comprar lugar" numa carreira para Macau, Hong Kong ou Coreia do Sul e, depois de uma paragem no ponto de rotação, seguir para a capital chinesa numa viagem que demora, em média, o dobro do que poderia demorar se os aviões cruzassem directamente o estreito de Taiwan.
E o mesmo se passa com o comércio bilateral. É que existem apenas algumas ligações marítimas entre as ilhas de Kinmen e Matsu (muito próximas do continente) e portos da província de Fujian, francamente diminutas para os contactos indirectos bilaterais existentes.
Nos últimos dez anos, empresários de Taiwan investiram no continente 65 mil milhões de dólares (cerca de 41 mil milhões de euros) e 40,7 por cento das exportações de Taiwan têm como destino o continente chinês, mas sempre pela via indirecta.
Por isso, qualquer aproximação entre os dois lados terá grandes benefícios em toda a linha de produção e no custo final do consumidor, números que se farão sentir quer em Macau quer em Hong Kong pela perda de passageiros e transporte de carga.
As propostas do presidente eleito podem ser também interpretadas como um primeiro passo na reunificação chinesa, o grande objectivo de Pequim iniciado a 01 de Julho de 1997 com a devolução, pela Inglaterra, de Hong Kong, seguindo-se o retorno de Macau à "mãe-pátria" a 20 de Dezembro de 1999.
Qualquer aproximação entre ambos os lados terá sempre, numa primeira fase, de ser económica, de se mostrar benéfica para ambos os lados em termos práticos, e nada como as ligações directas e o mercado comum para potenciar as vantagens de todos e cada um.
Hoje, quando discursar na sua tomada de posse, Ma Ying-jeou não deverá apresentar grandes novidades, mas os próximos meses serão cruciais para definir o futuro das relações do Estreito da Formosa.

* Lusa