Escola Portuguesa de Macau comemora 10 anos a pensar no futuro
"O ensino do mandarim é fundamental"
Dia de festa nas instalações da Escola Portuguesa de Macau. Os 10 anos da instituição foram comemorados ontem à tarde com a inauguração de uma exposição de fotografias e o lançamento do livro Ao Sabor da Memória. A aposta no mandarim e a adaptação dos currículos escolares às circunstancias da RAEM são, nas palavras de Edith Silva, os grandes desafios para o futuro da EPM
Rui Cid
"O ensino do mandarim é fundamental"
Dia de festa nas instalações da Escola Portuguesa de Macau. Os 10 anos da instituição foram comemorados ontem à tarde com a inauguração de uma exposição de fotografias e o lançamento do livro Ao Sabor da Memória. A aposta no mandarim e a adaptação dos currículos escolares às circunstancias da RAEM são, nas palavras de Edith Silva, os grandes desafios para o futuro da EPM
Rui Cid
O pontapé de saída nas comemorações do 10º aniversário da EPM fora dado no passado sábado com um espectáculo no Centro Cultural, mas na tarde de ontem as instalações da Escola Portuguesa engalanaram-se para receber as várias personalidades que foram assistir à inauguração de uma exposição de fotografias que recordam rostos e momentos marcantes na vida da EPM, e ainda o lançamento do livro Ao Sabor da Memória que faz a retrospectiva dos 10 anos da EPM. Com direito a bolo e champanhe, só faltou mesmo uma passadeira vermelha para receber, entre outros, Moitinho de Almeida, Cônsul Geral de Portugal na RAEM, o Secretário dos Assuntos Sociais e Cultura, Chui Sai On, e o director dos Serviços de Educação e Juventude, Sou Chio Fai, e os vários pais e professores que não deixaram de associar à festa. No discurso de abertura das cerimónias, Oliveira Rodrigues, 1º vice presidente da Fundação da Escola Portuguesa de Macau, destacou a importância do sacrifício, competência e saber do corpo docente e pessoal auxiliar no sucesso que a EPM conseguiu alcançar, e mostrou-se esperançado no futuro da instituição. Num discurso traduzido em simultâneo para chinês por um aluno da escola, Oliveira Rodrigues destacou o papel fundamental que o ensino do mandarim teve na captação de novos alunos para a escola, e lembrou que apesar de a EPM não ser uma escola internacional, é frequentada por alunos de várias nacionalidades. Esta era uma ideia que a presidente da EPM, Edith Silva, viria a reforçar, uns minutos mais tarde, em conversa com os jornalistas. Instada a prever os grandes desafios para os próximos anos, a docente afirmou que a aposta no ensino do mandarim deve ser uma prioridade na EPM: "Defendo, há muitos anos, que um aluno que acaba o ensino secundário deve dominar três línguas, neste caso o português, o inglês e o mandarim". Para Edith Silva o ensino do mandarim, alem de se contextualizar com as circunstâncias do território, pode atrair alunos de outras comunidades, principalmente a chinesa, para uma instituição que tem vindo a perder cerca de 30 alunos por ano. Por esta ser uma escola que "não se pode dar ao luxo" de perder assim tantos alunos, a direcção da EPM está já a preparar um projecto a apresentar ao ministério da Educação, no sentido de tornar mais flexíveis os currículos educacionais, de forma a que se possam adaptar às circunstâncias da RAEM. Edith Silva explicou que por haver agrupamentos com muito poucos alunos inscritos, o que acaba por não rentabilizar o investimento monetário que a escola faz em professores, o projecto preconiza um tronco comum para os agrupamentos, completado depois com as disciplinas fundamentais para cada área, um modelo que a presidente da EPM diz ser inspirado no australiano: "Pude constatar, numa vista de trabalho que fiz recentemente, que eles lá têm 3 disciplinas obrigatórias, o inglês, a matemática e outra língua, e depois três disciplinas à escolha dos alunos". Edith Silva admite que para o acesso ao ensino superior em Portugal este modelo tenha que ser "limado", mas acredita que pode ser uma solução para os alunos que não queiram prosseguir os estudos.
Acordo de Cooperação entre MNE e RAEM
Não só do ensino do mandarim se falou ontem na Escola Portuguesa. Sales Marques, administrador da Fundação da Escola Portuguesa, revelou que está a ser finalizado um acordo entre o governo da RAEM e o ministério dos Negócios Estrangeiros português envolvendo a EPM, acordo esse que prevê que a EPM dê formação a alunos chineses de forma a que possam, depois, ingressar no ensino superior em Portugal. Sales Marques salientou que há já algumas dezenas de alunos interessados, e que este acordo pode ser um veículo de promoção da Escola Portuguesa e é garantia que o português continuará a fazer parte da cultura do território. Quem também abordou este tema foi Sou Chio Fai. O director dos Serviços de Educação e Juventude definiu a EPM como uma "excelente instituição de ensino" e reafirmou que a colaboração entre os SEJ e a EPM é para se manter: "O governo dedica-se ao desenvolvimento do sector educativo. Aproveitando o crescimento económico temos mais recursos financeiros, e com a ajuda de todos - professores, alunos e encarregados de educação - temos confiança para melhorar a qualidade da educação em Macau."
"Mudar de instalações só se for para melhor"
Assunto que tem levantado alguma polémica é o da possível mudança de instalações. Sou Chio Fai tem-se mostrado contra esta possibilidade, mas ontem, questionado pela comunicação social, optou por jogar à defesa: "A qualidade da educação está relacionada com o ensino e aprendizagem. A mudança de instalações é secundária." Perante a insistência dos jornalistas, o director acabou por admitir que se chegar algum projecto de forma a melhorar a educação, aqueles serviços serão favoráveis, negando ainda ter conhecimento de algum projecto concreto. Edith Silva revelou que não está preocupada com este assunto, até porque a EPM está dotada de "óptimas instalações". A presidente da instituição não se opõe à mudança desde que ela seja para melhor: "O antigo Hotel Estoril? A localização é óptima, há muitas outras escolas nessa zona, e além do mais não há casinos à volta, o que é sempre uma vantagem se nos derem condições favoráveis mudamos para qualquer sitio, seja a Taipa ou até mesmo Coloane..." Esta é uma ideia defendida igualmente por Pedro Lobo, professor de informática e um dos muitos docentes que estão na escola desde o início, apesar de admitir que a EPM está num local privilegiado. "Estamos no centro, saímos daqui para qualquer lado, os alunos gostam deste local, a escola tem boas instalações, mas acredito que se a mudança for para melhor eles vão apoiar."
Diogo Silva, Sara Abreu e Ana Trigo frequentam o 12º ano, estão por isso, "se tudo correr bem", de partida do território, não sendo afectados pela eventual de instalações. Ainda assim confessaram que este é um assunto comentado nos corredores, embora digam que os colegas vão aceitar a mudança se ela for para melhor. Quase a abandonar uma escola que os acolheu desde a primeira classe, não escondem já uma certa nostalgia nos momentos da despedida. "Estamos aqui desde pequenos, foi aqui que fizemos amigos, que crescemos. Esta é a nossa segunda casa." Ao desafio de escolherem os momentos mais marcantes destes 10 anos lançado pela reportagem do PONTO FINAL, os três foram unânimes em eleger a preparação da viagem de finalistas e as férias em Koh Samui como momento positivo, e a morte do colega Luís Amorim em circunstâncias que ainda hoje estão por esclarecer, como o momento mais difícil.
CAIXA
A Rádio foi à escola
A Rádio foi à escola
Leituras de poemas, actuações ao vivo e muitas entrevistas. Quem, ontem, ao longo do dia, sintonizou o seu rádio para o 98 FM, ouviu uma emissão diferente do habitual. O canal português da Rádio Macau associou-se à comemoração dos dez anos da Escola Portuguesa, e ao longo do dia emitiu em directo da EPM. 12 horas de emissão, das sete e meia da manhã às sete e meia da tarde, com mais de duas dezenas de convidados em estúdio, entre alunos, ex-alunos, professores e personalidades ligadas ao ensino e à cultura, numa emissão em que estiveram envolvidos quase todos os meios humanos(jornalistas, animadores, técnicos) do canal português. Gilberto Lopes, Chefe da Rádio Macau para o Canal Português, explicou ao PONTO FINAL que objectivo desta emissão era aproximar a Rádio do auditório e o 10º aniversário da EPM foi o "pretexto ideal para o fazer, procurando transmitir a verdadeira realidade da Escola Portuguesa". Os alunos da EPM gostaram da ideia, especialmente os mais pequenos que não arredaram pé das imediações do improvisado estúdio que a Rádio Macau montou. Será o bichinho da Rádio a fazer das suas?
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Associação de Pais da EPM agradece
"memorável evento" aos professores
A Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos da Escola Portuguesa de Macau emitiu ontem um comunicado no qual presta "público agradecimento aos professores da EPM pelo excelente espectáculo realizado no passado dia 7 de Julho no Centro Cultural de Macau."
Segundo a nota, assinada por José Luís de Oliveira Paulo, presidente da direcção da Associação, "o memorável evento, que se destacou nas comemorações do 10º Aniversário da Escola Portuguesa de Macau, resultou nomeadamente do empenho, dedicação e profissionalismo dos docentes da EPM, qualidades que evidenciam na instrução e educação dos nossos filhos e que devem ser objecto de público louvor."