24.6.08

Instituto Politécnico de Macau quer elevar o nível do ensino da língua no território e na China
Em Português nos entendemos

Um curso de formação sobre o ensino de Português como língua estrangeira reúne desde ontem no IPM mais de 70 professores. Elevar o nível do ensino da língua de Camões no território e na RPC é o desejo da Escola Superior de Línguas e Tradução. O linguista Malaca Casteleiro continua a acreditar no sucesso do Português em Macau, apesar da "falta de uma política para a língua por parte de Portugal"

Rui Cid

O número elevado de participantes surpreendeu a direcção da Escola Superior de Línguas e Tradução do Instituto Politécnico de Macau que contava com a presença de 30 professores de português. Aos professores locais juntaram-se docentes vindos de universidades chinesas, um facto que para Choi Wai Hao, director da ESLT, demonstra que o curso vai ao encontro dos desejos dos docentes que "pretendem actualizar conhecimentos, métodos e técnicas em torno da elaboração de materiais didácticos." De Portugal vieram as professoras Carla Oliveira e Luísa Coelho, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e autoras da colecção "Aprender Português", para, juntamente com Malaca Casteleiro, apresentarem metodologias e conceitos novos nas áreas da definição de programas, identificação do público-alvo, materiais de aprendizagem e gramática comunicativa, numa partilha de experiências que Carla Oliveira definiu como um "acertar de agulhas".
O curso aposta sobretudo na elaboração de materiais didácticos uma vez que, nas palavras da docente, a falta de materiais adequados a determinado tipo de público - principalmente aos alunos asiáticos - tem sido a maior dificuldade com que os professores de português como língua estrangeira se deparam.
Na cerimónia de abertura do curso, Choi Wai Hao destacou a "posição cultural e linguística privilegiada" do território, um local ideal para se promover o intercâmbio académico entre as universidades de Macau e da China continental, com vista à divulgação da língua e cultura portuguesas. Este responsável recordou que, desde 2001, o IPM já recebeu mais de 70 alunos da RPC que chegaram ao território para aprender português.
Choi Wai Hao considera que estando os professores melhor preparados, novos horizontes poderão ser abertos, assim como acredita que o curso vai contribuir para elevar o nível do ensino da língua portuguesa tanto na China como em Macau, um dos desígnios da ESLT. A expansão da língua portuguesa, não tem, para Malaca Casteleiro, o devido apoio por parte do governo da república.
Em entrevista ao Jornal Tribuna de Macau, o linguista lamentava a falta de uma politica para a língua, afirmando que a língua portuguesa devia estar "no centro da politica externa de Portugal." Apesar disso, o professor que já veio "mais de 50 vezes" ao território, mostra-se, como sempre, muito optimista em relação ao sucesso do português em Macau: "Na altura da transferência de soberania havia algum descrédito por parte das pessoas, mas eu sempre acreditei que a língua portuguesa ia continuar bem viva e bem presente tanto aqui como na China continental onde já há sete ou oito universidades com licenciaturas em português."
O linguista conhece Macau desde 1983, ano em que foi encarregue de reactivar a metodologia do ensino do português como língua estrangeira, numa época onde apenas era leccionado como língua materna, um percurso de 25 anos que Malaca Casteleiro classifica de muito rico tendo dado frutos como "prova a vossa presença aqui." O docente voltava a arrancar sorrisos, depois de, uns minutos antes, ter conquistado as mais de sete dezenas de professores ao confessar que escolheria a RAEM como local para viver se por uma ou outra razão fosse obrigado a sair de Portugal.

"Português está em franca expansão"

Malaca Casteleiro salientou que o português é a terceira língua mais falada na Europa, e a quinta a nível mundial estimando-se que tenha mais de 200 milhões de falantes. O professor considera que a língua portuguesa está numa fase de franca expansão, com falantes de toda a parte do mundo, desde o Brasil, os 5 países africanos, Timor-Leste e Macau: "Lembro sempre as pessoas que são oito os países ou territórios onde se fala português, porque o português continua vivo na RAEM e vai continuar a ser língua oficial pelo menos durante mais 40 anos." Malaca Casteleiro considera que a aprendizagem do português é, igualmente, uma boa aposta profissional, abrindo portas no mercado de trabalho: " se um estudante de origem chinesa souber português, tem saídas profissionais asseguradas no domínio do comercio, das empresas, da comunicação social."

"Acordo ortográfico facilita aprendizagem"

O IPM aproveitou a presença de Malaca Casteleiro no território para organizar uma palestra sobre o novo acordo ortográfico que terá lugar hoje às 3 da tarde. Defensor assumido do acordo desde a primeira hora, o professor diz que o acordo vem por termo a uma "guerra" que tem quase 100 anos e que dividiu até agora Portugal e Brasil. Malaca Casteleiro recorda que este acordo mereceu a aprovação do parlamento e remonta já a 1990, rejeitando qualquer implicação negativa ao nível do ensino da língua, considerando que será mais fácil aprender português: "apenas1500 palavras serão alteradas num universo de 100 mil. Aprende-se mais facilmente a escrever diretor, ator ou otimo.Se não lemos nem o C nem o P porque é que havemos de os escrever?!"

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