O 10 de Junho volta «à normalidade»
Depois da interrupção do ano passado, tudo volta «ao seu lugar»; em Portugal há quem conteste tantos ministros e secretários de Estado a viajar por esta altura. São cinco ministros e 14 secretários de Estado
João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com
Depois da interrupção do ano passado, tudo volta «ao seu lugar»; em Portugal há quem conteste tantos ministros e secretários de Estado a viajar por esta altura. São cinco ministros e 14 secretários de Estado
João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com
Existem mais locais interessados em receber um representante do governo da República Portuguesa do que membros do governo disponíveis – a não ser que o executivo se transferisse em peso, por estes dias, para os vários pontos do mundo em que há significativas comunidades portuguesas. E não se pense que uma comunidade corresponde a um país, porque existem comunidades muito diversas e sobretudo muito distantes entre si num mesmo país, como o provam os Estados Unidos (nas duas costas) ou no Brasil, no norte e no sul (e mesmo a França).
Todos os anos a Secretaria de Estado das Comunidades elabora uma lista de locais que considera fundamentais, seja pelo número de portugueses seja pelo interesse demonstrado em receber um representante, e distribui-a pelo governo (ministros e secretários de Estado). Por princípio, ninguém é obrigado a ir, mas depois de uma primeira sensibilização por parte da Secretaria de Estado das Comunidades (que recebe as indicações dos diplomatas espalhados pelo mundo e, por exemplo, dos representantes das comunidades), o gabinete do primeiro-ministro poderá fazer alguns telefonemas, no sentido de «sensibilizar» alguns elementos para suprir algumas falhas consideradas estratégicas.
Não repetir o «erro»
Desta vez Macau apareceu na primeira lista, naquilo que deve ser entendido como um duplo sinal: depois da «falha» do ano passado, e do impacto mediático que essa ausência teve, pareceu importante dizer que sim a Macau, evitando a leitura de que uma segunda ausência seria para sempre…
No ano passado, Macau também estava na primeira lista distribuída pelos serviços da Secretaria de Estado das Comunidades. O e-mail correu os diversos gabinetes, mas ninguém se ofereceu ou teve agenda para dizer sim à viagem até Macau.
A diferença relativamente a anos anteriores é que não houve empenho político para nomear um «voluntário»; as Comunidades fizeram algumas tentativas, mas só uma indicação do próprio primeiro-ministro teria desbloqueado a situação (noutros tempos, era o governador que telefonava para o chefe do Governo ou mesmo para a Casa Civil do Presidente, no sentido de corrigir a tempo…).
2007 foi, assim, o primeiro ano em que Macau não recebeu um representante para o Dia de Portugal, se se recuar 20 anos.
Pedreira não regressa
Curiosamente, o primeiro nome a aparecer a público como estando de malas feitas para viajar por estes dias para Macau foi o último a comparecer num 10 de Junho na RAEM!
Na verdade, o último representante português nas cerimónias do Dia de Portugal foi Jorge Pedreira, então, como hoje, secretário de Estado adjunto da Educação.
Uma notícia da Lusa dava conta do movimento previsto para este ano, citando uma fonte governamental, e lá estava novamente o nome de Jorge Pedreira com destino a Macau.
A notícia, como os leitores do PONTO FINAL sabem, foi desmentida pelo gabinete da ministra da Educação e na mesma informação dávamos conta de que na Secretaria de Estado das Comunidades também se estranhou essa inclusão.
Contudo, nenhum outro membro do governo de Sócrates faria tão sentido em Macau por esta altura como Jorge Pedreira. Ele tutela a Escola Portuguesa no Ministério e a verdade é que os assuntos então tratados continuam, dois anos depois, em cima da mesa.
É de esperar que o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Filipe Batista, que estará em Macau, se tenha informado junto do seu colega da Educação, uma vez que esse é um dos temas mais importantes da agenda entre Lisboa e a RAEM.
Madrid e Berlim sem representantes
De acordo com as contas da Lusa são cinco ministros e 14 secretários de Estado que por estes dias estarão fora de Portugal, juntando-se às cerimónias previstas em vários pontos do mundo para assinalar o 10 de Junho (Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades).
Um número – e um custo – que fizeram surgir alguma contestação ao movimento governamental.
Nos últimos dias circulou através da Internet pelo menos um protesto contra os custos daquilo que designam por o «dia das grandes viagens». Não há contudo qualquer indicação de que o Governo esteja a pensar reduzir no futuro estas deslocações – o que acontecer teria de ser feito de uma forma concertada e radical, para não suscitar protestos das comunidades sempre muito críticas em relação ao apoio dado pelo governo de Lisboa.
Este ano o descontentamento será das comunidades em Espanha e na Alemanha, já que os representantes inicialmente previstos – de acordo com a última lista fornecida pela Lusa – cancelaram e não foram substituídos: o ministro Manuel Pinho em Madrid e o secretário de Estado do Tesouro e Finanças, Costa Pina, em Berlim.
O Brasil tem dois representantes (dois ministros, em Brasília e São Paulo), França e Estados Unidos apenas um (neste caso, na costa leste). Em contrapartida o Canadá, onde há importantes comunidades portugueses, não recebe nenhum representante. O mesmo acontece com a Bélgica ou a Itália, por exemplo.
Sinal de que a lista é preenchida voluntariamente e sem uma estratégia muito definida, temos ministros em locais onde as comunidades portuguesas são irrelevantes (Augusto Santos Silva em Cabo Verde) e secretários de Estado em comunidades fundamentais (como acontece com Ana Paula Vitorino, em França).
CAIXA
Prémio Talento sem China
Prémio Talento sem China
A Secretaria de Estado das Comunidades decidiu criar há dois anos um prémio para destacar, em diversas áreas, portugueses que se distingam no exterior.
Os chamados «Prémios Talento» elegem os portugueses que, das artes visuais e espectáculo ao associativismo, da ciência à comunicação social, do desporto à área empresarial (entre outros), têm relevância local.
Este ano não há entre os nomeados nenhum com origem em Macau ou China (ou mesmo da Ásia), ao contrário do que aconteceu no ano passado, quando pela primeira vez os «Prémios Talento» foram atribuídos.
Então a cientista Maria Conceição Matos foi nomeada pelo seu trabalho de vivificação do Lago Dianchi, na China, acabando no entanto por não ganhar (são nomeados três em cada área e distinguido um, numa gala anual). Maria Conceição Matos continua, aliás, a trabalhar na China, mais concretamente em Kunming, província de Yunnan.
Este ano, os nomeados vêm sobretudo da Europa, mas também da África e da América do Norte (Estados Unidos e Canadá). Há um empresário da Austrália nomeado.