Nove anos depois da transferência
Portugueses continuam bem integrados em Macau
José Costa Santos *
Portugueses continuam bem integrados em Macau
José Costa Santos *
Quase nove anos depois da transferência de poderes em Macau, a comunidade portuguesa está integrada na sociedade, é participante activa no desenvolvimento local e tem no território a sua segunda pátria onde celebra e vive os momentos históricos de Portugal.
Em Macau não há estrangeiros. Há residentes, permanentes ou não conforme os anos que as pessoas ficam no território chinês que foi administrado por Portugal durante 450 anos.
Há cerca de 130.000 portugueses registados no Consulado, uma das maiores representações portuguesas no mundo, mas a realidade é diferente, já que Portugal, enquanto administrou Macau, concedia a nacionalidade aos naturais do território.
Entre 10.000 a 12.000 pessoas com ligações de sangue ou afectivas a Portugal é uma estimativa mais correcta incluindo a grande família macaense ou os naturais de Macau com sangue português e chinês.
A comunidade está diluída, não há um bairro português ou uma loja portuguesa específica. Há de tudo e de todo o lado porque Macau é um ponto de encontro.
Nove anos depois, a China continua a permitir aos portugueses um envolvimento nos assuntos do território. A comunidade é acarinhada pelo executivo da Região Administrativa Especial de Macau, que participa, ao mais alto nível, nas celebrações do 10 de Junho.
O estatuto de residentes, a maioria permanentes, ou seja, com mais de sete anos no território antes ou depois da transição de poderes, dá aos portugueses o direito de participar na vida activa local e exercer todos os cargos disponíveis na hierarquia, exceptuando um pequeno conjunto de lugares políticos governamentais ou de natureza de Estado.
Três dos cinco secretários (ministros) do Governo de Edmund Ho são fluentes na língua de Camões.
Os portugueses naturais do território dão também outro peso à comunidade ao assumirem cada vez mais um papel preponderante, mesmo que para isso alguns tenham optado pela nacionalidade chinesa que abre portas no relacionamento com Pequim.
Aqueles que chegaram nos anos 80 continuam no território com poucas ligações a Portugal e com filhos e netos nascidos ou criados em Macau.
Chegado em 1981 de Lisboa, Carlos Couto, arquitecto, 57 anos é disso um exemplo.
“Fiz toda a minha vida profissional aqui. Cheguei ao território com 31 anos e tudo o que construi como profissional e como pessoa está aqui, pelo que voltar a Portugal era regressar aos meus 30 anos”, diz.
Mas não é só a vida profissional que condiciona o regresso: “Sinto-me pouco identificado com a maneira de viver dos portugueses que estão em Portugal. Considero-me um cidadão do mundo, com uma visão mais alargada da portugalidade e sinto-me muito bem no território que me deu muito e ao qual tenho obrigação também de dar tudo”, defende.
Noutros casos, o regresso ao país de origem está sempre no horizonte, mas vai sendo adiado à medida que a família aumenta.
“Chegámos em 1980 com os nossos filhos e não equacionamos o regresso porque estamos muito enraizados nesta terra, temos aqui os nossos filhos e netos e ainda consideramos Portugal um país para passar férias”, explica Félix Pontes, administrador da Autoridade Monetária de Macau.
A milhares de quilómetros de Lisboa, a comunidade mata saudades com alguns produtos tradicionais, como o vinho que está em maioria nas prateleiras dos supermercados, e continua a crescer com os mais novos a regressarem ou a experimentarem o Oriente lusitano.
“Estava longe de imaginar vir para Macau. Tinha a minha carreira a arrancar em Portugal, gostava do que fazia, e eis que, um dia, inesperadamente, recebo um convite em jeito de desafio para vir para Macau”, conta a jurista Beatriz Segorbe que largou um emprego certo em Lisboa pelo desconhecido no Oriente.
“Macau não é um sítio fácil e, por cá, já vivi bons e maus momentos, mas não me arrependo de ter vindo”, garante ao citar Fernando Pessoa em relação à Coca-Cola para descrever Macau: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se.” E está cá há quase cinco anos.
* Agência Lusa