24.8.08

Restaurante português de Macau vai fazer parte do primeiro Guia Michelin para a Ásia
Cinco estrelas culinárias

É de se lhe tirar o chapéu. Um conhecido e muito popular restaurante de comida típica portuguesa da RAEM vai fazer parte da primeira edição Asiática do conceituado Guia Michelin, a ser publicado em finais deste ano, ou princípios de 2009. O secretismo é total “até à publicação” e ao abrigo de um protocolo, disse ao PONTO FINAL o Chefe de Cozinha do estabelecimento

Alfredo Vaz

Nome de código, Andrade. O Chefe de Cozinha do restaurante não se identifica pelo verdadeiro nome, porque essa é uma das regras do jogo. Até ao guia ser posto à venda, impera um secretismo, digno do guião de um filme – ou de um romance – de espionagem.
Os representantes do Michelin, um casal na casa dos 40 anos, sentaram-se a uma mesa à hora de almoço de um dia de Abril.
Na altura, o Chefe Andrade, diz não se ter apercebido de nada, “só depois ao fazer o ‘review’ de toda a situação na minha cabeça é que se fez luz”, só então as peças começaram-se a encaixar.
O Chefe lembra-se que naquele dia até vinha atrasado, tinha ido à praça buscar peixe e “o trânsito estava caótico”. “Entrei já fardado, conversei com alguns clientes conhecidos, clientela frequente, e – como é meu hábito – fui depois apresentar-me aos outros clientes, perguntar se estava tudo bem, pedir desculpa pelo atraso, essas coisas. Depois fui às minhas tarefas, e eles lá ficaram, como quaisquer outros clientes, sem se denunciarem, sem darem o mínimo sinal das suas verdadeiras intenções”, recorda. Andrade lembra-se que o casal se sentou – estrategicamente - numa mesa de onde pudesse controlar quase todos os passos da rotina do estabelecimento: desde a saída dos pratos do elevador que os traz da cozinha, aos acessos às casas de banho.
“Eles são muito espertos, na verdade são muito espertos. Pediram um Caldo Verde, pediram Queijo de Cabra Gratinado com azeite e mel, como entrada; pediram um caril de camarão e como me ouviram falar que tinha acabado de ir buscar peixe fresco, talvez para se certificarem, pediram um Nairo Grelhado.” Regaram-no com vinho da casa.
O casal, comeu, bebeu café, pediu – e pagou – a conta, e só então deixou cair a máscara. O homem apresentou-se como director do Guia Michelin para a Ásia, e teceu os mais rasgados elogios ao serviço e ao espaço, recorda o Chefe Andrade: “disse-me quem era, ao que vinha e que estava ‘encantado com o seu restaurante’. Disse-me que estavam a preparar o primeiro guia para a Ásia, e que queria que nós fizéssemos parte da publicação.”
Depois de uma pequena entrevista, de um preenchimento e de um formulário “a dizer que autorizamos a reprodução de fotografias, autorizamos publicidade, e que não queremos nada em troca. Eu assinei o papel, e eles despediram-se dizendo que o fotografo qualquer dia cá viria”, recorda Andrade.
E semana e meia mais tarde, sensivelmente no início de Maio, o fotografo apareceu para bater as chapas que serão incluídas no Guia Michelin.
O Chefe Andrade diz saber que outros restaurantes da RAEM foram contactados, que há pelo menos mais dois estabelecimentos particulares, para além de uma série de outros de conhecidas cadeias internacionais, estabelecidos nos mais conhecidos hotéis da RAEM. Mas o ‘seu’ será, com quase toda a certeza, o restaurante português de referencia.
Andrade não quer revelar o seu verdadeiro nome, mas não por uma questão de superstição: “Entendo que enquanto o Guia não for publicado, e por uma questão de dignidade profissional, não devo publicitá-lo. Fui visitado, assinei os papéis, vieram tirar as fotografas, agora é esperar que eles publiquem o Guia. Apenas o faço porque li a notícia publicada no vosso jornal (na edição de terça-feira, dia 19, com o título ‘Hong Kong na mira do Guia Michelin’). A vossa notícia é verdadeira, mas queria que se soubesse que Macau também foi visitado.”
O Chefe de Cozinha está “naturalmente orgulhoso” por fazer parte da ‘Bíblia’ da restauração mundial: “É uma grande honra fazer parte do melhor guia do mundo, reconhecido internacionalmente. Ponto final, parágrafo. O Guia Michelin é considerado o guia mais lido no mundo, o guia que tem mais cuidado em fazer as suas avaliações, que chega incógnito a um restaurante, que nunca se identifica à partida. Mais, se eles não gostarem, nem sequer se identificam.”
Macau terá sido a terceira cidade no continente asiático a ser visitada pelos representantes do Michelin, depois de Tóquio, em Novembro, e Hong Kong, sensivelmente na mesma altura da RAEM, em meados de Abril. Em Dezembro próximo, ou o mais tardar em Janeiro do ano que vem, ficaremos a saber os restaurantes pelos nomes.

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