11.9.08

“Série de Teatro da Caixa Negra” arrancou ontem com trupe de Macau a convidar o público a subir ao palco
Espectadores curiosos

O Teatro da Caixa Negra está em cena no Centro Cultural de Macau (CCM) desde ontem e até 20 de Setembro, com actuações de dois grupos de teatro estrangeiros provenientes da Singapura e da Coreia do Sul, e quatro da cidade.
Ontem, o ciclo de teatro arrancou com “O Bosque Secreto” e “Carrinho de mão, virado”. O público presente no CCM ficou surpreendido e curioso à medida que ia sendo convidado a subir ao palco do CCM, preenchendo os lugares dispostos por uma área que normalmente pertence aos actores. Mantendo-se fiel ao “espírito” do teatro da caixa negra, o CCM alterou a disposição convencional do pequeno auditório ao colocar várias cadeiras em cima do palco.
O programa de ontem à noite começou com a actuação da trupe de Macau. O Grupo de Produção Fora Para levou à cena “O Bosque Secreto”, uma peça baseada na obra “Um para a Mágoa: Dois para a Alegria” (“One for Sorrow: Two for Joy”) de Clive Woodall, um romance mágico mas realístico sobre pássaros. Esta peça dramática procura aprofundar a relação entre o ser humano e os animais. No Reino dos Pássaros, um pisco é um herói na senda do seu destino: com o seu engenho, coragem e um golpe de sorte, ele tem de salvar o seu reino lutando com inimigos que apesar de tudo, são seus irmãos... Uma parábola comovente sobre o comportamento humano.
A sessão de teatro prosseguiu com a curiosa peça “Carrinho de mão, virado” pelo Teatro Momggol, da Coreia do Sul. Fundada em 2002, esta companhia é um grupo de teatro físico que usa a linguagem corporal para comunicar referências que vão para além das palavras. Na peça, a trupe coreana coloca um tosco carrinho de mão no centro do palco, explorando novas possibilidades criativas neste diálogo dinâmico entre actores e objecto. Embora a Coreia do Sul seja agora um país desenvolvido, em tempos o seu povo teve de lidar com a pobreza, a fome, a desolação e desespero, e os mais desfavorecidos vagueavam pela lixeira urbana. Não obstante, alguns conseguiam encontrar satisfação em brincar com o que os rodeava, e é isto que “Carrinho de mão, virado” procura transmitir: que a esperança e o amor pela vida podem ser encontrados no pequeno contentamento de brincar com um carrinho de mão...
O Programa I volta a subir à cena hoje e amanhã às 8 da noite, com bilhetes a 100 patacas à venda no CCM e na rede Kong Seng. No dia 15, é a vez do programa II, que prossegue com outra peça estrangeira – “Homem-Gato”, pelo Teatro Prática de Singapura – e “Para onde foste? A nossa infância”, do grupo local Passo para Fora. “Homem-Gato” é uma peça curiosa e pouco habitual sobre um homem atormentado por pesadelos sinistros onde apenas lhe aparecem gatos. Numa madrugada fatídica, ele encontra um gato, e os dois apercebem-se que conseguem comunicar um com o outro. Este bizarro incidente desencadeia uma série de situações onde o homem conhece personagens excêntricas, começando pouco a pouco a perder o controlo da realidade. “Para onde foste? A nossa infância”, foi encenado por Tou Kuok Hong, que se sente nostálgico da sua infância e pensa que Macau, tal como a conhecemos hoje, perdeu a ligação com a inocência do antigamente. Nesta peça, o encenador cobre o palco com memórias de infância e as brincadeiras predilectas dos miúdos da rua, num contraponto à sociedade contemporânea da cidade. Partindo da confluência da fantasia e das recordações colectivas, Tou leva o público por uma viagem de redescoberta das pegadas deixadas durante a sua infância. Os espectáculos do programa II são no dia 15 às 15:00 e 20:00, e dia 16 às 20:00.
A Série de Teatro da Caixa Negra chegará depois ao fim com o último programa composto por duas peças de Macau – “A Gaveta Azul”, do Teatro Hui Kok, e “Bouffon”, da Associação de Artes Céu Azul Azul. As sessões do programa III são no dia 19 às 20:00 e no dia 30 às 15:00 e 20:00. Com esta Série de Teatro da Caixa Negra, o CCM procura proporcionar uma experiência teatral inovadora ao seu público, e continuar também a apostar nos grupos criativos de Macau e nas suas produções originais.
Consistindo num palco simples e despido de adereços – que normalmente é uma sala quadrada grande com paredes pretas e chão liso -, o teatro da caixa negra centra-se num enfoque íntimo na história e das actuações, ao invés de elementos técnicos. Os teatros de caixa negra desenvolveram-se principalmente nos anos 60 e 70, altura em que o teatro experimental de baixo custo estava muito em voga. Este tipo de teatro também é considerado por muitos como o lugar onde mais se pratica o teatro “puro”, focando-se os elementos mais humanos e menos técnicos. Os interiores da maioria dos teatros de caixa negra são, como o nome indica, pintados de preto.

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