26.12.07

1448 Série III Ano XVI

MACAU/DELTA

MILHARES EM MANIFESTAÇÃO ORDEIRA A FAVOR DE REFORMAS POLÍTICAS
A democracia como pano de fundo

Hugo Pinto

Foi ao som de "A Marcha dos Voluntários", o hino da República Popular da China, que os participantes na manifestação de ontem se juntaram no Jardim Triangular, onde a música criada por Nie Er, em 1935, soava nos rudimentares altifalantes. "Levantai-vos! Vós que recusais a escravatura!" Os tempos são outros, e na Macau de 2007, para os manifestantes o momento é de marchar pela democracia.
Como era esperado, a organização e as autoridades policiais divergem quanto aos números da adesão à manifestação. Os primeiros avançam com cerca de 3.500 pessoas, "mais do pensámos", confessou o deputado Ng Kuok Cheong, enquanto a polícia se fica pelas 1.500. Já de acordo com a rádio chinesa da TDM eram cerca de 7 mil os manifestantes.
Sobre os motivos é que não restam dúvidas: "Marchar pela democracia". Era esse o mote da Associação Novo Macau Democrático (ANMD), a entidade promotora, impresso nos autocolantes distribuídos aos manifestantes . O pedido de reformas democráticas que conduzam à eleição directa e universal do Chefe do Executivo e dos deputados da Assembleia Legislativa foram constantes ao longo da marcha que começou no Jardim Triangular, por volta das 15 horas, e só terminou duas horas depois no Clube Náutico, na Praça da Amizade. Aí, os manifestantes e organização promoverem uma troca de ideias sobre os objectivos definidos para o protesto e, em gestos simbólicos, decoraram as grades da estrutura com laços verdes, distribuídos ao longo da marcha.
Antes, porém, entregou-se no Palácio do Governo uma carta que apela à definição de um calendário de reformas políticas rumo à democracia plena e à escolha dos líderes pelos cidadãos. A ANMD aponta 2019 como meta para as eleições directas e universais locais, embora numa aplicação gradual, segundo explicaram aos jornalistas os responsáveis associativos.
Esse plano foi distribuído ainda no Jardim Triangular aos manifestantes, sob a forma de libreto, juntamente com fitas de tecido verde que acabaram por se tornar no símbolo das reivindicações. A cor da esperança e da bandeira da RAEM foi a escolhida para simbolizar a democracia.
Mas as palavras de ordem gritadas pelos populares, como tem sido hábito nas manifestações em Macau, apontaram em várias direcções.
A alegada corrupção entre empresários e o Executivo foi chamada à liça, bem como invectivas contra a importação de mão-de-obra - pediu-se a demissão de Shuen Ka Hung, director dos Serviços para os Assuntos Laborais -, ou a nova lei do trânsito rodoviário. Mais riqueza e poder para o povo foram outros pedidos, e também exigências quanto a uma lei dos sindicatos.

Vestir as causas

No meio dos protestos distinguiam-se também censuras à União Geral das Associações de Moradores de Macau (Kai Fong). Recorde-se que as Associações de Moradores estiveram na origem de uma das polémicas em torno da preparação desta manifestação, uma vez que a ANMD queria usar o Jardim do Iao Hon para local de partida, espaço esse que os Kai Fong reservaram para comemorações alusivas ao Dia de Macau, celebrado ontem.
Numa novidade absoluta em termos de manifestações em Macau, e com esta foram quatro as realizadas ao longo de 2007, alguns dos populares optaram por surgir caracterizados com vestimentas. Num dos casos apresentando maior produção, um manifestante transformou-se numa figura tradicional chinesa conhecida como "o justo dos justos", alguém que se distingue por aplicar justiça em todas as causas.
Um outro popular, mais prosaico, "vestiu-se" de Farol da Guia, empunhando um cartaz onde se clamava por ajuda ao edifício Património da Humanidade que está a ser "tapado" pela construção de um edifício no sopé da Colina da Guia.
A regulamentação do artigo 23º da Lei Básica, referente aos crimes de traição à pátria chinesa, de sedição, secessão ou subversão contra o governo popular central, esteve também em destaque nos protestos.
Atrás do cortejo principal, liderado por pela voz de comando do deputado e membro da ANDM Au Kam San, instalado numa camioneta, seguia, afastado por cerca de 50 metros, um outro de menor dimensão. Esta pequena multidão era composta na maioria por ex-trabalhadores da STDM, em litígio com a empresa de jogo devido ao facto de as gorjetas não serem consideradas parte integrante do salário, uma decisão que os tribunais de Macau já confirmaram.
Alguns professores voltaram a marcar presença no protesto, depois de se terem estreado, enquanto grupo, na passada manifestação do dia 1 de Outubro, que juntou cerca de 5 mil pessoas contra a nova lei do trânsito rodoviário, entrada em vigor precisamente naquele dia.
A forma ordeira como a manifestação de ontem decorreu acabou também por ser um dos pontos em destaque, com o deputado e membro da ANMD Ng Kuok Cheong a congratular-se pelo facto no final. A presença policial foi uma constante ao longo do trajecto de dois quilómetros e meio, mas foi menos volumosa do que em protestos diferentes. Os polícias de intervenção, por exemplo, não se chegaram a avistar nas imediações da marcha.


*****


LEONEL ALVES QUER SABER SE MACAU ESTÁ PREPARADA PARA "DEMOCRACIA HONESTA"
"Eleições de 2009 vão ser um bom teste"

Leonel Alves considera que as eleições para a Assembleia Legislativa de 2009 poderão ser um bom teste à capacidade da população de Macau em aceitar as regras da democracia. Em declarações aos jornalistas, ontem, durante as comemorações do Dia do Estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau, o deputado afirmou que "todas as sociedades desenvolvidas tendem para a democracia", mas defendeu também que "é preciso saber se a população de Macau está preparada."
Ou seja, "é muito importante, em 2009, ver o comportamento da sociedade civil. Se houver suspeitas de forte corrupção eleitoral, isso será um bom barómetro para ver se estamos preparados e se há condições para uma democracia honesta e civilizada."
Na opinião de Leonel Alves, é preciso também ter em conta que "poderosos grupos económicos podem congregar um peso eleitoral significativo", o que pode "não ser saudável."
A partir de 2009, Leonel Alvez admite também que se comece a discutir abertamente alterações na composição da Assembleia Legislativa, que actualmente é formada por 29 deputados, 12 dos quais são eleitos por sufrágio directo, 10 por sufrágio indirecto e 7 são nomeados pelo Chefe do Executivo.


*****


REPRESENTANTES DE PEQUIM SALIENTAM
População de Macau tem liberdade
para expressar descontentamento

O coordenador do Gabinete de Ligação do Governo Central, Bai Zhijiang, defendeu que as manifestações de rua que têm lugar em Macau devem ser encaradas com “normalidade”, pois os residentes do território têm direito a protestar.
O comentário de Bai Zhijiang surgiu horas antes da manifestação de ontem, que coincidiu com o 8º aniversário da RAEM. O mesmo tema foi também comentado pelo comissário do Gabinete do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Macau, embora por um ângulo diferente. Wan Yongxiang disse acreditar que Macau conseguiu grandes êxitos desde a reunificação, que são hoje reconhecidos em todo o mundo. Considerou por isso que a população local deve dar valor a essa situação, e aproveitar as oportunidades existentes para a continuação do desenvolvimento.
Wan Yongxiang sublinhou a estabilidade política que se vive em Macau, o desenvolvimento económico, a harmonia social. Quando confrontado por jornalistas com as manifestações populares, e com o facto destas merecerem o apoio de deputados, o mesmo responsável disse que os membros da Assembleia Legislativa têm todo o direito de expressar desse modo as suas opções políticas. Cabe depois à população se deve ou não juntar-se a essas manifestações, disse.
Wan Yongxiang rejeitou também a ideia de que as manifestações de rua possam estar a desgastar a imagem de Macau no exterior. “O princípio ‘Um pais, dois sistemas’ tem sido praticado em Macau com importantes resultados. Tenho a certeza que o mundo saberá apreciá-los com justiça”, afirmou.


*****


Associações queixam-se da polícia

Dirigentes da Associação do Activismo para a Democracia e uma outra que luta pelo desenvolvimento da participação cívica em Macau (Man Sang Hip Chon Wui, nome oficial em chinês) entregaram no edifício do governo uma petição dirigida ao secretário para a Segurança, Cheong Kuok Vá, em que protestam contra a actuação da polícia durante uma manifestação realizada no passado fim-de-semana. Segundo o texto da petição, a polícia procurou boicotar a manifestação, organizada por aquelas associações como forma de protesto contra “a corrupção e a má governação”.
Os dirigentes das duas associações querem que o governo abra um inquérito à actuação da polícia e puna os responsáveis pela tentativa de boicote. Segundo eles, a polícia começou por fornecer à população indicações erradas quanto ao local de concentração dos manifestantes. Depois, já no dia da manifestação, agentes da PSP pressionaram os dirigentes das duas associações para que iniciassem a marcha o mais depressa possível. Mais tarde, já com a manifestação a percorrer as ruas da cidade, a polícia montou um cerco impenetrável ao grupo de manifestantes, impedindo assim que outras pessoas se juntassem à marcha.
Ainda segundo esta versão dos acontecimentos apresentada pelos organizadores da marcha, que terminou mais cedo do que estava previsto por falta de um número significativo de participantes, a polícia “agiu intencionalmente para destruir a manifestação”. Os dirigentes associativos exigem da polícia um pedido de desculpas, e do governo a garantia de que no futuro o direito de manifestação será respeitado.


*****


PROMESSA DE EDMUND HO NAS CELEBRAÇÕES DO 8º ANIVERSÁRIO DA RAEM
Mais "transparência" e "sinceridade"
na acção governativa


O chefe do executivo de Macau apelou ontem a uma maior "transparência" da actividade política e "sinceridade" nas explicações da acção do governo junto da população.
Ao intervir na recepção do oitavo aniversário do regresso de Macau à soberania chinesa, Edmund Ho garantiu que o executivo vai continuar a implementar as "políticas e as medidas definidas, através do desenvolvimento de acções eficazes e seguras, de modo a assegurar gradualmente o pleno cumprimento dos compromissos assumidos no quadro das acções de governação relacionados com o crescimento económico e a melhoria da vida da população".
Defendeu também que "certos trabalhos, cujas condições se encontram reunidas, devem mesmo ser desenvolvidos com maior celeridade e precisão" embora, para isso, considere "essencial o aprofundamento da interacção com o público e fundamental a elevação do grau de transparência das acções" do governo.
"Devemos manter contactos estreitos com a população, explicar-lhe com sinceridade e detalhadamente o ponto de situação dos nossos trabalhos, mesmo aqueles que tenham sofrido ajustamentos, reportar-lhe os resultados obtidos e esclarecer as suas dúvidas, de modo a reforçar a sua confiança em relação às acções do Governo", afirmou Edmund Ho.
O chefe do executivo salientou que, se a população tiver conhecimento suficiente da acção política do governo, "poderá melhor exercer as suas funções de fiscalização e apoiar as medidas administrativas".
Edmund Ho destacou também o apoio do governo central à actual Região Administrativa Especial ao longo dos últimos oito anos, salientou a eficácia dos princípios "um país, dois sistemas" e "Macau governado pelas suas gentes", e disse que só na união de esforços entre administração e administrados é possível ultrapassar dificuldades e conquistar oportunidades.
"Com base na experiência destes oito anos, desde que o governo e a população se mantenham em união de esforços e desde que saibamos aplicar os conceitos que provaram a sua eficácia ao longo do tempo, as gentes de Macau poderão, de certo, agarrar as oportunidades e superar as dificuldades e os desafios do presente e do futuro", afirmou.
Sublinhando que o executivo não poupará esforços na construção de uma sociedade justa e íntegra, Edmund Ho recordou também que a população tem vindo a assumir "um superior sentido de responsabilidade, participando activamente nos assuntos públicos".
"Esta participação contou uma adesão crescente das comunidades, uma maior diversificação das temáticas e uma constante elevação de nível e, neste ambiente de participação, as forças vivas da sociedade têm exercido um importante papel de estímulo" à acção do Governo, concluiu.


*****


Pensar grande num pequeno mundo

Bernard Peres trouxe para Macau uma charcutaria e um supermercado com produtos europeus e lançou com sucesso um restaurante brasileiro e outro francês. Mas o núcleo duro do seu negócio são as miniaturas. Com exportações de milhões de dólares, o empresário explica como se está a tornar difícil ter sucesso em Macau e na China

Nuno Mendonça
em Shenzhen e Macau

Bernard Peres é um homem em permanente deslocação e em constante conversa no telemóvel. Seja no seu escritório em Macau ou na sua fábrica de Shenzhen (que ele dirige com um sócio chinês), este francês apaixonado por Portugal, pensa sempre como pode expandir a sua produção de miniaturas, conversando com clientes da América do Sul e da Europa, ou supervisionando os seus vários negócios em Macau.
Não é fácil negociar na China, mas aos 58 anos, os negócios de Bernard Peres incluem comércio a retalho e por atacado, restaurantes e a sua jóia da coroa: uma fábrica que produz miniaturas com distribuição em todo o mundo, um negócio avaliado em 30 milhões de dólares americanos por ano.

A paixão pelos carros de miniatura

Tudo começou com uma paixão por carros de miniatura que Bernard herdou de seu pai, enquanto crescia em Marselha. Depois de se formar na Escola Nacional Superior de Comércio, trabalhou brevemente na multinacional americana Xerox, mas a idéia de começar um negócio de miniaturas estava já a germinar. Em 1982, decide partir com a sua familia para o norte de Portugal e aplicar o seu sonho de infância numa escala industrial .
“O país tinha uma indústria de moldes bastante desenvolvida na Marinha Grande. Estava bem colocada e a mão-de-obra era bastante barata na altura,” Peres recorda.
Construíu uma fábrica na Maia, arredores do Porto. O negócio cresceu, e em paralelo cresceram também os custos de mão-de-obra. Em 1993, a competição estava a toprnar-se demasiado pesada, com muitas empresas a mudar-se para o extremo Oriente para aliviar os custos de produção. Bernard Peres fez o mesmo e em 1996, instalou-se em Macau com a família, depois de ter vivido um ano em Hong Kong. O território então sob administração portuguesa permitia a dois dos seus filhos continuar a frequentar uma escola portuguesa como faziam em Portugal. Macau seria a base dos seus projectos daí para a frente.
“Montámos a nossa primeira unidade de produção, na margem esquerda do rio das Pérolas com um primeiro sócio com o qual tivemos problemas, por isso fomos forçados a estabelecer uma outra sociedade e por acaso esse novo associado estava baseado em Shenzhen, e ficámos aí baseados,” Bernard Peres explica.

Produção em Massa de mini-productos

Se por acaso foi uma criança apaixonada por carros de miniatura, a entrada na Sonic International (Toys) Limited é um regresso à infância, já que nos dá a oportunidade de voltar a admirar os carros que fizeram os sonhos de muitos ao longo dos anos. Atenção que não estamos a falar de uma fábrica de brinquedos, mas sim de uma unidade de produção de miniaturas que faz as delícias de coleccionadores em todo o mundo.
Afábrica está localizada na zona industrial de Shenzhen, num parque industrial de 12 mil metros quadrados, onde 2200 trabalhadores se dedicam à produção diária de miniaturas. Ao visitar as diferentes etapas de produção, compreende-se mais claramente porque é que o mundo inteiro confia na China para a manufactura da maioria dos seus produtos, mesmo daqueles muito espcíficos como são as miniaturas.
Os escultores que trabalham nos protótipos, copiam-nos de fotografias de jornais e revistas, com uma precisão fascinante , apesar de nunca terem visto ao vivo os carros que reproduzem.
Bernard Peres e o seu sócio chinês abastecem dois mercados principais: o mercado a retalho que vende a marca produzida na fábrica, a IXO-Models, a uma rede de de lojas em mais de 30 paises espalhados pelo mundo. Vem depois o Mercado das publicações e aqui a expansão tem sido exponencial.
Peres trabalha com dois pesos pesados entre as editoras inernacionais: a italiana DeAgostini (que produz para Itália, Portugal, países de Leste e Japão) e a sua subsidiária espanhola, a Altaya (especializada em colecções de miniaturas para os mercados francês, espanhol e latino-americano).
A fábrica de Shenzhen produziu já mais de 60 colecções. Motos e Ferraris foram até agora as de maior sucesso.
“Fazemos mais ou menos 15 milhões de miniaturas ao ano para os nossos sócios das editoras. O nosso rendimento bruto total é de 30 milhões de dólares americanos ao ano,” revela Bernard Peres.
O empresário está agora a diversificar a sua produção: aviões da Segunda Guerra Mundial, soldados de chumbo (que voltaram a ficar na moda!) e até uma colecção de pequenas bonecas que representa as crianças do mundo.
Tudo isto é produzido na fábrica de Shenzhen e numa outra fábrica que sub-contratam, também na China continental.
“Em termos de miniaturas, somos líderes de mercado porque conhecemos os carros, o mercado e as miniaturas bem, e por isso podemos dar aos clientes um serviço completo,” salienta Bernard Peres.

Altos e Baixos nos negócios com a China

A hegemonia no negócio requer uma constante atenção a um contexto em rápida mudança. Custos de produção determinaram a mudança para a China nos anos 90 quando a mão-de-obra era barata e abundante. Mas o país, e em especial a província de Cantão, já não são tão atractivos como foram no passado.
Na China, a maioria dos trabalhadores de fábricas são migrantes, habitualmente mulheres, a maioria deles alojados pelos empregadores. O plano da maioria é trabalhar três a quatro anos, sacrificando-se para reunir o máximo de dinheiro que conseguirem. Depois regressam às suas terras, para casar, comprar uma casa ou montar um pequeno negócio.
“Isto significa que todos os anos, depois do ano novo chinês, temos de substituir 25 a 30 por cento dos trabalhadores,” conclui o empresário.
Dois problemas adicionais tornam agora o negócio mais difícil. A política de uma criança por família está já a criar problemas demográficos, com a consequente falta de trabalhadores, em especial mulheres. Há agora mais homens a trabalhar nas linhas de montagem, em geral menos pacientes que as mulheres e por isso mais inclinados a mudar de emprego com frequência.
Para agravar o problema, o governo chinês está a fazer da província de Cantão um centro de tecnologia avançada, estando por isso a deslocar fábricas de mão-de-obra intensiva para regiões menos desenvolvidas do Norte e Nordeste e assim atraindo trabalhadores migrantes para essas províncias.
Na Sonic International, não há trabalhadores a ganhar menos de 1000 renmimbis por mês, mas em geral, apenas aceitam o trabalho se puderem fazer regularmente horas extraordinárias pagas. Com a crescente falta de trabalhadores e os custos crescents, é fundamental ter um sócio chinês para enfrentar um contexto difícil.
“A relação com as autoridades é muito importante quando se tem um negócio na China. Esta relação é muitas vezes baseada em conceitos estranhos à cultura europeia. É dificil a um europeu lidar com eles. E mesmo para um sócio chinês é por vezes difícil lidar com o estilo ocidental,” confessa o empresário.
Um caso recente que teve impacto mundial foi a disputa que opôs a China e os Estados Unidos sobre um alegado excesso de chumbo nos ímans e na tinta aplicada em briquedos produzidos nas fábricas chinesas. A Mattel, o maior fabricante mundial de brinquedos, acabou por recolher 20 milhões de unidades. Depois de uma discussão azeda, com acusações de fiscalização deficiente às autoridades chinesas e o suicídio de um desesperado dono de uma fábrica, a Mattel acabou por pedir desculpa aos chineses, reconhecendo que muitos dos defeitos dos brinquedos tinham a ver com o design original dos mesmos. A IXO-Models tem uma licença da Mattel para produzir miniaturas de Ferraris (o gigante dos brinquedos tem direitos exclusivos de uso da marca italiana para produzir miniaturas e brinquedos), por isso Bernard Peres acompanhou o caso de perto.
“É muito difícil controlar estas coisas na China porque o que lhes aconteceu com a tinta, podia ter sucedido conosco. Não podemos controlar todas as latas de tinta que chegam à fábrica, é impossível ,” explica Bernard Peres.
O empresário argumenta que as notícias alarmistas espalhadas nos Estados Unidos e na Europa foram injustificadas e empoladas para disfarçar a crecente tensão entre a China e o Ocidente.
“Em muitos países, há uma forma de proteccionismo contra tudo o que vem da China. Não há um único caso registado da morte de uma criança devido ao chumbo nos brinquedos,” Peres salienta.
“É preciso compreender que hoje, 80 por cento de todos os brinquedos são feitos na China, as pessoas em todo o mundo não teriam dinheiro para comprá-los se fossem produzidos noutros países,” conclui o empresário.

Negócio Familiar em Macau

Antes do final de cada semana, Bernard Peres volta a reunir-se com a família, mas não para um descanso a tempo inteiro. Em Macau situa-se a outra frente do seu negócio, menor que a fábrica de miniaturas mas nem por isso com menos desafios. A charcutaria e hipermercado Gourmet, o restaurante francês Bistrôt e o rodízio brasileiro Churrascão são operações que envolvem todos os seus filhos.
“Toda a família trabalha. São três quotas que não tenho de pedir ao governo de Macau (risos). Se eu soubesse disto quando era mais novo, teria tido mais filhos para enfrentar os problemas laborais em Macau. Não forcei nenhum deles a trabalhar comigo, aconteceu assim. Tenho três negócios e cada um deles tem cada um dos meus filhos à frente. É um trabalho de equipa,” Bernard Peres explica.
Em Macau, o seu filho Eric está a frente dos restaurantes e a filha Karen coordena a charcutaria e supermercado bem como um armazém por atacado que fornece inúmeros restaurantes e hotéis locais com productos europeus frescos.
O que Bernard já construíu tem sido comparado a um pequeno império. Bernard não rejeita a palavra, e de facto a razão para o seu sucesso não esconde grandes segredos: trouxe a uma crescente comunidade de expatriados com poder de compra productos mais selecionados que não se encontravam nos supermercados locais.
“O Gourmet, e mais tarde o Hyper-Gourmet preencheram um vazio em Macau. Os expatriados gostam destas lojas,” sublinha Bernard Peres, que planeia agora o aumento de oferta de productos australianos e americanos.
Com a popularidade dos seus empreendimentos testada e comprovada, a questão seguinte é a manutenção dos negócios. Mas neste capítulo, o afável Bernard Peres transforma-se num empresário zangado e frustrado.
As suas queixas resumem-se em duas palavras: pessoal e rendas, exactamente as palavras que estão a forçar muitas pequenas e médias empresas de Macau a fechar portas.
Ora numa terra de casinos, o que Bernard Peres pede é um jogo justo.
“Perdemos pessoal porque não podemos competir com os casinos. Não posso pagar a uma empregada de caixa 15.000 patacas, mas ela pode ganhá-las num casino, se tiver um visto. Então, permitam-nos a importação de mais trabalhadores!”, desabafa Bernard Peres.
Adianta que não só não está contra a importação de mão-de-obra, como até está disposto a pagar mais impostos por isso. O que não pode aceitar á a situação existente.
“Esperamos meses e meses por uma resposta e quando finalmente chega é um ‘não’, justificado com razões que não podemos compreender,” lamenta Bernard Peres.
O empresário diz nada ter contra casinos, apenas contra o desrespeito sistemático pelo comércio local, também formado por investidores que são parte integrante da economia do território.
“Para mim, o investimento no supermercado foi mais arriscado do que o de Steve Wynn, foi mais perigoso para mim. Precisamos de ajuda e não estamos a recebê-la, pelo contrário, estão a matar-nos,” queixa-se o empresário.
Rendas elevadas estão também a apressar a morte lenta das pequenas e médias empresas. Bernard Peres compara os aumentos ao “Far-West”, com os senhorios a duplicar rendas a seu belo prazer, sem qualquer intervenção do governo, que de acordo com o dono do Gourmet devia ser a força reguladora no Mercado para evitar este clima de “vale tudo”.
Mas apesar das contrariedades, este francês por nascimento e português de coração, não se vê a viver noutro país que não a China.
“Investi muito dinheiro em Macau, mas estou desapontado com os resultados. Estou desiludido mas gosto de Macau. Não penso em regressar à Europa, porque trabalho com miniaturas e isso não é possível na Europa. Talvez um dia vá até à Coreia do Norte. Eu costumo brincar com a ideia de que um dia vamos todos encontrar-nos na Coreia do Norte.”

Exclusivo Macau Closer/Ponto Final


*****


CCAC faz o que pode para trazer foragidos

Cheong U, do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), comentou ontem a notícia de que Pedro Chiang, um dos arguidos no processo Ao Man Long que está foragido, terá adquirido acções da Honesty Treasure International Holdings, no valor de 110 mil dólares de Hong Kong. Para Cheong U, o CCAC está a fazer tudo o que pode, dentro dos mecanismos legais, para trazer para Macau testemunhas e arguidos no processo. Assim, diz, tem colaborado estritamente com as autoridades congéneres do território vizinho.
Sobre o caso concreto do empresário Pedro Chiang, porque se trata de um processo abrangido pelo segredo de justiça, Cheoong U escusou-se a tecer comentários.


*****


Consumo de Ketamina na urgência do S. Januário

Um jovem foi detido no hospital Conde S. Januário depois de ter sido descoberto a consumir droga numa casa de banho da zona das urgências.
O jovem, de 23 anos, apelido Leong e vendedor ambulante, estava já há muito tempo ali fechado quando uma enfermeira, receando que se tivesse sentido mal, chamou um guarda da segurança para abrir a porta. Quando a porta foi aberta, o jovem estava a drogar-se e tinha em seu poder 3 gramas e meia de Ketamina. Mais tarde, perante a polícia, o jovem confessou ter comprado a droga num clube nocturno, dias antes.
O caso foi já enviado pela polícia para o Ministério Público.


*****


AVANÇADO HUGO AFONSO ALINHOU DE INÍCIO
Misto de Macau perde com South China
em jogo de aniversário da RAEM



Não foi a habitual selecção de Macau, mas um misto de jogadores de vários clubes. Hugo Afonso foi o único português a alinhar de início. A formação do território foi batida por 5-0 pelo South China, de Hong Kong. Voltou a ficar demonstrada a grande diferença de potencial

Vítor Rebelo
rebelo20@macau.ctm.net

Tratou-se de uma partida quase a brincar, num dia de aniversário da passagem de soberania de Macau para a República Popular da China. O encontro foi organizado pela Associação de Futebol de Macau e o South China prestou-se a vir até à RAEM, até porque tem um treinador português, José Luís, antigo jogador do Benfica.
Serviu perfeitamente ao South China, que está empenhado em voltar a ganhar o campeonato deste ano na RAEK. Recorde-se que em 2006 o clube mais antigo de Hong Kong começou por ser orientado pelo antigo guarda-redes de FC Porto e Benfica, Jorge Amaral, acabando a temporada sob as ordens do brasileiro Casemiro Mior, que ficou assim com os louros do título.
Este ano o presidente do South China voltou a apostar num treinador luso e José Luís tem agradado, com os resultados a aparecerem.
Em relação a Macau, reuniram-se jogadores de diversas equipas, num misto treinado por Chan Hou Kong, orientador habitual do conjunto de sub-21, que participa no campeonato da I Divisão.

Dois “onzes” diferentes
para testar jogadores

Alinharam duas formações distintas, a primeira com gente mais velha, mais experiente, onde se integrou o português Hugo Afonso (alinhou na frente de ataque ao lado do nigeriano Nwardo), avançado do Hoi Fan que tem dado nas vistas neste inicio de época. Marcou dois dos três golos com que o Hoi Fan venceu, na segunda jornada, o Heng Tai. Foi por isso chamado a este particular diante do South China.
“Gostei de ter alinhado por esta equipa de Macau, mas era difícil fazer melhor. Ninguém se conhece em campo, não há por isso entrosamento e não teríamos grandes hipóteses de discutir o resultado com o South China. É uma equipa de outro nível”, disse Hugo Afonso ao PONTO FINAL, no rescaldo deste amigável de aniversário da RAEM, realizado no relvado do Estádio da Universidade de Ciência e Tecnologia.
Um desafio que aconteceu três dias antes do Hoi Fan defrontar alguns dos jogadores que estiveram ontem no confronto com o South China, ou seja, os jovens dos sub 21, equipa patrocinada pela Associação de Futebol de Macau, tendo em vista os Jogos da Ásia Oriental de 2009 em Hong Kong.

Hoi Fan quer continuar
a dar nas vistas

Relativamente à partida de domingo e ao campeonato de uma forma geral, Hugo Afonso diz que ainda é cedo:
“Ainda não podemos tirar grandes conclusões. Vamos fazer o que nos for possível, mas sabemos que há equipas que treinam mais do que nós. No entanto, tentaremos lutar entre os primeiros, até porque no Hoi Fan se reforçou bastante com jogadores da República Popular da China e isso pode ajudar a bons resultados. Nesta equipa é tudo novo, em especial para mim, precisamos de mais entrosamento para atingirmos níveis como tem Lam Pak ou Monte Carlo.”
Hugo Afonso esteve ausente de Macau durante cerca de 12 anos e regressou em 2005, depois de algumas épocas a jogar futsal em Portugal. Na última temporada, antes de viajar de novo para o território, o “ponta-de-lança”, de 32 anos, foi campeão pelo Segunda Comuna, de Alcântara, da III Divisão Distrital, ajudando à subida de divisão, num plantel onde alinhou igualmente um antigo jogador do futebol macaense, Fonseca.

Jogo grande da ronda
com Lam Pak-Vong Chiu

O campeonato de Macau do escalão principal regressa assim no fim-de-semana, depois da interrupção provocada pela presença da selecção principal na Taça de Aniversário, diante dos chineses de Guangdong. Macau perdeu os dois desafios, 2-0 na primeira mão em Zhuhai e 3-1 em casa.
Na terceira ronda da prova interna, e para além do desafio referido atrás, entre Hoi Fan e Sub 21, há a salientar o embate Lam Pak-Vong Chiu, o primeiro duelo de candidatos desta temporada.
Os dois clubes estão empatados no segundo lugar com o mesmo número de pontos, ao lado do Hoi Fan, com uma vitória e um empate. Melhor só o Monte Carlo, que soma por vitórias os dois encontros disputados.
O Vong Chiu surgiu esta época com uma equipa semelhante à do ano passado, mas com uma ausência importante, o camaronês Wamba, que se mudou para o rival Monte Carlo.

Duas equipas igualadas
com quatro pontos

O “onze” treinado Wu Kam Fai, que é também adjunto no South China de Hong Kong, aglutinou alguns dos elementos que actuaram o ano passado pelo Kin Chong, uma vez que o “patrão” é o mesmo. É por isso um sério candidato ao título, depois de ter terminado na segunda posição em 2006/2007.
Sabe-se, entretanto, que o Lam Pak é uma equipa muito equilibrada entre os diversos sectores, porque a maioria dos seus elementos actua em conjunto há vários anos. O treinador é Chan Man Kin também ele carola do clube.
O Lam Pak desperdiçou dois pontos na abertura da prova (1-1 face ao Hoi Fan), mas goleou logo a seguir o Vá Luen (6-0), num resultado que surpreendeu muita gente, uma vez que a equipa orientada por Pereirinha tinha conseguido um bom resultado na jornada inaugural (2-2 precisamente diante de Vong Chiu).
Vong Chiu que obteve a primeira vitória este ano face à Policia de Segurança Pública por 3-2, portanto com dificuldade.
Daí que o favoritismo vá para o Lam Pak, sem contudo esquecer que se trata de uma partida entre favoritos aos primeiros lugares e onde tudo pode acontecer.

Polícias aguerridos
para líder da prova

Relativamente ao líder do campeonato, Monte Carlo, os “azuis e amarelos, agora sem Wamba, do qual falamos em artigo separado, terá pela frente um adversário (Policia) nada macio e que discute os resultados até ao último minuto, muito graças à sua boa preparação física.
Os policiais venceram por 1-0 os sub-21 e só perderam pela margem mínima com o Vong Chiu. O encontro promete, embora o Monte Carlo se apresente com mais argumentos que o seu opositor, agora com o jovem cabo-verdiano Alison Brito, que parece ser a solução do técnico Tam Iao San, para colmatar a ausência de Wamba.
Resta falar do jogo entre Vá Luen e Heng Tai. Duas equipas “feridas” pelos últimos desfechos, por números dilatados. Heng Tai perdeu por 3-0 (Hoi Fan) e Vá Luen foi ultrapassado por 6-0 (Lam Pak). O duelo promete.

Programa da jornada:

Sábado
Lam Pak-Vong Chiu (14 horas)
Heng Tai-Vá Luen (16)

Domingo
Sub 21-Hoi Fan (14)
Monte Carlo-Policia (16)

CAIXA
Monte Carlo despede Wamba
por razões disciplinares

Confirma-se a decisão dos responsáveis do Monte Carlo em afastar definitivamente da equipa o camaronês Wamba. O médio incompatibilizou-se com o treinador Tam Iao San e recebeu ordem de expulsão do plantel, não mais podendo alinhar esta temporada por outra qualquer equipa, isto se forem cumpridos os regulamentos.
O mau entendimento com o técnico já vinha do inicio da temporada, tudo por causa do temperamento do jogador, que não era muito bem aceite pelos seus companheiros, pelo facto de criticar frequentemente dentro do campo.
Antes do encontro com os sub-21, Tam Iao San fez a habitual palestra e não terá gostado da atitude “distraída” de Wamba. Chamou-o à atenção e obteve como resposta palavras que não terá gostado. Deu-lhe ordem de saída do balneário, comunicando-lhe que não contava mais com ele na equipa.
A decisão foi comunicada ao presidente Firmino Mendonça que se mantém ao lado do técnico. Resta saber agora qual vai ser o futuro do centro-campista, que jogou em Hong Kong antes de vir actuar no futebol de Macau.

Edições Anteriores

Arquivo

DIRECTOR Paulo Reis REDACÇÃO Isabel Castro, Rui Cid, João Paulo Meneses (Portugal); COLABORADORES Cristina Lobo; Paulo A. Azevedo; Luciana Leitão; Vítor Rebelo DESIGN Inês de Campos Alves PAGINAÇÃO José Figueiredo; Maria Soares FOTOGRAFIA Carmo Correia; Frank Regourd AGÊNCIA Lusa PUBLICIDADE Karen Leong PROPRIEDADE, ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Praia Grande Edições, Lda IMPRESSÃO Tipografia Welfare, Ltd MORADA Alameda Dr Carlos d'Assumpção 263, edf China Civil Plaza, 7º andar I, Macau TELEFONE 28339566/28338583 FAX 28339563 E-MAIL pontofinalmacau@gmail.com