21.1.08

CONVIDADOS PARA CANTAR EM HONG KONG E PREMIADOS EM PEQUIM
Coro Perosi, um ilustre
desconhecido em Macau

O coro Perosi só pede que os seus 40 cantores não desafinem. A maioria são chineses do continente, mas também há quem tenha ascendência portuguesa e filipina

Marta Curto

Juntam-se todos os sábados às 16.30, num 16º andar atrás da Praça Tap Seac. As igrejas conhecem-nos com o pomposo nome de Coro Perosi, mas naquela sala, onde mais de 40 cadeiras se alinham à frente de um piano, só se senta gente simples, que gosta de cantar. Não ambicionam ser um José Carreras, nem uma Maria Callas. Só não querem desafinar. E o único critério para entrar no coro é mesmo esse: "Desde que as pessoas não desafinem, podem entrar no coro". João Ng é o maestro de serviço e o motor do coro, que já existe há 10 anos. Embora ainda seja sobejamente desconhecido pela maioria dos residentes de Macau, a verdade é que o coro já foi convidado para cantar em Hong Kong, Zhongshan e Pequim, onde participou, em 2002, no VI Festival Internacional de Coro da China, ficando em terceiro lugar como melhor grupo adulto de coristas, melhor interpretação de música chinesa e
melhor pianista acompanhante. Este ano, têm dois concertos programados em Macau, e, em Setembro, irão gravar o seu primeiro CD, que esperam ter à venda em Dezembro. E tudo terá começado com um sonho.
Em 1992, João Ng viu um coro de 70 pessoas actuar numa igreja de Macau. "Pertenciam a diferentes coros sacros, mas, naquela eucaristia, juntavam-se todos para cantar", conta o maestro. Aquela era a prova de que existia muita gente com vontade de cantar. Poderia não ser assim tão difícil montar um coro. Não precisavam de ser grandes cantores, mas formarem uma só voz harmoniosa.
A ideia ficou-se-lhe e durante quatro anos foi pensando na melhor forma de a concretizar. O seu entusiasmo acabou por contagiar os amigos Chao e Young, e os três acabaram por falar com coristas de diferentes igrejas, sondando o interesse. Juntaram-se 30 pessoas com um objectivo: actuar no dia 31 de Março de 1997 na Igreja de São Lourenço. "Só tivemos tempo de ter dez ensaios, mas correu tão bem e as pessoas gostaram tanto, que quiseram continuar. Até hoje", remata João. No primeiro concerto cantaram-se obras do compositor italiano Lorenzo Perosi. Ficou o nome.
Quando foi registado, o coro Perosi definiu-se como uma associação musical de natureza não lucrativa que tem como objectivo fomentar a arte vocal, desenvolver o interesse pela música e promover a cultura musical no território. Melhor dizendo, o coro Perosi vive de apoios públicos e privados, e apoia-se na força de vontade dos seus membros.

Da Tia Anica à Broadway

Alto, magríssimo e com uma enorme serenidade no olhar, João partilha a luta e a paixão pela música com a mulher, Cecília, professora de mandarim na Escola Portuguesa de Macau. Todos os sábados, o maestro repete a mesma lenga-lenga. Ensaia-se o Tia Anica de Loulé, o Viva La Musica, assim como musica religiosa, clássica chinesa, folclórica de diferentes línguas, de Broadway e de negro espiritual. "Este não é um coro católico, aliás, penso que menos de metade dos cantores sejam católicos. Mas também nunca lhes perguntei qual era a religião de cada um", explica João Ng.
Os cantores lá se dividem entre os tons de voz. Sopranos, contraltos, tenores e baixos interpretam a música à sua vez. Embora os homens contem um terço do número de mulheres, João explica que a capacidade vocal masculina é melhor. Dos 30 cantores iniciais poucos restam hoje. "Temos mais de 40 pessoas, mas não sei dizer quantas, já que entram uns e saem outros constantemente", explica João. A única homogeneidade do coro, para além do gosto pelo canto, é a idade, já que todos têm mais de 30 anos, alguns chegando mesmo aos 70. "Na sua generalidade, são chineses do continente, mas também há gente com ascendência portuguesa e já tivemos cantores filipinos", conta o maestro, que faz a selecção dos candidatos.
A maioria vem através de amigos que já integram o coro, outros entusiasmam-se tanto a ver um concerto, que, no fim, vêm perguntar como podem entrar no grupo. "Eu faço primeiro uma entrevista, depois um teste de audição e vejo também se sabem ler partituras. Não costumam ter formação musical, por isso só lhes posso exigir que não desafinem", explica João.
Ainda não há datas concretas para os próximos concertos, mas esperam-se dois até ao final do ano. Sendo que as actuações - e escolha de repertório - do coro têm sempre um tema, cantar-se-ão peças renascentistas na primeira leva e obras de Macau no segundo concerto. As composições feitas na RAEM são aliás um dos investimentos do coro Perosi nos últimos três anos, e o CD, previsto para Dezembro, será uma compilação desses temas.

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