23.1.08

FUNDO DE DESENVOLVIMENTO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS QUER PRÉMIOS PARA INVESTIGADORES
Macau como pólo científico

Marta Curto

"Estamos a estudar a possibilidade do Governo de Macau entregar prémios aos melhores resultados das investigações financiadas pelo Fundo de Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia", disse ontem Tong Chi Kin, presidente do Conselho de Administração da instituição, na conferência de imprensa que o FDCT realizou no final da primeira reunião de 2008. O objectivo da reunião era fazer um balanço dos três anos de existência, assim como anunciar intenções para 2008, mas serviu para mostrar a vontade de Macau se tornar um pólo de investigação cientifica.
"O que fizemos desde 2004 foi preparar o terreno e sensibilizar escolas e investigadores. Diz-se que Macau é só jogo, mas não é verdade. Macau tem um bom ambiente para investigação científica", acrescentou Tong Chi Kin. Prova disso são as propostas de vários investigadores estrangeiros que, segundo o presidente, já terão mostrado interesse em colaborar com os projectos de Macau. "Os investigadores de Macau também têm formado grupos de trabalho com técnicos de várias províncias da China continental, nomeadamente com Guangdong, para estudarem medicina chinesa, protecção ambiental, poupança de energia e a divulgação da ciência. Isso mostra que Macau tem fortes capacidades a nível tecnológico e científico. Mas o caminho tem de começar nas escolas de Macau, e é por isso que os projectos que financiamos são tão importantes", explicou Tong.
Desde a criação do Fundo, foram requeridos 213 pedidos de financiamento, dos quais 99 foram aprovados, tendo a maioria vindo da Universidade de Macau e da Universidade da Ciência e Tecnologia.
Os mais recentes projectos a concluírem a investigação mostram que, realmente, Macau pode não ser só jogo. "Um deles é um sistema de memórias de Macau, que vai ajudar a informatizar as bibliotecas e pode entrar já em funcionamento. Temos também um estudo centrado no ADN, que pretende evitar a transferência de tumores para outros órgãos. Este projecto teve um financiamento de 280 mil patacas (a média é um milhão), mas, mesmo com um valor tão baixo, conseguiram resultados impressionantes", contou Tong Chi Kin.
Os investigadores em causa precisaram de se deslocar à China para acabar o trabalho, que exigia experiências em animais, e Macau não tinha instalações adequadas. Esta será, aliás, uma das lutas para 2008.

Um longo caminho

"Esperamos ter mais gente a fazer investigação e vamos tentar ter mais recursos para divulgar a ciência nas escolas, tanto de ensino secundário como superior. Esperamos que, com o tempo, haja mais consciência da importância da ciência e aumentem os investimentos para dar condições à investigação", prevê o responsável, que recordou uma história que mostra o longo caminho que há ainda a percorrer.
Há cerca de dez anos, Tong Chi Kin perguntava ao reitor da Universidade de Macau quanto teria sido investido pelo estabelecimento em Ciência e Tecnologia. O reitor respondeu dois milhões. Tong achou pouco. Recentemente, colocou a mesma pergunta e a resposta foi de 10 milhões. "E mesmo assim é pouco. Se virmos bem, desde 2004, o FDCT tem investido anualmente cerca de 33 milhões em projectos. Mas este é um numero irrisório comparativamente ao que China e Hong Kong investem nesta área".
Uma das razões para a discrepância de valores pode ser o facto de se terem definido áreas de investigação na China continental e em Hong Kong. Na RAE vizinha, por exemplo, os esforços concentram-se em cinco áreas e, para isso, foram criados cinco centros. "Face à situação actual de Macau e aos pedidos de financiamento que nos são feitos, penso que teríamos duas áreas principais: tecnologias de informação e medicina tradicional chinesa", explica Tong.
Mas nada disto ainda está em vias de se concretizar. Por enquanto, são aceites projectos de todas as áreas, nomeadamente actividades de investigação científica que as próprias escolas criam. Esta é, aliás, uma das prioridades do FDCT, já que em 73 pedidos de financiamento de escolas para estas iniciativas, foram atribuídos 72.
"Em média, nós aceitamos 51 por cento dos pedidos feitos, e aos que não são aceites explicamos por escrito as razões da recusa", garante o presidente. Tong conta que já foi apresentado um projecto que era uma exacta cópia de um estudo russo.
Um júri, composto, entre outros, por investigadores americanos e australianos reúne-se uma vez por ano para pontuar os projectos a concurso. Segundo padrões internacionais, são avaliados critérios como a capacidade da equipa proposta, a utilidade futura do projecto, a sua viabilidade e inovação. Mesmo durante o projecto, representantes do FDCT encontram-se com os pesquisadores para conhecer o ponto da situação, entender que dificuldades estão a ter, se estão a cumprir os prazos propostos ou a usar os melhores meios. "Antes, os projectos eram de um ou dois anos, mas, desde o ano passado que temos dado três anos para terminarem os estudos. Sabemos que assim teremos maior qualidade nos resultados".
Mesmo assim, três anos é pouco tempo para formar uma classe qualificada de investigadores em Macau. Tong estima serem necessárias décadas para que os resultados dos esforços de hoje tenham repercussões a nível social e empresarial. Mas há que começar por algum lado.
O mesmo acontece com os resultados dos projectos. Ainda terão um longo caminho a percorrer até chegarem a ser um produto comercial. Ainda assim, Tong acredita que Macau tem muito mais para oferecer do que folia e diversão. "O nosso maior objectivo é servir a sociedade, nomeadamente formando recursos humanos que melhorarão a qualidade de vida de pessoas e empresas".

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