23.1.08

MERCADOS FINANCEIROS EM QUEDA ATINGEM FINALMENTE XANGAI

A crise chegou à China

A bolsa de Xangai foi a última a ressentir-se das quedas das bolsas mundiais devido a receios de recessão nos Estados Unidos. Em Hong Kong, registou-se ontem a pior queda de sempre: 8,65 por cento

A crise nos mercados financeiros chegou ontem à China, que era até agora um oásis de crescimento no meio das quedas das bolsas mundiais, com Xangai a cair 7,22 por cento devido a receios de recessão nos Estados Unidos.
A quebra de ontem na bolsa de Hong Kong teve também efeitos na praça de Xangai, uma vez que muitas empresas chinesas estão cotadas nos dois mercados.
Hong Kong sofreu ontem a sua pior perda de sempre - 8,65 por cento - ainda pior que os 5,5 por cento registados na segunda-feira.
As perdas de ontem, as piores da bolsa de Xangai desde 4 de Junho de 2007 são ainda mais dramáticas, uma vez que se seguem à quebra de cinco por cento na segunda-feira, com os accionistas a vender em pânico, receando que a crise dos créditos hipotecários nos Estados Unidos se espalhe às empresas chinesas.
"As pessoas temem que a crise agravada dos créditos hipotecários de alto risco possa provocar uma recessão económica dos Estados Unidos, o que reduziria a procura dos produtos chineses no mundo," disse Su Yanzhu, gestor de fundos na correctora China Southern, citado pela agência oficial chinesa Xinhua.
A ajudar ao pânico dos investidores veio também a suspensão da cotação dos títulos do Banco da China, o terceiro maior banco comercial do país, após notícias de que o banco está prestes a anunciar grandes perdas resultantes de investimentos em veículos relacionados com o crédito hipotecário nos Estados Unidos.
O Banco da China tem cerca de 7,95 mil milhões de dólares investidos neste tipo de produtos, segundo a imprensa financeira de Hong Kong e as entidades reguladoras do sector bancário chinês já avisaram que as perdas se podem estender aos outros grandes bancos comerciais do país, nomeadamente ao Industrial and Commercial Bank of China e ao China Construction Bank.
O índice Shanghai Composite perdeu ontem 354,68 pontos, fechando nos 4.559,75 pontos com uma liquidez de 154,84 mil milhões de renminbis.
A bolsa chinesa vivia até agora uma época de crescimento sem precedentes, ajudada em parte pela entrada de capitais de investidores domésticos e estrangeiros que se recusavam a aceitar que a bolha especulativa pudesse rebentar. A bolsa chinesa subiu 130 por cento em 2006 e cresceu 97 por cento em 2007.

Ásia a cair

A maior parte das bolsas asiáticas sofreram ontem perdas monumentais, em pânico com as perspectivas de recessão nos Estados Unidos, principal cliente das exportações daquela zona do mundo, e pelas consequências para o conjunto da economia mundial.
As descidas vertiginosas ultrapassaram 5 por cento em Tóquio, enquanto em Bombaim e Seul as sessões bolsistas foram suspensas face aos resultados desastrosos.
Em Tóquio, segunda principal praça financeira mundial, o índice Nikkei terminou no nível mais baixo dos últimos 28 meses, com uma queda de 5,65 por cento, depois de uma descida de 3,86 por cento na segunda-feira.
Em Seul, a sessão da bolsa foi suspensa temporariamente quando o índice Kospi baixou 6,23 por cento.
No recomeço das negociações o índice recuperou ligeiramente e acabou por fechar em queda de 4,43 por cento.
A bolsa de Bombaim também foi temporariamente suspensa depois da queda monumental do índice Sensex, que perdeu 9,75 por cento na abertura.
Tal como em Seul, a reabertura do mercado mostrou alguma recuperação, embora ainda em perda de 3,47 por cento, depois de na segunda-feira ter batido o recorde de descida, ao fechar com uma baixa de 7,41 por cento.
“O pior já passou. O mercado vai recuperar das perdas sofridas. Este pânico não tem qualquer motivo racional, porque as bases fundamentais da economia indiana não podem mudar de um dia para o outro”, comentou um analista.
A bolsa de Sydney fechou a perder 7,05 por cento, a queda mais acentuada desde Outubro de 1997, enquanto Manila fechava a cair 5,52 por cento e Taipe perdia 6,51 por cento.
A Nova Zelândia foi o único mercado asiático relativamente poupado, a perder apenas 1,09 por cento.

Europa idem aspas

A Euronext Lisboa abriu ontem em queda, com o PSI 20 a perder por 1,91 cento, para os 10.596,00 pontos.
Na segunda-feira, a bolsa portuguesa fechara em baixa acentuada, perdendo 5,83 por cento, para os 10.823,12 pontos, no que foi a maior descida diária desde Outubro de 1998. Desde o início do ano o PSI 20 já perdeu 16,9 por cento, acompanhando as perdas nas bolsas mundiais.
Meia hora após o início da sessão, a Euronext Lisboa agravava as perdas, caindo 3,82 por cento, em linha com as restantes bolsas europeias.
Às 8.30, o índice Euronext 100 perdia 3,63 por cento para 806,21 pontos, enquanto o DJ Stoxx 50 caía 3,80 por cento para 3.019,17 pontos.
Após o crash de segunda-feira, os mercados bolsistas continuam a cair em todo o mundo, com as praças asiáticas, as primeiras a abrir, a darem o mote, registando as maiores quedas desde 1990.
O índice dos futuros norte-americanos está em baixa, deixando prever uma abertura em queda da bolsa de Nova Iorque, que segunda-feira se encontrava fechada por ser feriado nos Estados unidos.
Os receios, que já é praticamente uma convicção, de que a que os Estados Unidos entraram em recessão estão a afectar todos os sectores, "sem discriminação", da banca às petrolíferas e companhias mineiras, passando pelo retalho.
Frankfurt liderava as quedas com um recuo de 5,10 por cento, Madrid seguia em baixa de 4,27 por cento, Londres caía 3,85 e Paris 3,68 por cento.
Na Euronext Lisboa, a Galp Energia era o único título a negociar no verde, subindo às 8:30, 2,56 por cento para 14 euros.
A petrolífera portuguesa dominava o início de sessão com mais de 25 milhões dos 64,7 milhões de euros realizados ao seu activo.
A Soares Costa liderava as perdas, com uma queda de 13,79 por cento para 1,25 euros.
A Cimpor recuava 8,03 por cento, a Mota Engil, a Jerónimo Martins e a BCP perdiam um pouco mais de 7 por cento.
O maior banco privado português era o terceiro título mais negociado, transaccionando abaixo de 2 euros (1,93).
Entre os títulos de maior peso no índice, a EDP seguia em baixo de 5,26 por cento e a PT Telecom, segundo título mais procurado, de 3,29 por cento.


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ESPECIALISTAS ANALISAM BOLSA DE HONG KONG
Comportamento "irracional"

A bolsa de Hong Kong registou ontem a maior queda de sempre ao baixar 8,7 por cento depois de na segunda-feira já ter descido 5,5 por cento, um comportamento que os analistas consideram "irracional".
A queda ontem registada no mercado da antiga colónia britânica é justificada com os receios dos investidores de uma recessão nos Estados Unidos, mas analistas do mercado consideram a reacção "exagerada" e o comportamento da bolsa "irracional".
O índice Hang Seng fechou a cair 2.061,23 pontos para 21.757,63, numa sessão que registou um mínimo de 21.709,63 pontos e um máximo de 22.713,69 pontos.
"Os investidores de curto e longo prazo estão a vender os seus activos porque ninguém quer ficar magoado, mas é claro que é uma reacção exagerada", afirmou Castor Pang, da Sun Hun Kai Finantial, para quem a queda do Hang Seng abaixo de todos os níveis previstos é "irracional".
Por isso, Matt McKeith, da First State Investments, insiste que os investidores se devem manter optimistas.
"Obviamente que houve alguns danos nos mercados ocidentais e há sinais de algum abrandamento mas o crescimento asiático está fundamentalmente bom", assinalou McKeith.
"No entanto, é demasiadamente optimista dizer que os mercados asiáticos vão continuar a crescer da mesma maneira como até agora, ao mesmo tempo, que é pessimista afirmar que o crescimento na Ásia acabou", concluiu.
O volume de negócios na bolsa foi de 115,76 mil milhões de dólares de Hong Kong.
Desde que atingiu um pico de 31.638 pontos a 30 de Outubro de 2007, a bolsa de Hong Kong já perdeu 31,2 por cento ou 9.881 pontos.

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