10.1.08

1456 Série III Ano XVI

SEGUNDO CONCURSO PÚBLICO DA RAEM
Terrenos vendidos por quase 1423 milhões de patacas

Os dois lotes foram arrecadados pelo mesmo empresário, que os levou por um preço dez vezes superior ao proposto pelo Governo. Servirão apartamentos de luxo e poderão vir a inflacionar ainda mais o mercado

Marta Curto

Quando a última proposta ao segundo lote, ontem a concurso para adjudicação de concessão, foi lida, Liu Hei Wang sorriu e levantou-se com ar vitorioso. Director executivo da empresa de Macau Companhia de Investimento Tin Wai, lda, Liu já havia ganho o leilão do primeiro lote a concurso, apresentando a licitação mais alta. Pelo terreno de 1700 metros quadrados no Patane, com um preço base de 55 milhões de patacas, o empresário irá pagar dez vezes mais, 555 milhões. O segundo e maior lote, de quase três mil metros quadrados e localizado na mesma zona, começou com um preço de 95 milhões de patacas. Chegou aos 867 milhões e 928 mil patacas, com alguma distância da segunda proposta mais elevada, feita pela Companhia Felicity Lda (também já havia ficado em segundo no primeiro leilão), que avançou com pouco mais de 700 milhões. No caso de empate é que se procederia a uma licitação verbal que teria feito as delicias dos media, mas o entusiasmo do vencedor já dava as imagens necessárias.
"O projecto demorará dois anos e meio a ser concluído e tratar-se-ão de habitações de luxo, cujo tamanho das fracções ainda não está decidido", explicou logo o vencedor às dezenas de jornalistas que o cercaram com flashes, objectivas e gravadores. Ambos os terrenos adjudicados estão destinados à habitação, cujas torres residenciais deverão ter uma altura máxima de 90 metros, comércio e estacionamento. "O preço pago é alto, e claro que é sempre um risco, mas penso que dentro de dois anos as acessibilidades serão melhores e aquela zona é uma mais valia, nomeadamente pela paisagem", admitiu, acrescentando que acredita que "aquela localização e o desenvolvimento, que eu espero que a zona venha a ter, vão rentabilizar o imóvel".
A questão das acessibilidades no Patane já havia ontem sido referida por um representante da Associação dos Construtores Civis à TDM, mas o engenheiro Jaime Roberto Carion, presidente da Comissão de Terras responsável pela revisão das propostas, desdramatiza a situação dizendo que "não sei o que ele quer dizer com isso, há acessibilidades de vários tipos".
Liu não se deixa levar porque sabe bem do que fala. O seu irmão mais velho, Liu Chak Wang já tem construções naquela zona e não é por acaso que o vencedor do concurso diz que "eu acredito que o desenvolvimento de uma zona não depende só de uma pessoa ou de uma obra. Para além deste dois terrenos temos outros projectos na zona".
Talvez seja por isso que Liu Hei Wang admita não estar a considerar parcerias com empresas de Hong Kong. "O projecto só será feito por pessoas locais, sem capitais de mais lado nenhum". Uma das condições da candidatura era a empresa ter sede em Macau, ou pelo menos um com residência permanente na RAEM e afectar um capital à sua actividade cá. Poderão ter entrado a concurso empresas com capital ou sede que não de Macau, mas a comissão de terras não reuniu esses dados. " Não se sabe quantas empresas que fizeram propostas têm capital estrangeiro", explica o porta-voz da Comissão de Terras.

Uma experiência para o Governo

Não há dúvidas que há interesse por estes terrenos, nem que seja porque concursos públicos são escassos e terras também. Se eram aguardadas meras 15 propostas, a verdade é que chegaram 37 à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, e 12 das empresas concorreram à adjudicação dos dois lotes.
Mais, houve companhias criadas de propósito para uma candidatura ao concurso. Tantas, que a comissão responsável por analisar as propostas teve de mudar as regras. A primeira versão do regulamento exigia um documento das finanças que comprovasse a situação regular das empresas nos últimos cinco anos. Mas demasiados 'casos especiais' fez a comissão chegar a um consenso quanto a não obrigatoriedade da certificação para as empresas mais recentes.
Ainda assim, três das propostas foram excluídas do concurso, a Mei Lei Pou Companhia de Investimentos, a San Hong Seng Enterprises (International) Company, Ltd e Chiu Tak Chiang, que se candidatou como pessoa individual. Este último não tem residência permanente em Macau, Mei Lei Pou não entregou os documentos de identificação em envelope separado da proposta - condição obrigatória para manter a candidatura secreta - e a San Hong Seng Enterprises tem quatro desrespeitos ao regulamento. O porta-voz da Comissão de Terras explica que estas falhas acontecem porque "mesmo conhecendo os regulamentos, as pessoas pensam que a proposta poderá eventualmente passar, mesmo sem preencherem os requisitos necessários". Um dos excluídos já disse que tenciona interpor recurso por ter sido excluído do processo (ver caixa).
O próximo passo é apresentar a adjudicação provisória ao Chefe do Executivo sob forma de uma acta. Edmund Ho depois fará a homologação para adjudicar definitivamente o terreno. Carion admite não existir um prazo para o terreno ser adjudicado em definitivo, mas quando isso acontecer a empresa terá dez dias para pagar os primeiros dez por cento da proposta apresentada. Quando for enviada a declaração de aceitação das condições do contrato de concessão, serão entregues mais 30 por cento. O pagamento dos restantes 60, e respectivos juros à taxa anual de cinco por cento, será depois feito em prestações semestrais que terão inicio seis meses após a publicação do despacho que titula o contrato de concessão no Boletim Oficial.
"O governo vai ver como se desenrola o processo, para decidir continuar ou não a fazer concursos públicos. Temos de ver isto como uma experiência", explicava o presidente da Comissão de Terras, Jaime Roberto Carion.

CAIXA
Inflação de 800% em 4 anos

Em 2004, quando o primeiro concurso público foi aberto para adjudicar um terreno de mil metros, situado no Patane tal como os dois lotes a concurso ontem, o preço inicial foi de 22 milhões de patacas e a licitação mais alta chegou aos 67,29 milhões de patacas.
Ontem, Liu Chan Pan, um dos empresários que apresentou uma proposta para este último concurso, previa que a subida de preços chegasse aos 300 por cento em relação ao preço proposto pelo Governo. Chegou aos mil por cento.
Mas o mais alarmista é comparar valores de um terreno do mesmo tamanho e situado na mesma zona. Em 2004, valia 67 milhões de patacas, ontem, chegou aos 555 milhões. Em quatro anos, a inflação foi de 800 por cento.

E os preços podem aumentar mais

Lui Hei Wang explica que "não há uma estimativa quanto ao preço do m2 das habitações que serão feitas naqueles terrenos, mas penso que talvez aumente em relação aos preços actuais". Esta é uma das principais questões que se levantam quando um terreno é comprado a um preço dez vezes superior ao proposto inicialmente pelo Governo. Esta é aliás um receios que Paul Pun já tinha enunciado antes mesmo de se conhecerem os resultados do concurso.
Carion explica que a definição do preço dos apartamentos será da responsabilidade do investidor, "mas se ele aumentar os valores de venda será por ter confiança no mercado".
Quanto à especulação imobiliária que poderá aumentar com terrenos vendidos a este preço, o presidente da Comissão de Terras desdramatiza dizendo que "este é um mercado económico liberal. Saberá arranjar mecanismos de auto ajustamento para arrefecer o mercado e não deixar que a inflação no sector do imobiliário suba demasiado".
Só no quarto trimestre do ano passado estavam em desenvolvimento 180 projectos em apreciação e construção, equivalendo a 35 mil fracções habitacionais.

CAIXA
Leilão pode ser suspenso

O porta-voz da Comissão de Terras conta que uma das empresas excluídas do concurso já mostrou interesse em interpor recurso ao Chefe do Executivo. O mesmo escusou-se a dizer de quem se tratava, mas admitiu que o caso se referia à obrigatoriedade de entregar os documentos identificativos num envelope individual, sendo que a proposta permaneceria secreta. Se a intenção vier a ser concretizada, o processo de adjudicação é suspenso até o Chefe do Executivo tomar uma decisão. Sendo que os valores apresentados pelas empresas excluídas não foi tornada pública, correr-se-ia o risco de candidatura vetada vir a ser superior que o valor apresentado por Lui Hei Wang. Em teoria. "Se os valores propostos por estas empresas fossem altos, talvez as regras fossem revistas, mas tratavam-se de propostas que rondavam os 100 e os 300 milhões". Há regras e regras.


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AL APROVOU REESTRUTURAÇÃO DE CARREIRAS NAS FORÇAS DE SEGURANÇA
Deputados ao lado da PJ

A Polícia Judiciária está contra o projecto-lei sobre Reestruturação de Carreiras nas Forças e Serviços de Segurança. As queixas chegaram aos deputados por carta e o hemiciclo deu razão aos agentes. O diploma terá de rever os salários, subsídios e carga horária, mas recebeu luz verde

Sónia Nunes

A proposta de lei sobre a Reestruturação de Carreiras nas Forças e Serviços de Segurança foi ontem aprovada por unanimidade pela Assembleia Legislativa. No mesmo dia, vários agentes da Polícia Judiciária fizeram chegar aos deputados cartas de reclamação. Queixam-se do parco aumento do índice salarial, da carga de trabalho que chega a atingir as 70 horas semanais e da ausência de subsídios complementares – já atribuídos aos demais órgãos da segurança. As farpas tiveram eco no hemiciclo que não facilitou a intervenção do secretário Cheong Kuok Va.
Ainda na fase de interpelações antes da ordem do dia, Ung Choi Kun centrou-se nas formas de recrutamento para o pessoal da Segurança que, entende, têm prejudicado o funcionamento do posto fronteiriço das Portas do Cerco. O deputado apontou a falta de formação dos agentes e o trato bruto que prestam aos turistas. A conduta, referiu, resulta da pressão laboral sentida pelos agentes da linha da frente e só será alterada com o aumento dos índices salariais.
A proposta deixada ontem pelo secretário para a Segurança estipula um aumento universal da taxa remuneratória em todos os graus dos postos das carreiras das Forças de Segurança. Serão apenas 20 os pontos de índice remuneratório que vão separar o guarda do Corpo de Polícia de Segurança Pública (carreira de base) de um investigador criminal de segunda classe da Polícia Judiciária.
O ajuste levantou dúvidas por parte dos deputados por prever igual aumento para serviços com responsabilidades distintas.
Ng Kuok Cheong pediu ao secretário que revelasse os custos orçamentais da medida (321 milhões de patacas) e deixou a pergunta: “Esta é a melhor solução para o pessoal das Forças de Segurança ou há margem para situações de injustiça?”. Cheong Kuok Va respondeu que havia justiça e acrescentou que “a definição da proposta teve em conta o equilíbrio com o índice remuneratório das carreiras comuns da função pública”. Este foi, de resto, o critério escolhido pelo Governante para actualizar os vencimentos e frase mais vezes dirigida às interpelações dos deputados. A discussão tomou mais de duas horas com hemiciclo a insistir na pergunta e Cheong a repetir a resposta.
O secretário para a Segurança referiu ainda que o alargamento do subsídio de alimentação para os agentes da Polícia Judiciária está em fase de estudo. A novidade despertou Iong Wong Ian que quis saber se o mesmo seria feito com os apoios de família e de residência. A questão, recordou Cheong Kuok Va, deve ser endereçada à secretária para a Administração e Justiça, responsável pela atribuição daqueles subsídios à PJ.

Mais queixas dos polícias

As cartas escritas pelos agentes da PJ e enviadas aos deputados – a presidente da AL também as recebeu – chegaram ao hemiciclo por iniciativa de Chui Sai Peng. O deputado revelou que os polícias manifestam “uma clara ideia sobre a reestruturação da carreiras” e que é preciso “acalmar os ânimos do pessoal”. No documento, os agentes queixam-se do regime de férias anuais e do facto de terem que estar 24 horas por dia em estado de alerta. “Entendem que os esforços não são compensados pelo salário e que os índices não sofreram os devidos aumentos”, resumiu.
O secretário para a Segurança sublinhou que o índice salarial para a Função Pública está fixado nos 55 pontos da tabela, mas ressalvou que o Chefe do Executivo já autorizou o aumento para os 59 pontos – falta que o parecer chegue à AL para votação. Também o director da PJ acrescentou que os agentes que atinjam mais de 44 horas de trabalho semanal recebem um subsídio complementar.
Pereira Coutinho, presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública, entende que o projecto de lei é já um passo importante para elevar a moral do pessoal da linha da frente, mas insuficiente. O deputado afirma que o diploma não resolve a falta de recursos humanos nas Forças de Segurança e erra no tratamento igual entre PSP e PJ. “O aumento do índice para os 260 pontos não chega para segurar o pessoal nos seus serviços”, acusou. Ao salário acrescenta-se a carga horária e a falta de seguros de vida ou de integridade física para os agentes. Pereira Coutinho voltou a pedir ao Governo que tome uma posição sobre o fundo de previdência e que alargue o leque dos subsídios, por forma a evitar a fuga dos trabalhadores para o sector do jogo. E Cheong Kouk Va voltou a dizer que a estão está em fase de estudo.

Habilitações e extinção de carreiras deixam dúvidas

A subida do nível de estudos para o ingresso na carreira das Forças de Segurança é a grande novidade no projecto de lei: é exigido o ensino secundário complementar. A proposta pretende melhorar a qualificação dos quadros e cruzar-se com o regime de escolaridade gratuita de 15 anos, lançado pelo Executivo em 2007. Porém, a exigência de habilitações só entrará em vigor daqui a três anos. Tempo que merece o chumbo dos democratas.
O período de três anos, justificou o secretário para a Segurança, pretende dar uma oportunidade aos jovens, ainda em fase escolar, de concluir o ensino secundário complementar antes de ingressarem nas Forças de Segurança. É, portanto, uma medida de transição – o nível académico do trabalhador entrará também no cálculo do salário.
“Não concordamos com este período de três anos. Contraria a política educativa”, declarou Au Kam San (também em nome de Ng Kuok Cheong), já na declaração de voto após a aprovação do diploma por unanimidade. O conflito está em o Governo dizer que quer apostar na educação e esperar três anos para levar a palavra à prática.
Ainda na fase de discussão, também o fim de duas carreiras na Polícia Judiciária e a criação de mais três para a PSP, Corpo de Bombeiros e Serviços de Alfândega justificou os reparos dos deputados (ainda sobre a influência das cartas). Há dúvidas quanto à integração dos auxiliares de investigação na carreira de investigador e da inclusão dos peritos de criminalística pelo posto de adjuntos técnicos de criminalística.
A medida, defende o secretário para a Segurança, permite melhorias na condição remuneratória e facilita a mobilidade na carreira. Porém, os deputados ficaram à toa: desconhecem se há ou não diferenças entre os postos de trabalho e se a mexida implica alteração dos índices de salário.
O projecto lei foi assim aprovado por unanimidade, com a presidente da AL, Susana Chou, a dizer antes da votação: “Todos receberam as cartas. Temos de lutar em favor da PJ e a proposta de lei tem de ser melhorada: os deputados falaram hoje quase em uníssono”. A bola passou para sede de Comissão que irá discutir o diploma e fazer os devidos ajustes na especialidade. Mas Cheong Kuok Va fez já saber que será impossível que a proposta de lei satisfaça as expectativas de todos os trabalhadores.
Nota ainda para David Chow, que apesar de ter ido para casa sem saber os critérios que foram usados na actualização dos salários das Forças de Segurança recordou que é bom para qualquer trabalhador começar o Ano Novo Chinês com uma subida nos rendimentos. “Este é um assunto tão feliz! Dêem aumentos com mais alegria, em vez de aumentarem os conflitos”, rematou.

CAIXA
Aprovado orçamento de 2006

O segundo ponto da ordem do dia no hemiciclo foi ligeiro e não levou mais do que uns minutos a discutir. O relatório sobre a Execução do 0rçamento de 2006 foi aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa. O secretário para a Economia e Finanças Francis Tam saiu sem ser confrontado pelos deputados o que, por contraste do tom das duas horas anteriores, deu para breves risos.


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INFLAÇÃO: TRABALHADORES COM BAIXOS RENDIMENTOS PREOCUPAM DEPUTADOS
Governo tem de criar mais subsídios

Sónia Nunes

A subida da inflação e a galopante perda do poder de compra dos residentes de Macau voltou a marcar o período antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa. Ontem, foram três os deputados a pedir ao Executivo que dê mais apoios à população, sobretudo aos trabalhadores com baixos rendimentos (os chamados “working poors”).
Chan Meng Kam indicou, uma vez mais, o aumento dos preços dos bens de alimentação, vestuário, alojamento e transportes. “Trata-se, efectivamente, duma dor, e o seu desejo [da população] é que lhes dêem analgésicos para acabar com essa dor. A questão chave é se o analgésico disponibilizado é, de facto, eficaz”, ilustrou o deputado. A metáfora fazia referência aos aumentos do índice mínimo de subsistência, da pensão de velhice e do subsídio para os idosos que não podem servir os trabalhadores com baixos salários (não preenchem os requisitos).
O deputado destacou ainda que a taxa de inflação atingiu os 5,36 por cento em 2007 e pediu ao governo que criasse novos subsídios para as despesas do quotidiano: apoios de custo no consumo de água, electricidade e na carne de porco.
Também Angela Leong apontou o disparo nos preços dos produtos alimentares ( carne, cereais e óleos) e avançou já que a taxa de inflação pode subir aos 6 por cento. O aumento, entende, resultará da “aplicação por parte das autoridades da China da medida de contingentação das exportações de farinha e da cobrança de 25 por cento de imposto aduaneiro sobre esse mesmo produto”. A mesma política, referiu, está prevista para seis tipos de combustível.
Angela Leong assinou a interpelação de Chan Meng Kam e acrescentou que as Linhas de Acção Governativa para 2008 não estipulam apoios para os “working poor”. Pede então que sejam criados subsídios para os trabalhadores com salários baixos, como “senhas de alimentação”, a serem atribuídos já no Ano Novo Chinês – época em que se regista o pico de consumo de bens como farinha e óleo.
Já Kwan Tsui Hang pede a liberalização do mercado por forma a diminuir a diferença entre o custo dos produtos que são importados de Zhuhai – “a valorização do reminmbi também tem a sua quota parte na subida brusca dos preços”, afirma. O Executivo deverá assim aproveitar o termo do contrato de exclusividade de exploração de serviços como o fornecimento de água, luz e transportes (o que deverá acontecer dentro de dois anos) e aceitar a concorrência no sector. “O Governo deve abrir os canais de origem dos bens essenciais à vida da população” e “ajustar as tarifas dos serviços de utilidade pública”. O arranque do plano de construção das habitações sociais também foi pedido.


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NG KUOK CHEONG DEFENDE QUE REFORMA RUMO À DEMOCRACIA DEVE COMEÇAR JÁ
O momento é agora

Sónia Nunes

2019. Foi esta a data lançada ontem pelo representante da Associação Novo Macau Democrático, Ng Kuok Cheong, para o sufrágio directo e universal chegar ao território. O caminho para a democracia deve começar agora e as contas são fáceis de fazer para o deputado. Se Hong Kong vai eleger o Chefe do Executivo sob o princípio “Um homem, um voto” em 2017, a RAEM, criada dois anos depois da RAEHK, pode fazer o mesmo em 2019.
O deputado falou antes do período da ordem do dia para dizer ao hemiciclo que o parecer da Comissão Permanente da Assembleia Nacional Popular (ANP) sobre as eleições em Hong Kong – em 2020 também o Conselho Legislativo será escolhido por sufrágio directo - deve ser lido como um sinal para Macau preparar o calendário para a democracia. “A deliberação da Comissão Permanente da APN é como que uma iluminação para o desenvolvimento do sistema político da RAEM. Se o Chefe do Executivo de Hong Kong for eleito por sufrágio universal em 2017 e se em Macau o seu par continuar a ser eleito por um pequeno círculo de pessoas em 2019, a situação será deveras embaraçosa”, avaliou Ng Kuok Cheong.
Com o aumento do nível de escolaridade dos cidadãos (reforçado com o ensino gratuito de 15 anos) e a crescente acção das associações não justificam mais o adiamento da democracia, defende o deputado. “Não se deve menosprezar as pessoas de Macau. O regime político tem-se desenvolvido de forma gradual, mas morosa”, observou.
O democrata acrescenta que “está já desactualizada a forma de sufrágio indirecto no seio das associações para as eleições do Chefe do Executivo e da AL” e deve, por isso, ser eliminada progressivamente. Ng Kuok Cheong ressalva que as associações mais activas já conseguem por via directa ter lugar no hemiciclo, “não devendo por isso recorrer ao sufrágio indirecto para gozar desse privilégio”.
O Chefe do Executivo é indicado por uma comissão eleitoral de 300 membros (que reúne vários sectores da sociedade). Os deputados à Assembleia Legislativa, 29 elementos, são eleitos directamente pelos cidadãos (12), indirectamente pelas associações (10) e nomeados pelo líder do Governo (7).
Para Ng Kuok Cheong é altura oportuna para “se dar início à reforma faseada da metodologia de eleição do Chefe do Executivo e para aumentar o número de assentos por sufrágio directo na AL”. Mais: é tempo de Edmund Ho cumprir a sua “responsabilidade histórica” em instar o debate sobre o sistema político e lançar o tema a consulta pública. E sem medo: “Os residentes da RAEM devem ter confiança no Governo Central, pois acredita-se que dará uma resposta racional à proposta de desenvolvimento do regime político”, prevê.
Edmund Ho disse já por várias fezes que a discussão sobre a reforma democrática seria aberta (a data mais recente foi 2007) mas ainda nada foi feito. Ainda assim, para o representante da ANMD, o sufrágio universal não basta ao bom funcionamento da democracia. Há também que “reforçar o poder de fiscalização da AL e criar órgãos de administração por zonas”, concluiu.


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PEREIRA COUTINHO QUER ACESSO A SERVIÇOS PRIVADOS PARA TRABALHADORES
Cuidados de saúde sem discriminação

Pereira Coutinho quer saber quando é que o Governo vai "estabelecer protocolos de mútua colaboração, permitindo que todos os trabalhadores beneficiários dos cuidados de saúde possam também ser assistidos no hospital privado, incluindo a assistência medicamentosa". Numa interpelação enviada ontem ao Executivo, o deputado português pede ainda medidas no sentido de "melhorar a qualidade dos serviços médicos do hospital público, que no tempo da administração portuguesa era um hospital de referência nesta região da Ásia".
Para Pereira Coutinho, a situação actual é inaceitável, sendo que o mais premente, na sua opinião, acabar com "as longas horas sem atendimento nas urgências e os meses de espera pelas consultas de especialidade".
O deputado e presidente da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau afirma que tem vindo a receber "muitas cartas de trabalhadores no activo e aposentados da função pública que beneficiam dos cuidados de saúde solicitando, quase todos, a necessidade da protecção à assistência médica e/ou medicamentosa poder ser estendida ao direito de ser atendido no único hospital privado local."
Além das dificuldades aumentarem diariamente, argumentam, muitas pessoas recorrem à assistência médica no hospital privado, incluindo o da ilha da Taipa, "por se encontrarem localizados perto das suas residências e, outras vezes, o banco de urgência do hospital público, se encontra abarrotado de pessoas, que muitas vezes, somente só são atendidas, após três ou quatro horas de espera."


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TURISMO SOBE 22,7 POR CENTO PARA MAIS DE 27 MILHÕES DE VISITANTES
EUA é o maior mercado depois da Ásia

Mais de 27 milhões de pessoas visitaram Macau ao longo de 2007, um crescimento de 22,7 por cento face aos 21,99 milhões apurados em 2006, revelou ontem o secretário dos Assuntos Sociais e Cultura do Governo local.
Em conferência de imprensa, Chui Sai On salientou também que o continente chinês continua a ser o principal mercado de visitantes para Macau, números que o director dos Serviços de Turismo especificou a seguir.
Entre os dez primeiros mercados de Macau, apenas os Estados Unidos, no oitavo lugar com 202.000 visitantes e um crescimento de 37 por cento face a 2006, não é um país da região asiática.
Costa Antunes adiantou que do continente chinês chegaram a Macau 14,87 milhões de visitantes, 55,08 por cento do total de 27.003.000 milhões de visitantes, o que traduz um crescimento daquele mercado em 24 por cento face a 2006.
Hong Kong, com 8,1 milhões de visitantes e a verificar um aumento de 17 por cento contra 2006, é o segundo maior mercado do turismo de Macau, seguido por Taiwan com 1,4 milhões de pessoas e um crescimento de 0,4 por cento.

70 novos hotéis em 10 anos

No final de 2007, Macau tinha 129 agências de viagem (mais 5,7 por cento) e 1.317 guias turísticos (mais 6,8 por cento), e 54 hotéis e 31 pensões que disponibilizavam um total de 17.072 quartos, 16.496 dos quais, ou mais 33,4 por cento, em unidades hoteleiras.
O preço médio de um quarto em Macau aumentou 3,8 por cento para 707,8 patacas ou cerca de 61,5 euros, enquanto que a taxa de ocupação fixou-se nos 81 por cento, mais 4,7 pontos percentuais.
Num período de 10 anos, Macau terá 70 novos hotéis que irão disponibilizar mais 40.322 quartos além de registar um crescimento de outros 1.425 quartos na capacidade de seis unidades já existentes.
Dos números do turismo de Macau destaque também para os dados relativos aos vistos individuais, a política lançada em meados de 2003 pelo Governo Central para atenuar os efeitos económicos negativos que a pneumonia atípica estava a provocar na economia de Hong Kong e que é hoje o principal motor do desenvolvimento do turismo das duas Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e Macau.
Desde que o programa foi lançado a 28 de Julho de 2003, entraram em Macau 22,53 milhões de turistas chineses portadores daquele visto que permite viagens individuais e não em grupo e só em 2007, dos 14,87 milhões de visitantes chineses que entraram em Macau, 48 por cento ou 7,16 milhões eram titulares desse visto que está agora disponível em 49 cidades do continente chinês.

Alcançar a longa distância

Para 2008, Chui Sai On sublinhou que a política do Governo se mantém na consolidação dos mercados tradicionais e no desenvolvimento de outros mercados internacionais nomeadamente na região Ásia/Pacífico e de longa distância como os Estados Unidos e Europa além da exploração de novos destinos como Rússia e Médio Oriente.
Por outro lado, o Executivo quer continuar a diversificar o produto turístico conciliando as diversões com as componentes cultural e de convenções, um mercado em expansão no território com a abertura dos novos espaços de jogo que possuem áreas dedicadas a este género de eventos.
Chui Sai On disse ainda que Macau irá promover visitas a diversos destinos em conjugação com as autoridades de Hong Kong e da província continental chinesa de Guangdong usando o slogan "um grande rio, três lindas pérolas", com referência ao rio das Pérolas que banha Guangdong, Macau e Hong Kong e prometeu combater o "impacto negativo" de alguns modelos de excursões de preços baixos ou mesmo gratuitas onde os turistas são depois aliciados a gastar dinheiro extra.

CAIXA
Hong Kong quebrou recorde de visitantes em 2007

Estima-se que em 2007 Hong Kong tenha recebido cerca de 28 milhões de visitantes, mais de 10 por cento que em 2006, até aqui o melhor ano de sempre. Independentemente do crescimento, o anterior recorde para um ano completo já foi ultrapassado no acumulado até Novembro.
Tal como Macau, Hong Kong não esperou até ao fim de 2007 para quebrar o anterior recorde anual de visitantes no território, de 2006. Com 25,37 milhões entre o início do ano o fim de Novembro, os 25,25 milhões de todo o ano anterior já foram superados, e a estimativa é que o crescimento em 2007 fique acima de 10 por cento, com cerca de 28 milhões de visitantes.
Segundo dados do Turismo de Hong Kong revelados no fim de Dezembro, em Novembro foram 2,48 milhões os visitantes no território, um novo recorde para o mês. Ultrapassado será também o crescimento ano a ano, que em 2006 foi de 8,1 por cento, sendo e a estimativa para 2007 de que fique acima de 10 por cento. Em Dezembro de 2006 as chegadas de visitantes a Hong Kong foram de 2,4 milhões, número que deverá ter sido ultrapassado no mês passado.
Cerca de metade do fluxo de visitantes em Hong Kong é assegurado por chineses que, desde a liberalização em 2003 das visitas de residentes no território continental do país, foram responsáveis por um aumento de mais de 100 por cento no número de visitantes.


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Ho Iat Seng optimista quanto a futuro da indústria

As cerca de 600 fábricas que integram a Associação Industrial de Macau vão continuar a laborar no território apesar das estimativas para 2008 indicarem um decréscimo de dois dígitos nas exportações comparativamente a 2007, apesar da perda de trabalhadores para o sector terciário (10 mil), apesar do aumento dos salários, do aumento dos custos e da desvalorização da pataca face ao renmimbi. O optimismo que contrasta com o quadro negro pertence a Ho Iat Seng, presidente da Associação Industrial de Macau, que não acredita num cenário de muitas falências neste ano.
Em entrevista ao jornal Va Kio, o responsável abordou ainda a questão da deslocalização de muitas indústrias de Macau para o continente, nomeadamente para a província de Guangdong. Ho Iat Seng considera que ainda existem vantagens para os empresários locais em investirem no Delta do Rio das Pérolas, mas alertou para um novo fenómeno: a necessidade de deslocalização para outras regiões, em virtude de problemas ambientais e a políticas que têm vindo a ser implementadas quanto à protecção ecológica. Certo, porém, é que o continente ainda apresenta custos de produção competitivos (leia-se baixos).


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Dezassete suspeitos de tráfico
apanhados em Taiwan em 2007


As autoridades alfandegárias de Taiwan detectaram em 2007 17 casos de pessoas que tentavam introduzir droga na ilha vindas de Macau. A seguir à Tailândia e à Birmânia, com 22 casos registados, Macau é a região com mais casos. Com origem em Hong Kong foram registados 11 casos, tal como com origem na Malásia, e 4 provenientes das Filipinas.
De acordo com o sítio "chinapost.com", as autoridades taiwanesas confiscaram um total de 410 quilos de substâncias ilícitas, uma quantidade inferior em 20 por cento ao confiscado no ano de 2006.
A maioria (216 kg) era ketamina, e o restante era composto por heroína (60 kg), cocaína (12 kg) e marijuana (9,9 kg).


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ENCONTRO HONG KONG E GUANGDONG
Mais um prego para a ponte nova

Hong Kong e a província de Guangdong voltaram a reunir-se para discutir a cooperação entre as duas regiões, nomeadamente em relação à ponte que ligará Hong Kong, Zhuhai e Macau. Mais de 20 estudos sobre a obra estão já terminados e as duas partes concordaram em terminar os restantes estudos programados, assim como tentar antecipar a implementação do projecto. A análise sobre os limites do posto de controlo entre Liantang e Heung Yuen Wai está praticamente terminada e o Governo de Hong Kong prevê que o estudo acerca do novo posto de Hong Kong seja finalizado até Abril de 2008. No futuro, estarão também em discussão detalhes sobre a recentemente formada força de trabalho entre Hong Kong e Shenzhen.
As autoridades de Hong Kong, Guangdong e Macau concordaram também em aumentar a já existente cooperação, criando um gabinete de cooperação turística entre as três regiões de forma a fomentar a promoção do turismo e desenvolver mais itinerários multi-destinos para diferentes mercados. Por outro lado, Hong Kong e Guangdong continuarão os esforços conjuntos para promover "um turismo honesto e de qualidade".


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Bebé encontrado morto


Um bebé foi encontrado morto na clínica Kiang Wu, na Taipa. A criança foi descoberta às seis da manhã na casa de banho da instituição, pela equipa de limpeza. Segundo a TDM, fontes do hospital disseram que, a essa mesma hora, uma cidadã filipina terá recebido tratamento e usado os sanitários. O caso está agora a ser investigado pela Polícia Judiciária.

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