14.1.08

PROGRAMAÇÃO DO CENTRO CULTURAL DE MACAU PARA FEVEREIRO E MARÇO
Artes ao palco

Da dança ao teatro passando pela música, os próximos meses no Centro Cultural vão ser consagrados às artes de palco, com artistas locais e estrelas internacionais

16 de Fevereiro

"Conto de Macau: Vestido para Dançar"

Dança chinesa com roupas modernas

O vestuário, em tempos considerado uma mera pele suplementar do corpo humano, foi usado originalmente como forma do homem se proteger dos elementos. Hoje em dia, desenvolveu-se num símbolo múltiplo, com diferentes modos de vestir a corresponderem a condições atmosféricas, ocasiões, momentos e estados de espírito variados. Todos têm as suas preferências e antipatias no que se refere ao vestuário – alguns preferem roupas simples, outros gostam delas vistosas, enquanto outros dão prioridade ao conforto ou ao glamour. Quando se trata de escolher roupa, a sua preferência determina os seus pensamentos e acções.
O carismático coreógrafo de Hong Kong Yuri Ng apresenta a sua primeira peça de dança criada para Macau, tomando como tema o vestuário, uma das necessidades básicas da vida. Esta criação singular baseia-se em danças tradicionais chinesas e em danças folclóricas vertidas numa dança experimental intitulada “Vestido para Dançar”, incluído no ciclo “Conto de Macau”. O espectáculo será interpretado por bailarinos locais (seleccionados durante o mês de Dezembro de 2007), e explora as situações em que os próprios se encontram, ao mesmo tempo que dá livre curso à criatividade dos bailarinos através da evocação, por intermédio da dança, de histórias inscritas no seu subconsciente.
Os bailarinos recrutados para este espectáculo possuem vários anos de experiência e participaram em diversos concursos e espectáculos de Macau. Muitos passaram ao sexto grau ou superior de dança chinesa da Academia de Dança de Pequim, e representam a nova geração de bailarinos de Macau. Neste espectáculo, sob a direcção de Yuri Ng, os bailarinos colocarão em prática as suas experiências, enquanto tentam transpor as fronteiras da dança chinesa. Para além da participação dos nossos bailarinos, esta produção conta ainda com figurinos orientados pelos designers Manuel CS e Clara Brito, num complemento ao tema do espectáculo e às experiências e personalidades de cada bailarino.

23 de Fevereiro

"Rogamar" - Cesária Évora

Voz do Mundo

“Évora é uma das vozes com mais alma de todas as vozes globais”, escreveu o britânico The Guardian.Várias nomeações para os Grammy e inúmeras digressões pelo mundo fora consagraram Cesária Évora como um ícone incontornável da “World Music”. Conhecida como a “diva do pé descalço” pelo seu hábito de actuar sem sapatos, ela é provavelmente a mais célebre cantora das mornas – música tradicional de Cabo Verde cantada em crioulo que junta fado com a modinha brasileira, e que possui uma atmosfera e sensibilidade muitas vezes comparada aos blues. Envolvidos pelas sonoridades acústicas da guitarra, cavaquinho, violino, acordeão e clarinete, estes blues de Cabo Verde falam de tristeza, melancolia e saudade, fruto da amarga história de isolamento e escravatura do país, mas também da emigração - cerca de dois terços da população destas ilhas do Atlântico vive no estrangeiro. Mas as canções de Cesária estão igualmente ligadas ao seu passado…
Nascida a 1941 em Mindelo, Cabo Verde, Cesária Évora começou por cantar no coro do orfanato, conhecendo depois um marinheiro que lhe ensinou as tradicionais coladeras e mornas. A jovem Cesária deu os seus primeiros passos nos palcos dos bares e hotéis locais, acabando por ser proclamada como a “Rainha das Mornas” pelos seus admiradores. Um enorme sucesso na terra natal, mas desconhecida no resto do mundo, a cantora acabou por se lançar internacionalmente aos 47 anos de idade quando José da Silva, um jovem francês de origens cabo-verdianas, lhe lançou o convite de ir a Paris gravar o primeiro álbum. “Diva aux pied nus” (1988) foi o despontar de uma carreira pontuada por muitos outros discos. “Rogamar”, o seu último ábum, embala-nos com os seus ritmos ondulantes e melodias quentes. Trazidos pelos sussurros da brisa do mar, eles vão desaguar no porto de Macau, saciando a “Sodade” de Cesária Évora, a Voz de Cabo Verde.

7 de Março

"O que é o Homem?"

Questões em palco

Nove homens e três mulheres aparecem numa audição para um filme de “gangsters". À medida que tentam entrar na personagem, fazendo sobressair o herói ou vilão que existe dentro deles, acabam por revelar as suas personalidades e, consequentemente, os seus preconceitos em relação á masculinidade...
Nesta perspicaz e atrevida peça de teatro, o encenador de Hong Kong Edward Lam e um brilhante elenco de Taiwan dão vida a algumas personagens do clássico da literatura chinesa “Margem de Água" numa interpretação temática completamente inovadora. Em vez de meramente dramatizar a história original, “O que é o Homem?" tenta descortinar a ressonância dos textos originais na sociedade chinesa moderna.
“Margem de Água" conta os feitos de uma quadrilha de foragidos que se refugia na montanha Liang. Edward Lam extraiu estes arquétipos do homem-herói, e confrontou-os com a modernidade, inserindo-os numa forte atmosfera contemporânea e num contexto dramático com que as pessoas se identificam. Na realidade, a peça emprega as personagens e histórias do romance clássico não só com o intuito de apreciar a nossa percepção actual da identidade masculina, mas também de explorar os vários tipos de opressão a que os homens se submetem na sociedade contemporânea.
Hoje em dia, algumas formas de opressão estão ligadas a posições de poder e influência, ao passo que outras são auto-impostas. Antigamente, os foragidos da montanha Liang lidavam com isto através da insurreição ou do estabelecimento de compromissos com as autoridades. Nos tempos que correm, como será que os homens modernos reagem às repressões da sociedade? Eis a questão que a peça de teatro quer propor ao público.

21 e 22 de Março

"Charlie Chaplin Remixed" - Carl Davis e Orquestra Filarmónica de Hong Kong

Charlot do séc. XXI

Provavelmente o maior símbolo dos primórdios do cinema, Charlie Chaplin consagrou-se como um dos mais inesquecíveis realizadores e comediantes do princípio do séc. XX. A sua personagem principal - “Charlot”-, um vagabundo com as maneiras refinadas e dignidade de um cavalheiro e a falta de jeito e sinceridade de uma criança, tem encantado espectadores durante quase um século, gravando as suas marcas distintivas na memória colectiva: um casaco apertado, calças e sapatos grandes demais, um chapéu de coco, bengala e bigode farto. Chaplin foi uma das personalidades mais influentes e criativas da era do cinema mudo: ele actuou, dirigiu, encenou, produziu e até compôs bandas sonoras para os seus filmes, que se totalizam em 83. “Charlot Vagabundo”, “Charlot Imigrante”, “A Quimera do Ouro” e “Luzes da Cidade” são algumas das relíquias de uma vida dedicada à indústria do cinema, dedicação que se estendeu por 65 anos.
Carl Davis é actualmente um dos mais conceituados e relevantes compositores e directores musicais no mundo. Conduz ou compõe música para longas metragens, televisão, filmes mudos, ballets ou musicais. Davis criou uma série de peças singulares para as fitas recuperadas ‘The Silents’, e esta colaboração com a Orquestra Filarmónica de Londres levou a que juntos apresentassem regularmente vários clássicos do Chaplin. As suas actuações ao vivo continuam a percorrer o mundo, e agora chegam a Macau, onde serão apresentadas pela primeira vez.
Charlie Chaplin e Carl Davis juntam forças com o apoio do CCM, numa colaboração exclusiva com músicos de primeira categoria da Orquestra Filarmónica de Hong Kong. Esta experiência singular, que funde a orquestra com o versátil compositor e o ícone do cinema mudo, certamente será do agrado tanto dos fãs cinema como da música, numa viagem a clássicos como “Charlot Imigrante” e “Charlot na Rua da Paz” que vão ser complementadas com excelentes pautas e 17 músicos soberbos.

(Centro Cultural de Macau - Texto editado)

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