27.1.08

QUATRO FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS E DOIS SERVIÇOS SÃO CONDECORADOS AMANHÃ
A dedicação funciona

Amanhã, quatro funcionários públicos e dois serviços da Administração vão ser condecorados com as insígnias da RAEM. O Governo abriu portas aos quotidianos destes "trabalhadores exemplares" e o PONTO FINAL foi espreitar

Marta Curto

"Antes da operação este homem não falava. Agora já fala". O chefe da neurocirurgia do Cento Hospitalar Conde São Januário, Guo Huan Huan, mostra um doente de cabeça ligada, que sorri ao batalhão de jornalistas que lhe entraram no quarto. É por causa de homens como este que Guo receberá amanhã uma Medalha de Dedicação do Governo da RAEM. "Este é reconhecimento que o Executivo dá ao sistema de saúde", dizia o médico chinês, que veio para Macau há 11 anos. Acrescentava que o sucesso não era só dele, que sem o apoio da equipa do departamento nada daquilo seria possível. "E esta medalha é um motor que nos leva a querer melhorar mais". Guo está certo que terá o apoio dos dirigentes para melhorar o que precisa de ser melhorado. Por enquanto, ainda há falta de camas na enfermaria, falta de médicos especialistas e tantas faltas levam muitas vezes as operações mais delicadas para Hong Kong. É essa colaboração com a RAE vizinha, mas também com a China continental, que traz médicos pelo período de um ano ao hospital, para colmatar a carência de pessoal. Mesmo assim, Guo é um homem tranquilo, de falas calmas e certeza no futuro. Mostra-se agradecido ao Governo, mas mantém a postura de quem já teve muitas vidas na ponta dos dedos.
Embora a cerimónia de condecoração só aconteça amanhã, o Executivo decidiu este ano promover entrevistas aos honrados. Compareceram 15 jornalistas. Entre câmaras e flashes entrevistaram-se seis pessoas, cada uma na sua área.

Quem quer traduzir?

"Eu não estava nada à espera de receber uma Medalha de Dedicação, quero agradecer muito ao Governo e à Assembleia Legislativa". Kuan Kun Fan é mais conhecida como Catarina entre os jornalistas portugueses. É a sua voz que ouvem muitas vezes nas longas tardes que passam na AL. Catarina é assessora técnica dos serviços de apoio à AL e responsável pela tradução e coordenação dos trabalhos do gabinete de tradução. Tem 39 anos e jeitos de menina. Mas quando fala sobre trabalho, torna-se mulher adulta, responsável e profissional. "O trabalho tem sido duro nos últimos anos, há muita pressão e falta de pessoal", explica Catarina, acrescentando que é fácil encontrar gente que queira experimentar a profissão, mas logo se assustam ao ver a quantidade de trabalho que a AL dá. "Acho que não há grande tendência ou interesse das pessoas em seguirem esta profissão".
Catarina não saiu da China para aprender português e a sua maior dificuldade é encontrar as expressões certas. "A disparidade entre as duas culturas, a portuguesa e a chinesa, é grande. E há expressões que simplesmente não existem na outra língua". Mas o português será língua oficial em Macau pelo menos durante mais 40 anos, e Catarina só espera que o Governo invista mais na formação dos tradutores porque ainda há muita legislação a ser revista. Ao todo, são 11 as pessoas que trabalham nesta área da AL, e, no entanto, não são só as sessões no hemiciclo que é preciso traduzir. Há despachos, ofícios, declarações, interpelações. Nestes dias, por exemplo, com as Primeiras Jornadas de Direito e Cidadania, anda-se numa azáfama.

O caçador de cobras

O silêncio faz-se na sala de reuniões do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. A longa mesa foi estrategicamente dividida. De um lado, os jornalistas, do outro, Kuok Chi Keong. Os pesados cortinados vermelhos fecharam-se, os espelhos antigos reflectem os jornalistas que tentam apanhar o melhor ângulo do homenageado. Kuok tem 54 anos e também receberá amanhã a medalha de dedicação. Hoje é responsável pelos trabalhos administrativos e coordenação dos serviços, mas a sua carreira no IACM começou nos jardins da cidade, em 1980. E o seu trabalho era apanhar as cobras de que os residentes de Macau se queixavam. O sucesso na tarefa rapidamente o levou aos trâmites administrativos do instituto. "A transição não foi fácil, mas o segredo é o empenho e a dedicação com que se trabalha".
Hoje, os tempos são outros, mas a preocupação de Kuok continuam a ser os jardins. "O desenvolvimento apressado de Macau dificulta a gestão das zonas verdes e penso que esta é uma questão que tem de ser pensada pelo Governo. Há que apostar na sensibilização da população".

O fotógrafo

Espaço verdes era o que não faltava há 30 anos, julgando pelas fotografias do Gabinete de Comunicação Social. Franky Lei Chi Leong será o quarto condecorado de amanhã, tem 62 anos e é o director do núcleo de fotografia do GCS. Passou da fotografia a preto e branco para as cores, a agora já se rendeu à facilidade da digital. Com um sorriso nos lábios, Franky mostra, orgulhoso, imagens antigas, onde Macau ainda tinha barcos de pesca e o grande prémio ainda se fazia com Datsuns 710. "Vi Macau passar de uma vila pitoresca para uma cidade desenvolvida". Franky faz questão de realçar que não se limita a ceder fotos a Macau, mas também além fronteiras. Mais, se há 30 anos não havia grande distinção entre redactor e fotógrafo, foi o GCS que começou a separar as águas, provando que uma fotografia não podia ser algo que o redactor tirava no meio dos apontamentos. É com orgulho que abre os armários onde as fotos que tirou em três décadas estão cuidadosamente arquivadas.


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INVESTIGADORES DO CCAC ESQUECIAM-SE DA FAMÍLIA POR AO MAN LONG
Pressão e sacrifício contra a corrupção

A sala de reuniões está pronta, água, folhas e canetas para os jornalistas. A ocasião é cerimoniosa. O segundo Departamento de Investigação receberá amanhã a Medalha de Valor, pelo caso Ao Man Long.
Afonso Chan, adjunto do Comissário e director dos serviços de Combate à Corrupção, explica que a Medalha foi um estímulo ao pessoal do 2º departamento, que sentiu o reconhecimento do Governo. A verdade é que o sacrifício dos investigadores para resolver o assunto não foi pequeno, e a pressão também não, dizem.
"Os colegas do departamento esforçaram-se muito naqueles meses. O caso envolvia vários sectores. Havia contas, havia bancos, questões internacionais com legislação especifica, informática. Muitos esqueciam-se da família, nem iam a casa, houve várias queixas por causa disso. Mas tínhamos de lutar contra o tempo, tínhamos três ou quatro meses para ter tudo concluído", explicou Chan, acrescentando que o sigilo era uma questão fundamental naquele caso.
Com a intenção, reiterada no ano passado pelo Chefe do Executivo, de alargar as competências do CCAC para o sector privado, já se levantaram algumas questões sobre um eventual confronto com a Polícia Judiciária, mas o investigador não vê motivos para polémicas. "Nós temos vindo a trabalhar com a Polícia Judiciária nos últimos meses, e tem corrido tudo bem. Não vejo porque haveriam conflitos agora. Cada um tem a sua competência."


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A atender a população que se preocupa


Se o Centro de Atendimento e Informação ao Público, da Direcção dos Serviços de Administração e Função Publica, recebe 100 chamadas de residentes de Macau num dia normal, quando sai nova legislação, o número pode chegar aos 700. A população parece preocupar-se com o que se passa na RAEM, e prova disso é que a maioria das queixas que chegam a este serviço dizem respeito ao estacionamento ilegal de veículos, construção ilegal e poluição sonora. "De facto, as queixas que nos fazem relacionam-se com aquilo que os rodeia, e não com alguma coisa que tenha a ver com eles próprios".
Joana Maria Noronha é uma chefe do serviço que ganhou uma medalha de dedicação e que receberá amanhã. A seu cargo tem 46 pessoas, todas dedicadas a explicar à população as burocracias e legislações do Governo. "Nós somos a ponte. E penso que somos tão solicitados pela população porque sabem que lhes podemos dar informações sobre qualquer assunto, de qualquer tutela".
No ano passado, o Centro de Atendimento e Informação ao Público tratou de mais de 48 mil casos. E mais de 96 por cento dizia respeito a formalidades administrativas e informações sobre o governo.

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