Amélia António: comunidade portuguesa de Macau esquecida
“Esta presença
não tem impacto em Portugal”
“Esta presença
não tem impacto em Portugal”
Para a presidente da Casa de Portugal em Macau há duas razões para que até ao momento Pereira Coutinho seja o único nome na corrida ao Conselho das Comunidades Portuguesas. Parte dos portugueses residentes no território revê-se no mandato encabeçado pelo deputado; outros tantos entendem que é inútil a reivindicação junto do país de origem. Portugal, entende, faz ouvidos moucos à presença que tem no oriente – postura que se traduz, de resto, no encolher de ombros que reserva para a Escola Portuguesa.
“Há muita gente que entende não ter interesse em serem lá [no CCP] representados; outros estão satisfeitos com a representação que têm tido e sentem que aquilo que ainda os liga à República Portuguesa tem sido acautelada por este mandato. É a conjugação das duas coisas: uns sentem que têm tido voz, muitos outros sentem que não há interesse em ir mais longe porque o desligamento da República é muito grande. Sentem que é inútil”, analisa Amélia António.
Para a presidente da Casa de Portugal, os portugueses expatriados em Macau acham-se órfãos e sem alento por parte do país de origem. “Há uma falta de atenção para os problemas que deviam estar resolvidos e não estão, ao fim destes anos todos. É notório que não tem havido nenhum acompanhamento de Portugal para a Escola Portuguesa, como para as associações de quem aqui se esforça por manter activa e viva a cultura portuguesa”, acusa. A postura, continua, é comum a toda a classe política e visível, desde logo, no apoio financeiro que é distribuído pelas instituições locais – recorde-se que em Fevereiro, a Fundação Oriente cortou em 50 por cento o subsídio atribuído à Fundação Escola Portuguesa de Macau.
“Já não falo só em apoios materiais, mas naquilo a que se pode chamar apoio moral, de incentivo. É um pecado comum à pose de todos os políticos e a política portuguesa absorve-o de tal modo que não lhe sobra tempo para ver o que se passa fora de portas”, destaca Amélia António.
Para a advogada, a comunidade lusa têm-se mostrado activa. A Casa de Portugal, por exemplo, arrancou com um programa de acções de formação no campo das artes plásticas e das novas tecnologias da comunicação. Programa que parece tímido, ressalva, quando comparado com o das outras associações culturais em Macau. “Os países das comunidades anglo-saxónica e francesas fazem um esforço enorme por ter uma presença activa. E nós esticamo-nos o mais que pudemos, fazemos o que fazemos com esforço e quando olhamos vemos a Escola Portuguesa sem um futuro claro à frente”, destaca.
Amélia António sublinha que todas as instituições de matriz lusa enfrentam problemas de financiamento. A Escola Portuguesa, observa, representa a grande questão com que a comunidade de debate. “Com ela está toda uma presença cultural. Os portugueses que estão aqui podem ter os filhos educados de uma determinada forma. Representa também o acesso a uma cultura diferente; uma defesa da cultura portuguesa e europeia em Macau”, descreve. No pano de fundo, remata, estão as dificuldades no ensino da língua Portuguesa, também sentidas pelo Instituto Português no Oriente (IPOR).
E se assim é, a culpa deve ser atribuída à terra mãe: “Não tem impacto em Portugal, esta presença que podia ser criativa e amplificadora de uma cultura que se fez ao mundo e que hoje parece querer regressar a casa, escondida numa pasta”, conclui.
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Moutinho de Almeida lamenta falta de candidatos
Cônsul quer máxima “lisura” nas eleições
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O cônsul português, Pedro Moutinho de Almeida, lamenta que haja até ao momento um único manifesto eleitoral para o cargo de Conselheiro das Comunidades Portuguesas, mas recorda que tudo está em aberto até 20 de Março (data limite para a entrega de candidaturas). Entende que não há concorrência porque a lista de Pereira Coutinho é difícil de rebater, mas apela à participação. E este ano, acrescenta, gostaria que não houvesse queixas quanto ao processo eleitoral.
“Obviamente que seria preferível que outras associações e outros grupos de portugueses apresentassem uma lista. Seria útil a troca de ideias, os leque de problemas levantados seria maior, e haveria uma demonstração de vitalidade por parte da comunidade”, refere o cônsul. Moutinho de Almeida ressalva que os portugueses dão provas de associativismo noutros sectores – como o cultural e social – mas “provavelmente consideram que é difícil arranjar uma candidatura que consiga fazer face à que hoje [ontem] foi apresentada. É uma lista bem estabelecida e com muitos apoios”, conclui.
Em 2003, uma das listas candidatas apresentou uma queixa contra Pereira Coutinho, acusando o deputado de estar a influenciar a intenção de voto à boca das urnas. “Fiz o meu comentário para Lisboa, no sentido que tinha visto o Dr. Coutinho a falar com pessoas, mas não a convidar ninguém para votar na lista dele. O assunto ficou legalmente resolvido, através de uma decisão tomada em Lisboa e que entendeu que não houve violação à lei”, recorda. Já em Abril, “seria bom que não houvesse queixas e que o processo corra com toda a lisura”, remata.