19.3.08

Pereira Coutinho apresenta manifesto eleitoral para CCP
Evolução na continuidade

Pereira Coutinho deu ontem a conhecer o programa eleitoral para o Conselho das Comunidades Portuguesas. O único na corrida até agora. O deputado repete a política do mandato anterior, reconhece que podia ter feito mais, mas garante que a proposta de divisão dos trabalhos por pelouros vai dar frutos

Sónia Nunes

Foi ontem apresentada formalmente a candidatura liderada pelo José Pereira Coutinho ao Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) do círculo China, Macau, Hong Kong Japão e Tailândia – bloco que, avançou o deputado, “muito provavelmente” será estendido à Austrália. As eleições estão marcadas para 20 de Abril e até ao momento só há uma lista na corrida. O programa eleitoral divulgado ontem (e entregue aos consulados de Portugal em Macau e em Pequim) segue a política do mandato de há cinco anos, com a promessa de mais empenho.
Em 2003, Pereira Coutinho ganhou o primeiro título como conselheiro das comunidades lusas espalhadas pela Ásia e herdou, diz, os problemas que ficaram por resolver com a transição e o fim da Administração Portuguesa. “Podíamos ter feito muito mais e melhor. Muitas coisas ficaram por fazer. Não vou enumerar as questões em concreto. Mas posso garantir que vamos ter uma intervenção mais pro-activa, mais em cima dos acontecimentos, ao nível político, educativo, profissional e de assistência social”, reconheceu o deputado, em conferência de imprensa.
Em cinco anos, o gabinete de Macau atendeu 9387 membros da comunidade portuguesa, com pedidos de informação sobre actos consulares – como emissão de documentos civis, processos de naturalização ou de aposentação – e “casos particulares de apoio social”, destacou o candidato. Pereira Coutinho referiu (e repetiu) que o trabalho ficou aquém do esperado mas acredita na força da recandidatura, que conta com a experiência diplomática do mandato anterior e prevê agora uma repartição das tarefas. “Temos confiança que com esta composição e a distribuição de pelouros para cada um dos conselheiros vamos fazer melhor”. Com a medida, estipula-se que os seis conselheiros ( três efectivos e três suplentes) venham a “dar continuidade à prestação de serviços de apoio aos membros da comunidade portuguesa”. As pastas ainda não estão distribuídas mas serão divididas pela área da cultura, educação, sector profissional e de intercâmbio.
A política eleitoral é a mesma de 2003, mas desta feita será concretizada: “Não vão haver diferenças. O resultado final, isso sim, garanto, será muito mais positivo do que o dos últimos cinco anos”, promete o candidato. Pereira Coutinho acumula ainda as funções como deputado e presidente da direcção da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). Porém, ressalva, foi “sempre muito honesto” quando disse que “teríamos que pensar na melhor forma para servir a comunidade”. Se for reeleito, garante, será pela última vez. Reitera ainda que, apesar do apoio social que granjeia junto das instituições locais, a lista “é apolítica” – princípio que define como “basilar” e “respeitado religiosamente”.
Coutinho destaca também “o relacionamento muito positivo” que estabeleceu com “os conselheiros de todo o mundo” e a aprendizagem que lhe ficou do diálogo com o governo português. Faz também saber que o trabalho como conselheiro é voluntário e recorda a idade do antigo parceiro de trabalho, que faleceu no ano passado: “Não se podia exigir a Silveira Machado aquilo que seria exigido a um jovem”, referiu. E mais: “Não somos remunerados. Fazemos o melhor possível fora do horário de trabalho”.

“Lista em uníssono”

O facto de a lista de Coutinho ser a única na corrida ao CCP pode ser justificado pelo facto de dois dos candidatos em 2003 se terem agora juntado ao deputado: Fernando Gomes e Armindo Vaz, refere Coutinho. Porém, até 20 de Abril, prazo que encerra a entrega de candidaturas, o cenário pode ser alterado. E seria “salutar” se tal acontecesse, destaca a directora de campanha, Rita dos Santos.
“Esta lista é muito abrangente. É uma lista em uníssono para cada um, há sua maneira, contribuir para o bem estar da comunidade portuguesa em Macau, Hong Kong e na China”, entende Pereira Coutinho.
Fernando Gomes, vice-presidente da recém-criada Associação dos Médicos dos Serviços de Saúde, assume o trabalho de continuidade começado por Coutinho e realça também a persecução de objectivos comuns. “As épocas são diferentes. Vamos partilhar um caminho de ligação junto à comunidade portuguesa e dos portadores de passaporte português. O que posso prometer é trabalho e dedicação. Caso surja algum problema, estamos cá”, realça o terceiro candidato a membro efectivo do CCP.
Já a directora de campanha, Rita dos Santos, indica que a não existência de concorrência ancora-se na boa prestação de serviços dos actuais conselheiros. “Há um apoio muito grande das associações. Reconhecem positivamente o trabalho feito pelos três conselheiros no mandato anterior”, destaca. A presidente da Assembleia Geral da ATFPM sublinha ainda que há um contacto permanente e positivo com as instituições locais “de matriz portuguesa”, como a APIM e associações dos PALOP. Conforme se lê no manifesto eleitoral, a lista apoiada pela ATFPM está “legitimada por um incontroverso e vasto apoio de entidades colectivas e individuais de Macau”.
Como segundo candidato a membro efectivo do CCP surge o chefe de secção do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, Armando de Jesus, vice-presidente da comissão política da secção do PSD em Macau e adjunto da direcção da ATFPM. No leque de suplentes, surge o produtor-realizador da Rádio Macau, Hélder Fernando, que também colabora com a imprensa portuguesa da região; o médico natural de Xangai, Wong Wai Lap; e o membro da direcção da Casa de Portugal e da Associação de Pais da Escola Portuguesa, Armindo Vaz, um dos candidatos em 2003.
Pereira Coutinho diz-se “calmo e sereno”. As preocupações que manifesta referem-se a outras eleições, as do Conselho Permanente do CCP. Isto porque o princípio da representatividade do órgão – espelhada em membros dos cinco continentes – foi abolido. “Face à nova lei, os 10 membros podem ser da Europa. Acredito que haja um consenso por mediação da secretaria de estado das comunidades portuguesas. Vamos ver o que podemos fazer”. Também nesta questão, o candidato, tem “fé”. Os eleitores deverão estar registados no Consulado Geral de Portugal da RAEM 60 dias antes das eleições.

CAIXA
Folclore, desporto e viagens

Na área da divulgação da cultura portuguesa pelo circulo asiático, a directora de campanha de Coutinho, Rita Santos, destaca as 300 actuações do grupo de Danças Folclóricas Portuguesas, fundado em 1999 pela ATFPM. Para os próximos anos fica a promessa de actualização do repertório e dos trajes tradicionais. Também haverá uma aproximação à nova geração para subir o número dos actuais dez elementos que estão entre os 6 e 10 anos.
As danças tradicionais serão complementadas com mais música e aquisição de mais instrumentos, destaca Fernando Gomes. “O desporto será também mais enfatizado e melhor programado com actividades mais regulares”, acrescenta. O candidato defende que “a nossa singularidade parte da cultura”, onde inclui a língua. E aqui poderá haver “novidades”: “Podemos apoiar a língua portuguesa e também a chinesa junto da comunidade de portugueses”, refere.
Já Rita Santos projecta excursões para os jovens luso descendentes até Portugal, para que aprofundem os conhecimentos sobre a cultura que herdaram. “Sempre estudei a história de Portugal, fixei todos os caminhos de ferro mas nunca tive oportunidade de os sentir in loco”, ilustra, enquanto descreve a emoção que teve quando viu a estátua de D. Afonso Henriques.

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