Carta ao Director
Ex.mo Senhor Director,
Gostei de ler o artigo de João Paulo Meneses intitulado "Macau importa". Afinal parece que Macau não está tão esquecido em Portugal como nos têm querido fazer crer alguns profetas da desgraça que aqui moram. Desde há muitos anos que tenho lido e ouvido repetidamente que "Portugal esqueceu Macau", afirmação que constitui para determinados compatriotas nossos um incessante mantra. Alguns, aparentemente, têm mesmo feito carreira mais ou menos científica em torno do tratamento exaustivo desse tópico, nas suas mais variadas vertentes. Poderei estar errado, mas não consigo evitar sentir que quem incansavelmente repete que "Portugal esqueceu Macau" está no fundo, além de desocupado, a lamentar que o Estado Português o tenha esquecido a ele, que tão prestimosos serviços aqui poderia prestar (desde que, é óbvio, devidamente recompensado). Se os defensores da tese do esquecimento vivessem em Angola, queixar-se-iam certamente que "Portugal esqueceu Angola". São os mesmos que se arrepelam de cada vez que o Governo Português faz a desfeita de não enviar um emissário no 10 de Junho que lhes venha apertar o bacalhau (prova irrefutável do esquecimento!), como se o Governo Português não tivesse mais que fazer do que despachar emissários, pagos pelo rico dinheiro dos contribuintes, a todos os cantos do mundo onde há uma comunidade portuguesa - e quero desde já aproveitar para, na qualidade de contribuinte, declarar para os devidos efeitos que não quero que os impostos que pago ao Estado Português sejam desperdiçados dessa forma. Em suma, suspeito que os que se queixam de que Portugal esqueceu Macau são aqueles que apenas se perguntam o que é que Portugal pode fazer por eles.
Gonçalo Cabral
