Exposição reúne em Londres o "novo design chinês"
A fábrica do mundo também desenha
A fábrica do mundo também desenha
É mais um sinal da ironia com que o curso dos acontecimentos, o mesmo é dizer, a História, costuma pôr em evidência as contradições e complexidades da realidade. A 14 de Março, no mesmo dia em que os confrontos com origem no Tibete contra o domínio chinês se espalharam às províncias chinesas, o que veio a revelar uma face repressiva que o regime tenta a custo esconder em ano Olímpico, inaugurou no Victoria and Albert Museum de Londres uma mostra cujo objectivo é o de dar a conhecer os frutos da recente explosão do design na China e dar a entender o impacto do rápido desenvolvimento económico na arquitectura e design nas maiores cidades do país.
Sugestivamente intitulada "China Design Now", a exposição reúne trabalhos de cem artistas, mais de 95% dos quais são chineses. Ao mostrar a capacidade inventiva e a criatividade dos artistas, a exposição sublinha a integração dos jovens num esquema de produção massivo. Mais, mostra-se que a China já não está remetida à função de "fabricar coisas", muitas vezes copiando, e que agora "desenha" e "concebe".
Focada em três cidades que se expandem rapidamente - Pequim, Xangai e Shenzhen - a mostra, que custou o trabalho de quatro anos de curadoria, reúne arquitectura, moda, desenho gráfico, cinema, fotografia, design de produtos e móveis, cultura jovem e media digital.
As gerações mais jovens têm lugar de honra na secção dedicada a Shenzhen, o maior centro manufactureiro do mundo. Na cidade, a média da população é de 27 anos, o que pode ajudar a compreender por que tantos jovens se sentem atraídos para actividades que lidam com nova tecnologias e linguagens do design contemporâneo.
A secção de Xangai, o centro económico chinês, concentra-se na moda e no estilo de vida, enquanto que a de Pequim é dominada pela arquitectura e o conceito de cidade.
Citado pela BBC, Zhang Hongxing, um dos curadores da exposição que está patente até 13 de Julho, afirma que "o design nas cidades chinesas mudou além de qualquer reconhecimento nas últimas duas décadas. Este é o momento em que podemos começar a falar de coisas 'desenhadas' na China, não apenas fabricadas na China. Os designers incluídos na (exposição) China Design Now são pioneiros para as gerações futuras que vão trazer o design chinês para um público internacional."
O que se passa na China?
Entre as peças exibidas estão projectos arquitectónicos (como o do estádio olímpico "Ninho de Pássaros"), o design gráfico das últimas duas décadas - mostrando os pioneiros do design da China pós Mao Tsé-Tung e as novas gerações que experimentam com novas tecnologias; e produtos de olho nos jovens chineses preocupados com design, como capas de discos, skates, brinquedos, telefones móveis, t-shirts e sapatilhas.
Segundo o sítio Art Daily, esta é a primeira mostra no Reino Unido a explorar a "explosão" do novo design chinês.
Mark Jones, director do Victoria and Albert Museum, citado pelo Art Daily, lembra que "a China é neste momento o maior mercado de telefones móveis em todo o mundo, e prepara-se para ultrapassar os Estados Unidos como o segundo consumidor de bens de luxo, apenas atrás do Japão, que está em primeiro lugar."
Do mesmo modo, observa, "há mais construções na China do que em qualquer outro lugar do mundo. O tremendo ritmo das mudanças está a inspirar toda uma geração de designers e arquitectos. Temos que perceber o que se está a passar, e o objectivo desta exposição é ajudar as pessoas nesse sentido."
Hugo Pinto