Investigadora portuguesa volta a estudar imagem do território entre portugueses
Macau em Portugal: distante e irreal
A autora que melhor estudou a imagem de Macau junto dos portugueses, antes da transição, promete voltar, dez anos depois, a tentar perceber se as coisas mudaram
João Paulo Meneses
putoaya@hotmail.com
Macau em Portugal: distante e irreal
A autora que melhor estudou a imagem de Macau junto dos portugueses, antes da transição, promete voltar, dez anos depois, a tentar perceber se as coisas mudaram
João Paulo Meneses
putoaya@hotmail.com
Ana Maria Horta, investigadora do Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa, pretende voltar a analisar a imagem social que os portugueses têm de Macau, uma década depois da transição.
A relevância desta informação, dada pela investigadora ao PONTO FINAL, reside no facto de Ana Maria Horta ter sido dos poucos cientistas sociais a estudar e a publicar, antes da transição, a imagem que os portugueses tinham, em Portugal, de e sobre Macau. E, provavelmente, a que o fez melhor.
Ana Horta dedicou mesmo a sua tese de mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias, em 2001, ao tema: «Macau na memória social portuguesa».
Antes desta tese, que permanece inédita – mas ganhará uma nova vida com a contraposição de elementos uma década depois – Ana Horta já tinha publicado um artigo na revista Macau e fez, também em 1999, um relatório para o então Instituto Cultural de Macau, que financiou a sua investigação, e foi publicado em livro, ainda nesse ano, com o sugestivo título de «Longe dos olhos… A imagem de Macau nas televisões e nos jornais de Portugal».
Em 2002, num congresso da sociedade portuguesa de investigadores em comunicação, a SOPCOM, Ana Horta ‘despediu-se’ da realidade macaense, apresentando uma comunicação com o título «Macau nos media portugueses: imaginário e memória social». Este trabalho, o livro e o texto na revista Macau estão disponíveis para o grande público, embora nem sempre seja fácil encontrar os respectivos volumes.
Ana Horta entende que «tendo estudado a memória social [antes da transição], importa ver como, anos depois, os portugueses recordam o território».
Sedutor e repugnante
Na contra-capa de «Longe dos Olhos? A imagem de Macau nas televisões e nos jornais de Portugal» pode ler-se « Distante, desconhecido, mal compreendido, mergulhado num imaginário misterioso, Macau tem sido para os portugueses um tema sujeito a interpretações fáceis. O valor do território alimentou interesses de várias ordens mas nem sempre permitiu a produção de uma imagem transparente e de um conhecimento esclarecido da opinião pública».
Ou seja, a investigação de Ana Horta comprovou aquilo que era basicamente um estereótipo: mais do que ser bem ou mal conhecido, Macau era (é?) conhecido em Portugal por questões pouco ou nada positivas.
No texto publicado em 2002 (em «As Ciências da Comunicação na Viragem do Século», Lisboa: Vega), pode ler-se outra passagem interessante: «Macau, sendo para a generalidade dos portugueses uma experiência mediada e uma realidade anacrónica, estranha e distante, parece irreal».
Nesse mesmo texto uma outra ideia de síntese: «O imaginário deste território, que durante muito tempo foi alimentado pela falta de informação, actualmente, com toda a informação disponível, não parece mais esclarecido e transparente. O jogo, os escândalos, as intrigas, a corrupção, a depredação, a violência, a dúvida sobre a dignidade da presença portuguesa, sendo verdadeiros, contribuem para a formação de uma memória colectiva obscura e propícia ao desenvolvimento da ficção. É preciso não esquecer que estes temas surgem contextualizados num território com uma cultura distinta, enigmática. Entre nós, «chinês» é sinónimo de algo indecifrável. As diferenças linguísticas, étnicas, religiosas, etc., dificultam uma leitura fácil e imediata. Mergulhado numa cultura nos antípodas da portuguesa, Macau é facilmente representado como uma cidade envolta num mistério latente. Um mistério que muitas vezes seduz e outras repugna».
Sem qualquer ligação a Macau
Curioso é que esta investigadora nunca teve qualquer ligação ao Território – o primeiro contacto acabou por ser a bolsa do ICM, nem está ligada a qualquer grupo ou instituição com interesses em Macau ou na China. «Tinha acabado a licenciatura quando vi o anúncio do concurso e aproveitei a oportunidade, acabando por usar essa investigação como ponto de partida para a tese de mestrado».
Depois do mestrado, Ana Horta já concluiu o doutoramento e está, agora, com uma bolsa de investigação em pós-doutoramento no Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa, agora dedicada à mediatização da energia e do ambiente («este projecto de investigação propõe conhecer o modo como a questão energética, no quadro das alterações climáticas, é representada no espaço mediático e apropriada pelos cidadãos.»).
Nasceu em 1972, licenciou-se em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em1995. Depois do mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação novamente pelo ISCTE, fez o doutoramento, em 2006, em Sociologia, na especialidade de Sociologia da Comunicação, da Cultura e da Educação, no mesmo Instituto.
De 1997 a 2007, foi docente em exclusividade da Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa. É investigadora do OberCom desde 2006. E desde o ano passado que tem uma bolsa de investigação para um pós-doutoramento do ICS-UL, com o apoio da Fundação de Ciência e Tecnologia.
NO ano passado obteve uma Menção honrosa do Prémio Jacques Delors 2006 e dez anos antes tinha sido considerado «Jovem Sociólogo de Língua Portuguesa», pela Association Internationale des Sociologues de Langue Française.