31.3.08

Râguebi Sevens: Nova Zelândia ganha torneio em Hong Kong
Homens de Negro em fato de trabalho

A selecção de Sevens (Râguebi de sete) da Nova Zelândia voltou ontem às vitórias na mais prestigiada etapa do circuito mundial ao bater a África do Sul na final, conquistando pela nona vez a Taça de vencedor, e pondo fim a um jejum de sete participações sem títulos na Região Vizinha. Portugal conquistou o segundo lugar no grupo, atrás do Quénia, cabeça–de-série, mas à frente da Escócia, segunda favorita do Grupo ‘E’. Os Lobos foram eliminados por Samoa nos quartos-de-final da Plate (a Taça de Prata)

Alfredo Vaz
em Hong Kong

A Nova Zelândia, indiscutivelmente a mais poderosa selecção de Sevens da actualidade, vinha para Hong Kong com uma missão de objectivos múltiplos: manter a invencibilidade no circuito mundial deste ano ara assim poder terminar com um ciclo de sete anos sem triunfar no torneio que é unanimemente reconhecido como o maior festival desportivo da modalidade e que consegue mesmo rivalizar com o mundial de Râguebi de 15, o ‘pai’ modalidade.
Hong Kong ameaçava tornar-se em mais que uma pedra no sapato da quase imbatível esquadra neo-zelendesa, os All Blacks (por equiparem apenas de negro: camisa, calções meias pretas. Apesar deste ter sido o nono troféu conquistado pelos Kiwis na RAEHK, os All Blacks já não ganhavam em Hong Kong há oito anos, muito tempo para uma equipa que está quase permanentemente no principal patamar de forma. Nesse período de jejum os neo-zelandeses perderam três finais (2001, 2003 e 2005), e o ano passado foram eliminados nas eias-finais pela poderosa formação das Ilhas Fiji (recordista em Hong Kong, com 10 vitórias).
Mas Gordon Tietjens tinha prometido que desta vez tinha mesmo que ser, já que a Nova Zelândia chegou a Hong Kong com o melhor registo de sempre à quinta das oito etapas do circuito mundial: Os All Blacks fizeram o pleno nos quatro torneios de Sevens deste ano: vitórias no Dubai - sobre as Ilhas Fiji -, em George, na África do Sul - outra vez a expensas dos fijianos - , depois em casa, em Wellington, batendo na final Samoa (equipa que ganhou o ano passado o Hong Kong Sevens). E mais recentemente em São Diego, na Califórnia, precisamente contra o adversário que ontem voltaram a bater na final, a selecção da África do Sul, campeã mundial em título na vertente de Râguebi de 15.
A nona vitória dos All Blacks em Hong Kong até acabou por surpreender muito pouca gente, tal é a diferença na qualidade fluidez, rapidez do jogo e objectividade dentro do terreno de jogo. Assentes no pilar principal na vertente de Sevens: uma excelente defesa. Na fase de grupos os campeões de negro marcaram 115 pontos e sofreram apenas 12 (vitórias retumbantes sobre os Estados Unidos, a Tunísia e Taiwan). Nos quartos-de-final os All Blacks eliminaram o País de Gales para a seguir vingarem a derrota do ano passado esmagando as Ilhas Fiji por 24-0, a primeira vez na história que os fijianos (recordistas de vitórias na RAEHK) perderam um jogo sem marcar qualquer ponto. A final teve também muito pouca história: vitória por 26-12 sobre uma defensivamente mal-estruturada África do Sul.

Portugal teve ‘persente envenenado’

O óptimo é inimigo do bom. A máxima quase que se aplica à prestação, em termos de resultados da presença dos Lobos na Edição de 2008 do Hong Kong Sevens.
Isto porque a equipa das quinas conseguiu um muito bom segundo lugar no grupo (e era apenas 3a pré-seleccionada entre as quatro equipas do grupo), mas esse facto fez com que jogasse o troféu disputado pelas equipas classificadas em segundo lugar de cada grupo, logo, formações mais fortes. O sistema utilizado na modalidade de Sevens determina que os vencedores de cada um dos seis grupos, mais os dois melhores segundo-classificados disputem a Cup (troféu ganho pela Nova Zelândia); os segundos de cada grupo discutam a Plate (onde Portugal acabou por perder para Samoa e em que a França levou o troféu para casa), e os terceiros joguem para a Taça Bowl (vitória pela primeira vez da Rússia. E porquê o tal ‘presente envenedado’? Porque ao conquistar o segundo lugar no grupo (ficando à frente da favorita Escócia), acabou por ir parar a uma taça com equipas mais fortes: Argentina, Escócia (repescada como um dos melhores 3o s), França, Tunísia, Canadá e um ‘carrasco’ chamado Tonga.
Na fase de grupos os Lobos venceram apenas um jogo, mas beneficiaram do deslize dos escoceses. Na sexta-feira à noite, na jornada inaugural, a equipa portuguesa perdeu com a Escócia por 26-10. E os escoceses mereceram o triunfo. Na jornada dupla de sábado os Lobos começaram o dia com uma nova derrota (19-7 a favor do Quénia) mas ganharam à China por concludentes 45-0. Este resultado dilatado, associado à derrota da Escócia aos pés da República Popular da China por 19-12 (para muitos o resultado surpresa da edição deste ano).

Entrada a medo ‘condicionou’ resultado

Domingo trouxe os quartos-de-final da Plate e um osso muito duro de roer chamado Tonga.
Portugal quase que entrou no jogo a perder, sofreu dois ensaios (um convertido) nos primeiros três minutos e meio (cada parte tem sete minutos). E só aos quatro minutos e meio é que os Lobos conseguiram passar a linha de meio-campo de Tonga. Com a equipa portuguesa em rápida progressão assistiu-se a uma aula sobre a rapidez de um clássico jogo de Sevens. A um minuto-e- do intervalo Portugal perdia por 12-0. Ao intervalo, por 12-10 (o relógio para cada vez que o jogo não desenvolve) O motor principal da recuperação foi o capitão David Mateus, autor dos dois ensaios que equilibraram o marcador
Ao Ponto Final o capitão dos Lobos reconheceu que “ a verdade é simples, não entrámos bem no jogo. Tivémos o pontapé de saída, fomos nós que abrimos o jogo, fizémos tudo para tentar apanhar a bola, não conseguimos também por mérito do adversário. Eu acho que o nosso mal for termos dado tanto valor à equipa deles, entrámos receosos do valor do adevrsário. Eles são uma boa equipa, mas não são nenhuma Nova Zelândia, mas são uma equipa da topo, sem dúvida. E nós se calhar ao princípio tivémos falta de confiança, mas quando vimos que podiamos lá chegar lançámo-nos ao ataque, e tivémos coragem e à vontade para atacar. Chegámos perto do resultado, fomos ao intervalo por dois pontos e tinhamos tudo para conseguir dar a volta”, lamentou.
E foi mesmo assim, até porque Portugal beneficiou da suspensão por dois minutos do capitão da equipa adversária logo aos 45 segundos da etapa complementar. Mas em vez de aproveitar do facto dos homens de Tonga estarem reduzidos a seis unidades, a equipa portguesa teve um lapso de concentração numa zona proibida: faixa central, para cá da linha do seu meio-campo. O capitão sublinha precisamente esse momento decisivo, pela negativa: “Tivémos quase a chave da meias-finais nas mãos. Mas um lapso de atenção foi bem capitalizado pelo adversário. As grandes equipas são assim, eles não páram, e nós por um momento, pensámos que íamos anular a desvantagem, que as coisas iam acontecer, errámos, eles tiveram oportunidade de marcaram, nós ainda lutámos até ao último minuto para tentar recuperar, mas eles foram mais fortes.”
A perder por nove os Lobos foram à procura de mais uma recuperação como a da 1a parte, mas foi Tonga quem voltou a marcar. Gonçalo Foro ainda fez mais um ensaio, insuficiente. Portugal perdeu por 26-17, resultado algo dilatado para o que se passou dentro das quatro linhas.
Num balanço ao jogo e à participação no torneio em si, Tomaz Morais, treinador das selecções nacionais de Portugal lamentou que Portugal tenha perdido com Samoa repetindo erros de um passado recente: “O que tem acontecido muito com esta equipa é que nós entramos receosos quando jogamos com equipas grandes, equipas superiores, o que já tinha acontecido um bocadinho com o Quénia e com a Escócia. Nós quando nos soltamos temos boa técnica, mas mais que uma questão técnico-táctica, esta equipa tem uma questão mental para resolver, que é ter confiança a acreditar que pode jogar com as equipas grandes de igual-para-igual, que foi o que fez com Tomga hoje (ontem). (....)Penso que é a isto que se chama aprendizagem – mais uma, para todos – mas para jogar a este nível, estes jogadores – quer individual, quer colectivamente têm que ser mais fortes.”
Tomaz Morais diz que é preciso muito trabalho e mais mão-de-obra “faltam-nos jogadores, temos que andar num vai-e-vém entre os sevens e os quinze, e muitas vezes é contra-producente (ara além de desgastante.” O treinador luso disse ainda que se Portugal voltar a ser convidado para voltar ao Hong Kong Sevens gostava de repetir o estágio em Macau.


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Grupo de Râguebi de Macau reforça presença em Hong Kong
Revolução

O râguebi de Macau atravessa um período de núpcias. A equipa beneficiou da vinda para Macau de uma série profissionais da indústria do jogo (ou de familiares mais jovens) e de estudantes do programa Erasmus . A ‘selecção ‘ está mais equipa, ganhou o campeonato da 3a divisão de Hong Kong de Râguebi de 10, e parte dentro de dias para as Filipinas. E como acontece todos os anos, o grupo de praticantes e outros ‘amantes’ da modalidade faz uma romaria ao Sevens da vizinha RAEHK

Alfredo Vaz

O grupo de Macau já faz parte da ‘mobília’ do mais prestigiado torneio da modalidade em todo o mundo. Às mesmas horas (quase sempre do primeiro ao último jogo - das 9:30 da manhã até a tarde ir embora para dar lugar à noite) nos mesmos dias (último fim-de-semana de Março de cada ano), no mesmo lugar , uma parte do Topo Norte do fantástico Estádio de Hong Kong (que à primeira vista faz lembrar o espantoso Estádio AXA, do Sporting de Braga).
Hierarquicamente podia-se dizer que Macau representa Portugal ao mais nível. Porque “apenas á civil” – como faz questão de sublinhar – destaca-se no grupo o mais alto representante da República Portuguesa em Macau, Pedro Moutinho d’Almeida, Cônsul de Portugal na RAEM, antigo praticante de modalidade, com uma paixão de bancada que confunde quem está mais habituado a associá-lo ao fato e gravata e à imagem protocolar que advém do cargo.
Mas este ano, o grupo - ao qual se junta quase sempre a selecção de Portugal quando termina a sua prestação na prova – tinha características especiais. Um toque - visualmente – mais internacional, cosmopolita, eclético. Mais coeso e ‘à Râguebi’.
Andaremos perto da verdade se afirmarmos que o râguebi é dasmodalidades desportivas que está a tirar mais beneficios internacionalização da RAEM: o rendimento e o espírito de equipa do seleccionado local subiram notoriamente com a vinda de um grande contingente de australianos e neo-zelandeses (duas das nações mais poderosas da história da modalidade), associada à chegada de quatro jovens franceses (outro histórico deste desporto e organizador do Campeonato do Mundo de Râguebi de 15) integrados no programa académico Erasmus, – coincidência ou reflexos das cada vez maior visibilidade e sentido apelativo da RAEM a nível mundial?
Nos últimos meses a equipa local, na vertente de ‘15’ ganhou corpo, espírito e alma novos. E também títulos, concretamente o campeonato da 3a divisão de Ten’s (râguebi de dez).
Ricardo – Ricky – Pina, o capitão da equipa, jogador do ‘antigamente’ e dos que mais tem progredido na modalidade -senão mesmo uma das estrelas maiores da equipa – explicou ao Ponto Final como se processou esta revolução a um ritmo quase alucinante: “Tivémos uma entrada de quase uma dezena de novos jogadores, entre estreantes e alguns que regressaram. Um grupo de 4 jovens estudantes franceses, 3 neo-zelandeses e o mesmo número de australianos que vieram dar um bom apoio para esta época de 15 que terminou agora e em que conquistámos pela primeira vez a taça da 3a divisão. Apesar de não ser o campeonato principal, é sempre bom ganhar uma Taça”. Apesar da euforia da conquista do troféu, a estratégia pensa-se com os pés bem assentes na terra. O seleccionado local conquistou o direito a subir à 2a divisão, mas não vai exercê-lo: “Achamos que não vale a pena, ao nosso nível. Preferimos fazer mais uma época na 3a divisão, ganhar mais experiência e rodagem, e mais tarde pensar nisso”, explicou o capitão da formação da RAEM ao PONTO FINAL. O sucesso estende-se também à equipa de Ten’s (Râguebi de 10). A equipa venceu recentemente um torneio em Hong Kong cometendo a proeza de não sofrer qualquer ponto. Uma defesa inviolável é proeza rara e um dos principais trunfos de qualquer equipa, sobretudo nas vertentes com menos jogadores do que o clássico Râguebi de 15. E Macau prepara-se para competir precisamente no Manila Ten’s, prova de grande prestígio no calendário Asiático. A par das conquistas no plano desportivo há igualmente metas novas à dinâmica da Associação da Modalidade. Ricardo Pina fala da correlação ‘mais trabalho, mais frutos’: “ Queremos ter uma estrutura mais organizada para mostrarmos ao Instituto do Desporto que nos estamos a esforçar para eles também nos darem...já nos dão muito apoio, mas para nos darem ainda mais, nomeadamente no nosso principal objectivo que é termos um campo para treinar e para jogar.”

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