27.4.08

25 Abril revisitado em conferência por Arnaldo Gonçalves, hoje, no IPM
A terceira vaga da democratização

No dia em que se assinalam 34 anos da Revolução dos Cravos, o académico Arnaldo Gonçalves fala sobre a efeméride, baseando a sua palestra num livro dos anos 90 do politólogo norte-americano Samuel Huntington, que qualifica o 25 de Abril como o ponto de partida da terceira vaga da democratização. Macau será ‘superficialmente’ mencionado, até porque, para o professor, o território foi “marginal ao processo do 25 de Abril”

Alfredo Vaz

Arnaldo Gonçalves. Professor do Instituto Politécnico de Macau (IPM) profere esta tarde uma palestra intitulada “O 25 de Abril de 1974, o arranque da terceira vaga de democratização.”
A conferência, que tem lugar a partir das 18:30 horas no auditório do IPM, é destinada aos alunos do Instituto Politécnico e aos alunos de português do Instituto Português do Oriente (IPOR), e é uma iniciativa conjunta das duas entidades.
A intervenção é baseada num livro dos anos 90 do politólogo norte-americano Samuel Huntington, que qualifica o 25 de Abril como o ponto de partida da terceira vaga da democratização.
Huntington identifica a primeira vaga como o período que começa logo a seguir ao final da 2ª Guerra Mundial, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, e a segunda relacionada com os outros países da Europa do Sul.
Para Huntington a terceira vaga começa com Portugal e Espanha, concluindo-se depois com os novos países na Europa de Leste.
Em declarações ao PONTO FINAL, o professor do Politécnico resumiu a sua intervenção deste final de tarde: “A minha intervenção anda à volta disso. No fundo, contextualizar o 25 de Abril, explicar o que é que foi, porque é que aconteceu, como é que aconteceu, que leitura podemos fazer 34 anos depois, quais foram os grandes momentos: o PREC (Processo Revolucionário em Curso), o Verão Quente de 75 e o 25 de Novembro, e o que isso significa em termos da estabilização do Estado.”
Para este académico, uma das imagens de marca da revolução portuguesa – o que a que caracteriza -, “é que se tratou de uma revolução de rotura no processo de democratização, que é invulgar e é diferente dos outros processos de transição democrática, quer em Espanha, quer na própria Grécia, onde a transição é negociada entre a elite autoritária e a próxima elite democrática. É, digamos, um processo ‘gradualista’ de passagem de testemunho. Em Portugal, isso não acontece por razões próprias do processo politico português, e por isso é que se diz que a transição portuguesa é um ‘case study’, é uma rotura. Isso conduz depois ao 25 de Novembro, que é o movimento que traduz a estabilização do sistema do processo de transição, a eliminação da esquerda militar da direcção politica do sistema.”
Aos alunos do IPM e do IPOR, o académico vai também apresentar um resumo das principais leituras que se fizeram ao processo político do ponto de vista da historiografia, mas também do ponto de vista da ciência politica, que é a área de especialização do orador, “aquela com que eu me preocupo.”

Macau marginal ao processo
do 25 de Abril


Arnaldo Gonçalves tem vasta obra publicada, artigos, análises e estudos, sobre a forma como o 25 de Abril foi sentido em Macau. Mas Macau não é propriamente o objectivo do tema da palestra deste final de tarde uma vez que, segundo o orador, o território foi ‘marginal’ ao 25 de Abril: “O processo de transição democrática chegou aqui atrasado e a própria situação de Macau é muito especial, quer da própria valência do sistema autoritário e da aplicação da ideologia salazarista a todo o ultramar português.”
Para Arnaldo Gonçalves, Macau sempre foi uma ‘coisa estranha’ que nunca jogou com os arquétipos do salazarismo, “mas também do ponto de vista democrático nunca se aplicou aqui, digamos, a gama, o ‘scope’, do processo de democratização que aconteceu em Portugal, aconteceu depois nas ilhas autónomas e de certa maneira levou às independências africanas.”
Por todas estas razões, considera o orador, no caso de Macau, e devido às relações muito especiais com a China “essa democratização nunca aconteceu e é uma das razões da entropia do sistema politico aqui de Macau e dos problemas que temos agora em termos de evolução da própria autonomia.”
Antes da intervenção de Arnaldo Gonçalves, o professor Pires Manso, da Universidade da Beira Interior, vai falar sobre “Macau no âmbito do quadrilátero UE 27, China, Portugal e os PALOP.” Os dois eventos decorrem no Auditório 2 do novo edifício do IPM, a partir das 18:30.

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