Albano Martins defende que subsídio governamental pode ter "efeito pernicioso"
Governo deve "impor regras"
para limitar inflação
Governo deve "impor regras"
para limitar inflação
O economista Albano Martins defendeu em entrevista à Lusa que a atribuição de um subsídio governamental de 5.000 patacas a cada residente de Macau é "um analgésico", mas não uma medida de combate à inflação.
Na terça-feira passada, Edmund Ho revelou, na Assembleia Legislativa, a distribuição de cerca de 2.300 milhões de patacas para "atenuar os efeitos da inflação", mas Albano Martins considera que o subsídio do Governo terá apenas "efeitos puramente psicológicos".
"Entregar dinheiro, por igual e sem qualquer critério, não combate as causas da inflação e até pode ter um efeito pernicioso ao aumentar o dinheiro em circulação", considerou.
Se o Executivo está preocupado com os "graves problemas sociais" que resultam de um crescimento da economia "profundamente desequilibrado, deveria, então, limitá-lo aos residentes com vencimentos abaixo de um determinado montante, por exemplo, da mediana salarial calculada em cerca de 8.000 patacas", disse.
O economista, que está ligado ao projecto imobiliário Nam Van, recorda que a escalada da inflação decorre do grande desenvolvimento da cidade, embora considere positiva a opção do Governo na atribuição de novas licenças de jogo em 2002, a "única válvula de escape para o crescimento económico".
Albano Martins lembra que o Governo tem várias medidas ao seu alcance para combater a inflação maioritariamente "importada" pela dependência exterior, pela depreciação do dólar americano - ao qual a pataca está indirectamente associada por via do dólar de Hong Kong - e pelo clima especulativo em actividades como o imobiliário.
Por isso, sustenta, há que "impor regras" para limitar a inflação e o aumento de preços no consumidor, criar novos aterros para a construção de forma a diminuir a pressão do imobiliário, alterar as taxas de reserva dos bancos - uma medida adoptada no continente chinês -, implementar uma política selectiva de crédito e controlo da taxa de juro e limitar a compra de habitações por entidades externas.
"As taxas de juro continuam a baixar, seguindo o dólar americano, quando a economia está sobreaquecida, em ciclo oposto, sinal de que o 'peg' (indexação de uma moeda a outra) deixou de funcionar com lógica", afirmou.
"Há uma grande liquidez no mercado, que só é benéfica para os especuladores e para o sobreaquecimento da economia", disse, recordando que "mais de metade do crédito concedido em Macau é para estrangeiros".
Albano Martins defendeu ainda que a existência de "muitos serviços concessionados em exclusivo ou onde a concorrência não funciona devido à falta de transparência do mercado" contribuem também para o aumento da taxa de inflação.
Com um horizonte temporal de cerca de quatro anos de grande desenvolvimento, Albano Martins prevê também que a cidade caia numa escalada de preços que pode criar grandes dificuldades à população tendo em conta que até 2012 deverão chegar ao território entre 70.000 a 80.000 novos trabalhadores para integrarem o sector do jogo.
"Se não forem criadas as bases para combater as causas e não os efeitos do aumento da inflação, então os preços podem subir sem controlo com todas as consequências negativas que daí se vão tirar."
CAIXA
Chefe do Executivo sobre os apoios financeiros
"Retribuir a riqueza à população"
Chefe do Executivo sobre os apoios financeiros
"Retribuir a riqueza à população"
O Chefe do Executivo, Edmund Ho, afirmou na passada sexta-feira que o apoio financeiro único para atenuar o impacto da inflação, com a atribuição de 5000 patacas a residentes permanentes e 3000 patacas a não permanentes, tem como objectivo retribuir a riqueza à população.
A responder aos jornalistas, à partida para a Wuhan, na província de Hubei, onde participou na 3ª edição da Exposição da China Central, Edmund Ho considerou natural que os cidadãos tenham diferentes opiniões sobre a atribuição deste apoio financeiro. De acordo com o Chefe do Executivo, o Governo reserva parte do saldo positivo para que, no futuro, sirva como garantia de aposentação e assistência social para os residentes, criando, deste modo, uma poupança a longo prazo. Além de manter a estabilidade financeira, esta medida é também uma retribuição da riqueza à população, disse.
Segundo Edmund Ho, este apoio financeiro não é, ao contrário do que muitos entenderam, uma medida para combater a pobreza ou um regime de benefícios sociais. Edmund Ho frisou ainda que os residentes podem decidir se precisam e qual a utilidade a dar a esse dinheiro, adiantando que espera conseguir a colaboração da Assembleia Legislativa (AL) neste processo. O reforço do orçamento deve ser apresentado à AL em breve, acrescentou, para que a atribuição do apoio financeiro possa acontecer em Julho.