9.4.08

Associação de Arquitectos de Macau promove seminário sobre rupturas climáticas
Alerta vermelho no Delta

Académicos e arquitectos de Macau e Hong Kong debatem no próximo sábado, aqui na RAEM, as rupturas climáticas no Delta do Rio das Pérolas. Nuno Jorge, Presidente da Associação de Arquitectos de Macau, antecipou ao PONTO FINAL os resultados de um estudo feito em parceria com o Civic Exchange, de Hong Kong: “Macau precisa de soluções radicais (...) há mil e uma soluções, mas é preciso agir depressa e bem”

Alfredo Vaz

O tema é actual, sensível e global. O mundo enfrenta rupturas climáticas e é preciso agir com prontidão. É este o mote de um seminário, na sede da Associação de Arquitectos de Macau, e a discussão – a partir das 14:30 do próximo sábado – é aberta ao público.
Na primeira parte do encontro far-se-á um diagnóstico da situação em todo o mundo. Na segunda parte falar-se-á especificamente sobre Macau, Hong Kong, e o restante da região do Delta do Rio das Pérolas, com base num estudo preliminar de análise e diagnóstico da situação - feito em parceria pela AAM e pelo Civic Exchange, de Hong Kong - e o apontar de um princípio de soluções.
E quais são elas, afinal? ”São mil e uma”, disse ao PONTO FINAL o presidente da instituição local, o arquitecto Nuno Jorge. “Passa da pequena intervenção do cidadão, do mudar as lâmpadas, apagar as luzes quando sai do quarto, enfim, essa coisas pequenas, até coisas de maior dimensão, ao nível da governação, da utilização de outros combustíveis para os transportes públicos, racionalização dos transportes públicos (por exemplo, os táxis levarem mais do que um cliente, quando há mais pessoas a quererem ir para um mesmo destino, o que já se faz informalmente em alguns países do mundo, Israel terá sido pioneira). Há uma série de medidas governamentais nesse sentido. E depois temos o nível macroeconómico mundial, como os Protocolos de Quioto (em vigor em Macau) e o acordo que se tentou em Bali, na Indonésia, que não foi mau, apesar de tudo, porque pela primeira vez os Estados Unidos se envolveram no assunto.”
Ou seja, na opinião de Nuno Jorge, soluções não faltam, há é que ver a maneira como elas são aplicadas. “Por exemplo, se nós mudássemos de repente para energia nuclear, uma tecnologia bastante utilizada – em França, 70 por cento da produção de energia eléctrica é de estações nucleares e os produtos são depois reciclados –, era só uma questão de pôr mais estações. Mas claro que há problemas ecológicos, ninguém gosta de ter uma central nuclear na porta ao lado, mas há países com grandes espaços como os Estados Unidos, a Rússia e a própria China, que poderão ter. Mas em termos de esforço económico não seria muito diferente dos orçamentos que estão a ser gastos na guerra do Iraque."

Macau precisa de medidas radicais

Nuno Jorge diz que o estudo não pretende fazer soar campainhas de alarme, antes educar e prevenir. “Estamos a tempo, mas, de qualquer forma, como a febre já surgiu, vamos ter que passar uns tempos com caldos de galinha (risos); mas é um período passageiro, como qualquer gripe. Vamos sentir as consequências, mas vamos conseguir com certeza ultrapassá-las se as medidas forem tomadas a tempo. Agora, as medidas vão ter que ser radicais. Por exemplo, eu estou aqui a falar consigo no meu atelier, a olhar para estes prédios novos que estão a ser construídos e a pensar para os meu botões: estes vão ser os próximos dinossáurios. São edifícios de uma tecnologia que não é sustentável e vamos lá a ver os custos de habitar nestes edifícios daqui a 20 anos, e até que ponto a situação destas habitações de luxo poderão manter essa classificação, de luxo.”
O arquitecto fala em situações inevitáveis como o aumento da temperatura à escala global, “ainda que pouco vai subir, se subir só um pouco não é tão grave. Mas, de facto, essa coisa de dizer que em 10, 20 anos se pode converter tudo para centrais nucleares é uma constatação teórica, não é prática, porque isto implica o desmantelamento de toda a indústria petrolífera, que está estimada em mais de um trilião de dólares, e toda a outra rede de industrias associadas, como os automóveis, as estradas, as centrais a carvão...isso tudo gera vários triliões de dólares, e mais os empregos, etc. Não é só treinar as pessoas, mas é também mudá-las de sítio. Há ainda muito caminho a percorrer, mas é preciso começarmos o mais rápido possível.”
Por tudo isto, Nuno Jorge diz que ainda acredita, porque “a arte do médico é conseguir curar a doença sem matar o doente.”

Vontade de mudar

A grande chamada de atenção para o tema das alterações climáticas deu-se em Setembro do ano passado por ocasião da realização da reunião das Organizações não Governamentais das Nações Unidas (ONU), que antecedeu a Assembleia Geral da ONU, e em que os três dias foram dedicados ao tema da mudança de clima. Aliás, professores de Harvard disseram que já não eram "climate changes" (alterações climatéricas), mas sim "climate disruption" ( ruptura climática). O tema ganhou ainda mais visibilidade e mediatismo com a atribuição do Nobel da Paz, compartilhado por Al Gore, “o que deu ainda mais peso, credibilidade e exposição a todas as intervenções que tinham sido discutidas em Setembro, em Nova Iorque, sede da ONU”, observa Nuno Jorge.
Segundo o arquitecto, "estávamos a pensar realizar este seminário em finais do ano passado, mas por uma série de razões não foi possível conjugar agendas." Um tempo aproveitado pela AAM para “fazer uma recolha de uma série de elementos e contactos. O Civic Center de Hong Kong estava justamente a preparar uma publicação sobre as alterações do clima em Hong Kong, daí termos decidido fazer um esforço conjunto.”
Também no sábado será lançada uma publicação com os resultados desse estudo, “uma intervenção menor da Associação dos Arquitectos de Macau (AAM) com o Civic Center de Hong Kong, um think tank da RAEHK. Uma parceria que resultou de uma comunhão de interesses , estávamos a pensar nesse assunto desde Setembro do ano passado, queríamos ter feito este seminário há mais tempo."

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