14.4.08

Associação de trabalhadores realizou segunda manifestação de protesto em menos de um mês
"A culpa é do sistema"

Cerca de 80 pessoas, na sua maioria trabalhadores e pessoas em situação de desemprego, na faixa etária dos 50 e 60 anos, saíram ontem à rua reclamando mais apoio social da parte do Governo e em protesto contra a contratação de mão-de-obra não especializada. Uma marcha ordeira, só ‘apimentada’ na última etapa do percurso, quando os representantes do grupo pretenderam entregar a um funcionário do Palácio do Executivo envelopes gigantes contendo o manifesto e as reivindicações

Alfredo Vaz

Os manifestantes concentraram-se por volta das três da tarde no Jardim do Triângulo da zona norte da cidade, a cerca de 500 metros do posto fronteiriço das Portas do Cerco, iniciando aí uma marcha que quase duas horas por algumas das principais artérias da cidade, que tinha como destino o Palácio do Governo, na Avenida da Praia Grande.
A acção de protesto e reivindicação teve como objectivo sublinhar junto da opinião pública o que esta associação diz serem injustiças flagrantes do sistema social de apoio aos mais desfavorecidos face ao ritmo de crescimento económico no território, e exigir que o Executivo implemente medidas urgentes de apoio aos mais desfavorecidos.
Tratou-se da segunda manifestação organizada por esta associação – criada há cerca de nove meses, sem nome registado em português, mas cujo nome em chinês (ainda a aguardar autorização) significa União do Poder dos Trabalhadores - em menos de um mês.
O grupo reivindicou a melhoria dos direitos dos trabalhadores locais e a solução para os problemas da inflação e habitação. Querem que o Executivo tome medidas urgentes, nomeadamente implemente um plano de construção de mais unidades de habitação social, regule eficazmente os níveis de inflação dos bens de primeira necessidade, e fiscalize e imponha medidas que travem a contratação de mão-de-obra não qualificada, não residente, por forma a ‘forçar’ os empregadores a darem postos de trabalho à mão-de-obra residente. Uma das ‘faces-bandeira’ da marcha de ontem era uma residente natural de Macau, uma quinquagenária que diz ter sido dispensada por uma das operadoras de jogo - onde exercia funções de lojista – e de ter sido contratado para a substituir um trabalhador não-residente.
A marcha decorreu ordeiramente, enquadrada por agentes da Brigada de Trânsito (em motos e a pé), a passo calmo e praticamente sem afectar as dinâmicas do trânsito rodoviário, também por decorrer num domingo, dia de pouco tráfego citadino.
Do grupo faziam parte homens e mulheres com uma média de idades de cerca de 55,60 anos, mas também dois jovens adolescentes – um rapaz e uma rapariga – netos de um casal de manifestantes.
Empunhando cartazes com palavras de ordem que alertavam para a injustiça social, denunciavam o que acusam ser a conivência do Governo com o patronato, e exemplos concretos de casos de dramas humanos. Os manifestantes gritaram também palavras de ordem visando directamente o próprio Chefe do Executivo, acusando Edmund Ho de ignorar as pessoas de Macau que mais necessitam do seu apoio.
A coluna fez pequenas paragens em frente à sede de alguns departamentos do Governo, nomeadamente no Comando da Brigada de Trânsito da Avenida Sidónio Pais, onde reivindicaram alterações à Lei de Trânsito. A associação tinha convidado o grupo de motociclistas locais – organizador de outras acções de protesto pelas ruas de Macau em tempos recentes – mas a chamada não se consumou, havendo apenas um motociclista à cabeça da coluna).
Já à porta do Palácio do Governo, Leong Kai Man, porta-voz do grupo – denunciou que os salários dos trabalhadores não acompanham o desenvolvimento económico do território, “o que aumenta o fosso entre os extremos da camada social, agudizando e multiplicando os casos de injustiça social e humana.” O organizador disse ainda que a população não tem meios para ganhar esta ‘batalha’: “Não conseguimos acompanhar o ritmo de crescimento nem sequer para comprar bens de primeira necessidade. As medidas de apoio anunciadas recentemente pelo Executivo não conseguem resolver os problemas estruturais com que a população se debate. "A culpa é do sistema", considerou.
Minutos antes aconteceu um pequeno ‘frisson’ no momento em que os responsáveis pela marcha pretenderam entregar a petição ao funcionário do Palácio. Por forma a – visual e simbolicamente – vincarem a sua acção, os manifestantes optaram por colocar cópias do manifesto em envelopes gigantes, de proporções quatro a cinco vezes maiores do que aqueles que são usados nestas situações. O funcionário do Executivo pediu que os manifestos fossem colocados em outros envelopes, o que provocou uma reacção emotiva de três dos manifestantes. Uma situação rapidamente sanada pelo bom senso do funcionário público que voltou atrás com o seu pedido, tendo mesmo acabado por se juntar aos manifestantes (a pedido destes) para uma série de fotografias que registaram o momento da entrega, incluindo uma foto com os adolescentes a segurarem as extremidades de uma das faixas de protesto.

CAIXA
Associação garante mais duas acções de protesto
Manifestação coincide com chegada da Tocha

Leong Kai Man, da União do Poder dos Trabalhadores, disse que a associação está a preparar mais duas manifestações para daqui a cerca de duas semanas: no 1º de Maio, dia do trabalhador, e no dia 3, por forma a coincidir com a realização do percurso da Tocha Olímpica na RAEM.
Em Macau, a tocha vai percorrer 27 quilómetros e ser transportada por 120 pessoas num percurso entre a península e as ilhas da Taipa e de Coloane com início e fim marcado para o parque temático da Doca dos Pescadores a 3 de Maio.
Anteriormente, em declarações à agência Lusa, Manuel Silvério, líder da organização do percurso da tocha olímpica no território, explicou que a organização “não está a prever qualquer alteração ao percurso”, mas salientou a “existência de planos de contingência caso se mostrem necessários”. “Como em qualquer outra organização existem planos para responder a qualquer imprevisto”, disse.
Antes de chegar a Macau, a Tocha vai ainda percorrer 28 quilómetros em Hong Kong, no dia 2.
Três mil polícias vão realizar as tarefas de segurança da passagem da tocha olímpica na região vizinha.
Em declarações aos jornalistas em Pequim, o Secretário-chefe Henry Tang Ying-yen explicou que os agentes policiais vão garantir que a tocha possa percorrer a cidade de forma digna e em segurança.
A tocha olímpica segue depois para Macau, prevendo-se que seja utilizado um meio aéreo para cumprir os cerca de 20 quilómetros em linha recta que separam o aeroporto de Hong Kong e Macau.
A opção pelo transporte em meio aéreo deriva da preocupação da organização do percurso mundial da tocha da possibilidade de protestos no mar.

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