8.4.08

Entrevista com Ken Wong, vice-presidente da Lenovo para Hong Kong, Macau e Taiwan
Gigante da informática aposta na RAEM

Faz em Maio três anos que a Lenovo adquiriu a divisão de computadores portáteis do gigante norte-americano IBM, fazendo com que a empresa chinesa registe o maior crescimento na actualidade. Ken Wong, vice-presidente para Hong Kong, Macau e Taiwan - ele próprio antigo funcionário da empresa americana durante onze anos, explica em entrevista que se tratou de “um enorme desafio, muito, muito estimulante. Tivemos que nos pôr fora da casca do ovo que era para nós Macau, Hong Kong e China, e pensar à Escala Global, para um universo de cerca de 80 países.” Recentemente a empresa passou a olhar com outros olhos para a RAEM, reforçou a estratégia de marketing e implantação, colocando Macau ao mesmo nível de Hong Kong.

Alfredo Vaz

PONTO FINAL - Começando pelo principio. A Lenovo identificou três grandes mercados para publicidade: o asiático, o norte-americano e o europeu. Com um ponto comum, o desporto! Como desenvolveram esta intervenção?
Ken Wong - Pois. Foi preciso fazer um ponto final, parágrafo: da IBM para a Lenovo. Começámos por pensar com muito cuidado – e do zero – em como construir uma marcar. Foi um enorme desafio, muito, muito estimulante. Tivemos que nos pôr fora da casca do ovo que era para nós Macau, Hong Kong e China, e pensar à Escala Global, para um universo de cerca de 80 países. Na altura, fora da China, contavam-se pelos dedos de uma mão os países onde éramos conhecidos. Fizemos um levantamento, elencámos uma série de alternativas e optámos por usar o desporto como meio de divulgação do nosso produto.

- E porquê o desporto?
- Por ser uma actividade – talvez das únicas – que é transversal ao sentido de Aldeia Global, onde praticamente não existem barreiras de nacionalidade, de linguagem, etc
Apresentámos a marca Lenovo ao mundo em 2005, ao associarmo-nos aos Jogos Olímpicos de Inverno realizados na cidade italiana de Turim. Em 2006 fizemos um contracto com o jogador de futebol brasileiro Ronaldinho, logo a seguir a ele ter ganho o troféu de melhor jogador do mundo, e também porque estávamos no ano de Campeonato do Mundo (Alemanha), o Brasil é um eterno candidato, e o Ronaldinho um dos expoentes máximos da selecção. Também em 2006 assinámos um contracto com a NBA (Associação de Basquetebol Americana, a nata da modalidade a nível mundial) e somos – com muito orgulho – o servidor exclusivo de computadores portáteis daquela prova. Finalmente o ano passado firmámos um contracto – que está em vigor – com a equipa de fórmula 1 Williams AT&T.

- Três desportos diferentes, mas também audiências distintas, e uma abrangência – cobertura - quase mundial...
- Nem mais. Repare melhor na nossa estratégia. Usamos a NBA para atingir o mercado norte-americano, o futebol para o mercado sul-americano e – de facto – mundial, a Fórmula 1 para as provas europeias (a maioria, 10 das 18 corridas do calendário anual disputam-se em solo europeu), e os Jogos Olímpicos de Pequim para o mercado asiático.

Envolvimento Olímpico

- Vocês já tinham um bom entendimento com o Comité Olímpico Internacional, depois do sucesso de Turim, foi fácil baterem a concorrência para ganharem a adjudicação do ‘hard-ware’ para os Jogos de Pequim? Beneficiaram do facto de serem uma empresa ‘da casa’?
- Há quem diga que sim, mas não me parece, tivemos que ir a concurso com quase 300 outras propostas. O nosso envolvimento é em três áreas: a primeira tem a ver com a Tocha Olímpica, não somos apenas um patrocinador, fomos nós que desenhámos a Tocha, batemos propostas de todo o mundo. Penso que a nossa lógica para chegarmos ao conceito tem uma boa parte do mérito: a Tocha representa uma folha de papel enrolada, e como sabem o papel foi inventado pelos chineses, e por aí fora...
E para afastar dúvidas de favorecimento patriótico, convém lembrar que o júri do concurso era constituído por membros dos Comités Olímpicos de quase todo o mundo. Não foi o BOGOC (Beijing Olympic Games Organizing Committee, Comité Organizador dos Jogos de Pequim) que escolheu a proposta da Lenovo.

- Que comentário faz aos incidentes que têm perturbado o percurso da Tocha na Europa?
- Peço desculpa mas não vou fazer quaisquer comentários, é essa a politica da nossa empresa.
Mas como cidadão chinês... Peço-lhe que compreenda a minha posição, hoje represento apenas a Lenovo.

- Vamos voltar então ao vosso papel, ao envolvimento com os Jogos Olímpicos de Pequim, falou da Tocha, mas tinha referido três aspectos, quais são então os outros?
- Recapitulemos então. Em primeiro lugar, desenhámos a Tocha; em segundo, somos um dos patrocinadores oficiais do percurso mundial da Chama Olímpica, e os únicos patrocinadores dos Jogos Olímpicos de 2008 na área dos Computadores Portáteis. Instalámos 20 mil terminais de computadores portáteis (incluindo ‘servers’ ‘lap-tops’ e ‘desk’tops’) para o Comité Organizador, quatro vezes mais do para as Olímpiadas de Inverno de Turim 2005. São estas as nossas obrigações e responsabilidades. Tivemos já uma bateria de testes que correram bastante bem. Os Jogos Olímpicos são uma máquina de grandes dimensões que para alem da exposição mediática e promocional, são de uma grande exigência técnica. O que quero dizer é que se as coisas correrem bem na área informática a que estamos ligados – e vão correr, com certeza – saímos desta ‘aventura’ com um selo de garantia de qualidade que nos servirá de cartão de visita a apresentar a qualquer cliente no mundo.

- É quase como ganhar uma batalha mundial em menos de três anos...
- Exacto. Ainda nem foi há três anos que adquirimos a unidade de portáteis da IBM, e nessa altura, devo dizer-lhe com toda a franqueza e conhecimento de causa – até porque trabalhava para a empresa americana – não foi fácil sequer manter os clientes da IBM na nossa carteira. Eram olhados com desconfiança: será que eles vão ser capazes, estarão a comprar a ‘nossa’ tecnologia para levá-la para a China, etc, etc. Não foi um período fácil, mas penso que agora já somos olhados como um produto de alta qualidade técnica e ‘design apelativo’. Em resumo: temos uma série de estratégias para manter a nossa quota de mercado, e tentarmos cativar muitos mais clientes, em tido o mundo. A promoção da marca está em marcha, mas vamos também ‘atacar’ o segmento de produtos de alta qualidade, há clientes para isso.

- Em detrimento dos clientes de menos recursos? Lembro-me de Bill Gates (Patrão da Microsoft) ter dito um dia que o seu sonho era que – no futuro – cada norte-americano tivesse o seu próprio computador portátil....
- Sim, lembro-me disso. Claro que queremos ter penetração em todos os segmentos, mas o que temos constatado é que os nossos produtos mais caros têm tido muito boa aceitação e procura. Se for ver o nosso ‘portfollio’ vai reparar que somos bastante abrangentes: cobrimos tanto a vertente comercial, como o mercado geral de consumo.

“Queremos ser líderes mundiais”

- Uma estratégia que parece agressiva. Em que patamar se colocam perante a concorrência directa?
- Segundo o nosso último relatório financeiro temos uma boa prestação tanto no chamado ‘segmento alto’ como no ‘segmento baixo’. Mas o que gostaria de sublinhar é que somos a empresa do ramo com maior crescimento na actualidade. Logo, estamos a aproximar-nos de ano-para-ano dos dois lugares mais altos do pódio em que aparece em 1º lugar a HP (Hewlett-Packard) seguida da DELL. O nosso objectivo é chegarmos a líderes mundiais do mercado, mas ainda somos ‘crianças pequenas’ a concorrer contra os ‘adultos’ do ramo.

- Voltando às suas declarações de à pouco, quando se referia às dificuldades em manter clientes da IBM, e à desconfiança com que eram olhados, sente que há um estigma em relação à capacidade das empresas chinesas da parte dos operadores e mercados ocidentais?
- Se quer que lhe diga com franqueza, penso que não é por sermos chineses, acho que são receios ‘naturais’ da mentalidade ocidental quando olha para a Ásia. Já aconteceu no passado
primeiro com as grandes marcas japonesas – e hoje em dia uma marca japonesa é sinonimo de qualidade, de garantia – e um outro ciclo repetiu-se quando da internacionalização dos grandes conglomerados sul-coreanos. Nós somos os novos ‘players’, temos que arcar com certas vicissitudes.

- E dentro da própria China, e apesar de serem uma empresa chinesa, sentem-se ameaçados pela pirataria?
- Não tanto. Vamos por partes: em primeiro lugar porque produzimos essencialmente ‘hardware’ – 88% por cento dos nossos produtos - que não é tão rentável para o mercado paralelo de pirataria; em segundo lugar o ‘software’ que produzimos para os nossos computadores está todo legalmente licenciado, o que também dificulta as operações de pirataria.

Macau a par de Hong Kong

- No início, o mercado de Hong Kong era prioritário para Lenovo. Mas neste momento as RAE parecem ter o mesmo reconhecimento na estratégia de promoção da companhia. Quais são as vossas mais-valias no mercado local?
- A nossa diferença está no serviço que oferecemos aos clientes locais. Fomos o primeiro, e que eu saiba até seremos ainda o único, vendedor de PC’s que tem um serviço próprio de atendimento ao público na RAEM. O que nos permite fazer um acompanhamento pós-venda que os nossos concorrentes não proporcionam aos seus clientes. Oferecemos um serviço de resposta no próprio dia para computadores portáteis. Este é um serviço feito a pensar nos clientes de Macau, se tiver um problema no seu hardware, traga, que nós prometemos resolvê-lo no próprio dia.

- Como conseguiram conquistar essa fatia do mercado?
- Conseguimos porque temos capacidade para fazer um forte investimento financeiro inicial, trazendo para a RAEM uma equipa de técnicos que aqui fixou residência, para alem de um armazém com uma panóplia de peças para reparação. Não é uma linha de montagem, mas – à escala – segue os mesmos princípios. A ideia de termos aqui um serviço de atendimento permanente remonta a Maio de 2005, logo a seguir a termos adquirido à IBM o segmento de portáteis do gigante americano, mas na prática, e com garantia de resposta no mesmo dia, estamos a funcionar há pouco mais de um ano.

- Com o centro instalado e a marca mais exposta, que outras iniciativas têm em carteira para o mercado local?
- Este ano pretendemos reforçar a nossa participação na Semana das Tecnologias da Informação, organizada pela Sociedade da Informática. Fizemos uma experiência pioneira o ano passado que correu muito bem. Trouxemos equipamento novo, algumas peças que nunca tínhamos mostrado sequer em Hong Kong e que apresentámos pela primeira vez ao público em Macau. Penso que isto diz bem das nossas intenções e do maior valor e significado que atribuímos ao mercado da RAEM. Ao mesmo tempo vamos também lançar uma grande campanha de publicidade, com ‘out-dors’ visíveis um pouco por toda a cidade. Um dos nossos alvos principais é a venda a retalho.

- Qual é o vosso envolvimento com parceiros locais como o Governo e os Operadoras de Jogo?
- (pausa) É verdade que os nossos produtos são usado pela grande maioria das principais operadoras, isso é inevitável (risos). Mas não podemos revelar pormenores sem autorização dos clientes, mas basta ir à recepção dos grandes hotéis que reconhece os nossos produtos e ‘logo’. Mais do que isso não lhe posso dizer.

- Mas estão também envolvidos com serviços da administração local, certo?
- Sim, é verdade. O ano passado celebrámos um acordo com o Governo, no valor de 150 milhões de Patacas para distribuirmos computadores portáteis a todos os professores da rede de ensino primária e secundária, com o intuito de aumentar o rendimento no trabalho. E temos recebido muito bom ‘feed-back’ dos próprios professores, destacando a qualidade e diversidade do produto, e ao mesmo nível a facilidade em resolver o problemas que vão aparecendo, a tal mais-valia que representa termos um centro de atendimento aqui fixado.

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