Festival de música organizado pelo IIUM no próximo dia 12 de Abril
Macau Underground
O Underground One, primeiro espectáculo dedicado a música original de bandas de Macau, acontecerá no próximo dia 12. Promete vir a repetir-se de dois em dois meses
Marta Curto
Macau Underground
O Underground One, primeiro espectáculo dedicado a música original de bandas de Macau, acontecerá no próximo dia 12. Promete vir a repetir-se de dois em dois meses
Marta Curto
"Cada vez que eu falava na ideia de organizarmos eventos para bandas locais, as pessoas ficavam sempre muito entusiasmadas. Mas depois encolhiam os ombros e diziam que isso nunca iria acontecer em Macau", recorda Geoffrey Churchill, o organizador do Underground One. Esta é a primeira grande iniciativa do Underground Music Macau, organizado pelo Centro de Artes, Tecnologia e Educação, do Instituto Inter-Universitário de Macau, mas daqui para a frente, promete vir a realizar-se todos os dois meses. A iniciativa é inédita em Macau e pretende criar um cenário musical, paralelo aos concertos mais comerciais do casinos e às bandas de covers que pululam os bares. Com data marcada para dia 12 de Abril, o espectáculo acontecerá entre as sete da tarde e as onze da noite no auditório do Instituto Inter-Universitário de Macau, juntando quatro bandas e um cantor/ compositor, que tocará a solo. Todos são de Macau e terão trinta minutos para mostrar as suas músicas originais, que vão desde folk music a heavy metal.
O público terá oportunidade de ouvir Forget the G, um grupo que começou na Austrália e está neste momento em Macau, tocando uma mistura de rock alternativo, post-grunge e música experimental. Os Scamper tocarão punk, emo e pop rock, tendo actuado no 8º aniversário da RAEM, em 2007, e na Hush!! Full Band Rock Music Marathon.
WhyOceans foi formado em 2005 e tem cinco membros. Tocará rock psicadélico, brit rock e brit pop. Os UNI-K exprimem a sua raiva e insatisfação com a sociedade através da música, com notas e melodias pesadas. E por fim, o dia 12 de Abril terá também Martin Kerr, o solista que veio do Canadá e vive em Macau. Aos 13 anos já era introduzido pelo BBC World Service como uma "revelação" e, doze anos depois, gravava o primeiro álbum, I Know You're Out There, considerado o Melhor Pop Álbum do Canadá em 2007, pela Toronto Exclusive Magazine. Há quem o compare a James Taylor, Cat Stevens ou John Denver.
"Eu já os conhecia, porque também sou músico e Macau é pequeno. Basicamente este primeiro evento foi feito por convite às bandas, mas estamos abertos a qualquer banda de Macau que toque originais e venha falar connosco. Nem precisam de ter uma demo para nos mostrar, sabemos que são caras e nem todos os músicos têm dinheiro para isso. Em Macau, só se pode viver da música à base de covers e entrando no mercado do entretenimento", conta Geoffrey. Ajudou também ter sido feito um concerto experimental há um ano, que juntou cinco bandas locais, sendo que três voltam a tocar este ano. "Nessa altura, tivemos entre 150 e 200 pessoas. Este ano gostávamos de chegar às 250 pessoas, que é a capacidade da sala", admite o organizador.
Por enquanto, e por falta de orçamento, a iniciativa tem de ser realizada no Instituto, mas, com o tempo, pretende chegar aos bares, já que música underground rima com o cheiro quente do whisky e o fumo espesso dos cigarros.
Construir um público
Geoffrey também é músico e foi na sua necessidade de encontrar sítios onde tocar com a banda regularmente que a ideia lhe surgiu. "A nossa banda foi convidada para tocar no Underground H.K., que é um grupo que organiza este tipo de eventos em Hong Kong. Eles também começaram por ter só bandas locais, mas com o tempo, e o aumento de audiência, acabaram por convidar grupos de outros sítios. A nossa foi uma deles e quando eu lá cheguei fiquei abismado com o que vi", recorda Geoffrey. Foram o primeiro grupo a entrar, às oito da noite, e já estavam na sala cerca de 100 pessoas. No final da noite, a sala estava totalmente cheia. "Eles construíram um público, e começaram a fazer entre dois e três espectáculos por mês. Quando eu lhes disse que gostava de fazer a mesma coisa em Macau, eles disseram logo que fariam aquilo que pudessem para ajudar".
Macau é um sítio especial, é verdade. Muitos casinos, e um público habituado a espectáculos de massas e músicas que conseguem trautear em surdina. "Mas há vários locais na Ásia onde se dizia ser impossível criar um público de música underground, e onde isso aconteceu, como Singapura e Hong Kong. Porque não Macau?", questiona Geoffrey, secundado por Victor Garnier, produtor e parte integrante da organização. "Eu estive a viver três anos em Taiwan, onde não há um cenário musical, mas um local que tem feito isto e há muitas bandas que passaram e cresceram ali. Eu acho que Macau tem audiência para isto". Por enquanto, compete à Underground Music Macau desmistificar gostos e construir um público sem preconceitos. Mas no futuro, Victor admite que os bares podem abrir-se a este tipo de iniciativa e, nessa altura, a organização poderá baixar os braços e limitar-se a ver o resultado do esforço. Geoffrey é de outra opinião. "Estes festivais são sempre importantes para quem queira começar. Para já, os bares podem não estar abertos a principiantes e depois, é bem menos stressante tocar num espectáculo destes, do que enfrentar logo o público de um bar".
Por enquanto, estes concertos de música underground acontecerão de dois meses. Com o tempo, poderão passar para uma frequência mensal. A verdade é que isto pode ser o início de uma cultura musical em Macau, bem longe das fórmulas cor de rosa que enchem os casinos. E pode ser o começo de muitos sonhos de músicos que querem mais, mas não conseguem lá chegar.
No espectáculo de dia 12, os bilhetes serão de 30 patacas e poderão ser adquiridos no próprio dia, ou nas instalações do Centro de Artes, Tecnologia e Educação, do Instituto Inter-Universitário de Macau. Experimente. O máximo que pode acontecer é não gostar da música. Mas pelo menos ouve alguma coisa diferente.