7.4.08

Instituição altera política de subsídios e deixa de ter vocação de mecenas
"Morreu a Fundação Oriente,
viva o Museu do Oriente"


A Fundação Oriente, tal como a conhecemos, não faz mais sentido; a Fundação será quase só o Museu. A todos os níveis, mesmo financeiro

João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com

Como é que a Fundação Oriente vai conseguir quatro milhões de euros para a manutenção do Museu do Oriente, que abre daqui a um mês (uma vez que o seu presidente revelou que esses custos deverão situar-se precisamente entre os três e os quatro milhões de euros)?
Tomando os números de 2006, os últimos disponíveis, a Fundação teve 12 milhões de euros de receitas e 16 milhões de despesas.
Monjardino, que é – sobre isso haverá poucas dúvidas – um bom gestor, pode tentar apertar as despesas, pode encontrar os fundos de investimento com melhores rendibilidades, pode até conseguir mais-valias em negócios em que a FO está ou venha a estar envolvida, mas, além da imprevisibilidade dos mercados financeiros, a verdade é que três ou quatro milhões de euros não são um subsidio de mil euros que se decide atribuir ou não.
A Fundação Oriente tem de cortar em algo de significativo para poder manter o Museu e o caminho parece óbvio, entre outras opções que também possam surgir: os subsídios.
Ainda relativamente a 2006, a FO atribuiu quase cinco milhões de euros de subsídios, tanto (um pouco mais) em Portugal como no Oriente.
É por isso que Carlos Monjardino tem vindo a dizer de há uns tempos para cá que a FO pretende reduzir as comparticipações por exemplo na Escola Portuguesa (o maior ‘cliente’ individual da FO) mas também no IPOR. Recentemente a Rádio Macau dava conta que esse corte atingiria metade do valor actual, sendo que não se conhece a posição do Ministério da Educação sobre essa (e outras) matéria(s). Recorde-se que o PONTO FINAL confrontou a ministra com essa questão e não obteve resposta.

«Redefinição de prioridades» e
«um novo ciclo»

Mais sorte teve com a Fundação Oriente.
A um conjunto de questões enviadas, respondeu Guilherme Vaz, o director financeiro da FO com um texto em que se fica a saber, nomeadamente, como é que haverá uma Fundação antes e depois do Museu.
«Assegurar a sustentabilidade deste projecto passa, necessariamente, por uma reorientação estratégica da gestão da Fundação, traduzida numa criteriosa afectação de recursos e sua rigorosa monitorização e avaliação de risco, numa redefinição de prioridades, a par da dinamização de fontes de receitas associadas ao próprio Museu do Oriente que contribuam para minimizar o impacte do lado dos custos».
Guilherme Vaz deixa, mesmo, claro que a FO que todos conhecemos, especialista em atribuir subsídios, é passado: «A opção assumida de criação do Museu do Oriente marca claramente um novo ciclo na vida da Fundação e confere-lhe um próximo perfil de actuação, qualitativa e quantitativamente diferenciado daquele que foi o seu trajecto de 20 anos como instituição mecenática, vocacionada para a atribuição de apoios e subsídios em larga escala. Com o Museu e através dele, a Fundação Oriente atingirá um novo estádio na forma de cumprir fielmente os seus objectivos estatutários, fazendo sobressair e comprometendo-se publicamente como verdadeira obreira dessa ponte cultural entre o Ocidente e o Oriente, que constitui a sua missão central».

Um museu mais ambicioso (e caro)
e «resultados intangíveis»

Guilherme Vaz explica ainda que os esforços da gestão da FO não se ficarão pela alteração na política de subsídios e que para além «do já referido reforço na adopção de medidas de contenção do lado das despesas, a Fundação não deixará de prosseguir uma linha de orientação, oportunamente gizada e da qual se estimam resultados durante o exercício de 2008, de realização de mais-valias, que proporcionará um reforço das disponibilidades e um maior conforto na alocação de fundos sob gestão propiciadores de uma base regular de proveitos».
O gestor da FO lembra no texto enviado ao PONTO FINAL que «Por vicissitudes várias, só agora, ao fim de 20 anos de vida da Fundação, foi possível concretizar tal projecto, que acabou por adquirir contornos e características um pouco mais alargados que os imaginados nos planos iniciais da Fundação, ao oferecer um conjunto de valências que, mais que um museu, o configuram como um centro cultural multidisciplinar. Um projecto desta dimensão envolveu, naturalmente, um significativo investimento, associado à aquisição do imóvel, a todas as obras de adaptação do mesmo e aos respectivos equipamentos e recheio». Mas também – e é algo em que Monjardino tem sempre insistido – que «Pelo carácter não lucrativo da própria Fundação Oriente mas, em especial, pela natureza do projecto cultural que é o Museu do Oriente, também facilmente se entende que, apesar do pragmatismo com que se perspectivam as implicações financeiras da sua exploração, o mesmo não pode ser avaliado exclusivamente em termos de estrita rentabilidade económica ou financeira». Ou seja, «este projecto não pode deixar de ser encarado e valorizado como uma fonte de resultados “intangíveis” ou não facilmente quantificáveis».
Em resumo, explica Guilherme Vaz, há novos objectivos, uma nova forma de cumprir a missão da Fundação criada há 20 anos: «após um ciclo de 20 anos de significativo suporte aos mais diversificados projectos de natureza cultural, educativa, artística, filantrópica e social, especialmente em Macau, Goa, Timor e Portugal, a Fundação Oriente passará a cumprir a sua missão estatutária [«fomentar a continuidade e incrementar o reforço das ligações históricas e culturais entre Portugal e os países do Extremo Oriente»] através de um enfoque de actividade centrada no Museu do Oriente, daqui resultando um reajustamento na política de gestão financeira».

CAIXA
O que será o Museu

Eis os benefícios que a FO enumera com a criação do Museu do Oriente, através do seu gestor Guilherme Vaz: «a criação de um palco de excelência para a cooperação e intercâmbio entre Portugal e o Oriente asiático; a oportunidade para um acrescido conhecimento em Portugal das culturas e civilizações do Oriente; o tributo da Fundação para uma maior visibilidade de Macau e da sua realidade, em Portugal e na Europa; o enriquecimento do património cultural nacional; a valorização de um património edificado do Estado Português que estava desaproveitado; o efeito próprio e também o que induzirá na requalificação urbanística da zona ribeirinha da cidade de Lisboa e no mercado turístico de toda a região.»

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