18.4.08

Macau volta a estar presente nos Jogos Paralímpicos
Um atleta garantido para Pequim,
mas quota pode ainda aumentar


Desde 1988 em Seul que Macau está sempre presente nos Jogos Olímpicos para deficientes, oficialmente designados de Paralímpicos. Mas as quotas têm diminuído e apenas um elemento, de atletismo, está assegurado. É Kong Siu Ieng. Associação de Deficientes espera ainda mais um ou dois lugares. Vários países vêm também estagiar ao território

Vítor Rebelo
rebelo20@macau.ctm.net

Muito se tem falado do paradoxo que é Macau pertencer oficialmente ao Comité Paralímpico e não ter sido aceite, até esta altura, pelo Comité Olímpico Internacional. É que os dois organismos estão directamente ligados e praticamente todos os países ou regiões pertencem aos dois lados.
Macau só é reconhecido pela parte dos deficientes e não se compreende qual a razão que leva o Comité Paralímpico a “contradizer” o seu “irmão” internacional. Curiosamente os dois “dossiers” foram entregues na mesma altura e tiveram encaminhamento e compreensão diferentes por parte dos respectivos dirigentes. Na altura era o espanhol Juan António Samaranch quem tinha o “poder olímpico”. Ele que até veio fazer uma visita a Macau.
Hoje, o poder cabe ao belga Jacques Rogge. Está tudo na mesma. A RAEM continua a aguardar, com optimismo, que um dia os seus “direitos” serão reconhecidos, até porque os apoios vêm de todo o lado, o mais importante dos quais da República Popular da China.
O certo é que Macau é filiado no Comité Paralímpico Internacional desde 1990, depois de ter sido fundada, um ano antes, a Associação de Deficientes, através da acção de António Fernandes e Leonel Borralho.
Agora, em ano olímpico, volta a falar-se dos dois organismos, no que diz respeito à situação do território. Tudo é, por isso, bem claro: Macau está (e continuará a estar) no Comité Paralímpico e não está (e duvida-se mais do que nunca que poderá estar…) no Comité Olimpico Internacional.

Kong Siu Ieng
vai a Pequim

Enquanto sonha com a presença de atletas nas competições dos “atletas normais”, Macau vai-se contentando com o envio de deficientes aos Jogos Paralímpicos, de grande importância nos dias que correm, uma vez que tem sido crescente o interesse dos países em conquistar medalhas.
Kong Siu Ieng é o único que tem assegurada a presença na capital chinesa, para uma prova que se inicia a 6 de Setembro (cerimónia de abertura) e termina a 15, cujas modalidades vão decorrer precisamente nos mesmos locais dos Jogos Olímpicos de Verão.
Kong Siu Ieng tem a sua inscrição na especialidade de lançamentos (peso, disco e dardo) em cadeira de rodas, onde aliás tem conseguido bons resultados a nível internacional. Trata-se de um deficiente pós-polio, com deformações nos membros inferiores.

Quotas definidas
no mês de Maio

Segundo as informações prestadas ao PONTO FINAL, pelo presidente da Associação de Deficientes de Macau, António Fernandes, este atleta tem um bom ranking mundial, estando situado nesta altura no décimo segundo posto. Em termos asiáticos, a lista ainda não foi publicada, mas Ieng não deverá estar muito longe dos primeiros seis.
“É pena neste momento ainda não podermos assegurar a presença de mais atletas de Macau nos Jogos Paralímpicos de Pequim, mas estou esperançado que a nossa quota para este ano possa aumentar em mais um ou dois atletas”, palavras de António Fernandes, dirigente que indicou outros desportistas para fazer parte a lista de possíveis seleccionados, aguardando resposta dos membros do Comité Paralímpico Internacional.
Está à porta da convocação um outro elemento da modalidade de atletismo, Wong Ka Fai, nas categorias de 100 e 200 metros. Depois, se houver vagas (a serem anunciadas em definitivo em Maio), então a natação será contemplada.

Jogos FESPIC
deram preparação

Todos estes atletas deficientes de primeiro nível de Macau, vão habitualmente aos Jogos Fespic, a competição asiática mais importante, que se efectua de quatro em quatro anos (sempre no ano anterior aos Olímpicos) e aos quais o território envia atletas desde 1979.
Em 2007 realizou-se na Malásia, em Kuala Lumpur, com Kuong Siu Ieng a alcançar uma medalha de ouro (disco) e duas de prata (peso e dardo). No total, a RAEM totalizou 10 idas ao pódio: uma de ouro (atletismo), quatro de prata e cinco de bronze.
Este ano e antes dos Jogos Paralímpicos de Pequim, Macau vai estar representado no Campeonato do Mundo de Boccia, a disputar em Singapura, em Julho. Nesta disciplina Macau tem evoluído, “mas é muito complicado competir com países de enormes tradições, como são Brasilo ou Estados Unidos”, referiu António Fernandes.
Em Outubro, será a vez de Macau estar presente no Campeonato Asiático de badmington em cadeira de rodas, na Coreia do Sul.

Procurar integração
no meio social

Para aquele “grande carola” do mundo da deficiência de Macau, o panorama do desporto desta área tem melhorado. No entanto:
“Só pode desenvolver-se ainda mais quando a questão geral da deficiência do território for encarada de outra forma, mais aberta, por parte das famílias, dos pais. Têm sido dado passos importantes, só que temos a certeza de que há muitos mais do que aqueles que estão registados ou contabilizados. Aos poucos pretendemos mudar as mentalidades, integrando cada vez mais deficientes na sociedade. Mas ainda muitos que estão fechados em casa ou nos asilos.”
Relativamente aos apoios dados à Associação de Deficientes para que, no plano desportivo, consiga enviar atletas seus a provas internacionais, Fernandes reconhece o esforço que é feito por Instituto de Desporto e Serviços Sociais através do IASM.
Voltando aos Paralímpicos, recorde-se que Macau começou por ter uma comitiva de 30 atletas nos Jogos de Seul, começando a partir daí a cota a descer: Barcelona, 1992 (4), Atlanta, 1996 (2), Sidney, 2000 (2), Atenas, 2004 (1).
Nunca o território conseguiu medalhas nestas participações olímpicas.
“Agora é cada vez mais difícil, dado o interesse que os países têm em garantir medalhas. Há mesmo atletas profissionais, que só fazem isto na vida. Daí a qualidade que se vê nestas provas, com uma exigência cada vez maior.”

Algumas comitivas
estagiam em Macau

Para os Jogos Paralímpicos de Pequim prevê-se a presença de 180 países ou territórios, com algumas das delegações a optarem, tal como os atletas ditos normais, pelo estágio em Macau, aproveitando a relativa proximidade da capital chinesa, clima, alimentação e, calro, as excelentes infra-estruturas de que Macau dispõe, graças fundamentalmente às apostas nos Jogos da Ásia Oriental, Asiáticos em Recinto Coberto e da Lusofonia.
Assim, esperam-se vários atletas de Inglaterra, Portugal, Brasil e outros do continente africano, de expressão portuguesa.
“A Inglaterra, por exemplo, gasta muito dinheiro para preparar a equipa para os Paralímpicos. Cerca de 80 milhões de patacas constituem o orçamento da selecção britânica, que já esteve a estagiar em Macau duas vezes.”
De referir que, neste fim-de-semana, concretamente durante todo o dia de domingo, o Estádio de Macau vai ser palco dos Jogos para deficientes de Macau, que se realizam todos os anos e constituem a grande festa deste tipo de actividades desportivas.

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