18.4.08

O chinês poliglota que trabalha numa loja de Zhuhai aprendeu a falar português
O Miguel dos DVDs

Miguel já é suficientemente conhecido em Macau para ser notícia. É o chinês que trabalha na loja de DVDs de Zhuhai preferida dos portugueses de Macau, e aprendeu a língua de Camões a perguntar aos clientes como se dizia isto ou aquilo

Marta Curto

Miguel deve ser o chinês preferido dos portugueses de Macau. Trabalha na loja mais conhecida de DVDs, aqui mesmo ao lado, em Zhuhai, e fala português. Já conhece os clientes pelo nome e não esquece os gostos de cada um. O José que prefere filmes de acção, a Carolina que procura sempre comédias, ou o António, vidrado em séries americanas. Miguel tem 20 anos e, há dois anos, só sabia que Portugal existia graças a Figo e a Cristiano Ronaldo. "E odiava inglês, também não falava nada".
Miguel não é de Zhuhai, mas de outra cidade de Guangdong. Aproximou-se da fronteira com Macau, há pouco menos de 24 meses, porque um amigo tinha uma loja de DVDs, e o resto é história. "Fui aprendendo português com os clientes. Ia perguntando como se dizia isto ou aquilo, e assim fui conhecendo as palavras".
Se hoje se chama Miguel é porque, um dia, ouviu dois clientes a falarem entre si. Um deles chamava-se Miguel e o outro estava sempre a chamá-lo. "Eu ouvi o nome na loja e gostei muito. Decidi chamar-me assim, que também dá para os clientes australianos que me chamam de Michael". Miguel explica que o seu nome chinês é demasiado complicado, nem vale a pena dizer. Miguel está muito bem.
O seu português não é perfeito, mas perfeitamente genial para quem aprendeu em dois anos e ainda para mais com um método tão pouco metódico. Agora já lhe apanhou o jeito, e o gosto, e comprou um livro sobre 'como aprender português'. Mas a verdade é que o jeito de Miguel para as línguas é inato.
Depois de dois anos a lidar frequentemente com estrangeiros, "sobretudo aos Sábados", Miguel fala hoje português, inglês e "um pouco de coreano e japonês". "Aprendo rápido". Há que explicar que Miguel também diz que fala "pouco pouco" português, o que não é, de todo, verdade. Consegue brincar, meter conversa, entende tudo como alguém que cresceu a ouvir português aqui e ali, o que pode significar que domina igualmente bem o japonês e o coreano. Mas só a língua de Camões lhe enche o coração.
"Porque os portugueses são muito bons! Eles gostam de mim, brincam sempre comigo, chegam cá e perguntam logo por mim. É por isso eu gosto deles", conta, mostrando com orgulho os novos filmes de Joana Vicente, a produtora portuguesa de Macau, que anda a dar cartas por Hollywood. Awake e Redacted são dois filmes da produtora que Miguel vende, fugindo aos direitos de autor. Mas Miguel recorda que Joana, filha do arquitecto Manuel Vicente, não se chateou, até achou piada e acabaram por tirar fotos juntos.
Miguel admite que "já tenho muiiitos amigos portugueses! Dizem que, quando eu for a Macau, posso ficar em casa deles e me levam a provar comida portuguesa. Até já houve um que me ofereceu emprego". Por incrível que possa parecer, Miguel nunca esteve em Macau. Diz que é por causa do visto que nunca teve tempo para tratar, mas a verdade parece ser outra já que, na primeira aproximação do PONTO FINAL, Miguel explicava que viria à RAEM em Setembro, e ontem já adiava a data para 2009. Há cinco anos que tem o sonho de passar a fronteira. Mas há-de acontecer, mais tarde ou mais cedo.
"Eu já vi documentários sobre Macau e pergunto sempre aos clientes como é a cidade. Sei que os prédios são muitos altos e há imensos casinos. Os portugueses é que não gostam muito dos casinos".
Miguel já tem o futuro pensado: primeiro há-de viver em Macau, e consequentemente visitará muitas vezes Hong Kong, onde também nunca esteve. "E depois quero ir para Portugal, quero ver Lisboa e o Porto". É para isso que as línguas lhe hão-de servir. "Quero saber bem português e inglês para poder ir para todo o lado. Quero ser um business man, vou montar um negócio de t-shirts e vendê-las pelo mundo fora". Os modelos ainda não estão no papel, mas a sua cabeça já fez os traços, falta concretizar. Miguel não é ingénuo. Talvez inocente. Boa pessoa. Envergonhado da sua falta de perfeição nas línguas estrangeiras, sem saber, nem sonhar, o génio que tem de ser para aprender tantas línguas em dois anos. "Conhece esse filme? Sabe falar francês? Como se lê o que está aqui escrito?" La Môme. "Ah, eu conheço como La Vie en Rose". E as palavras são ditas quase com sotaque francês. Trata-se do filme recentemente lançado sobre a vida da cantora francesa Edith Piaf.

Edições Anteriores

Arquivo

DIRECTOR Paulo Reis REDACÇÃO Isabel Castro, Rui Cid, João Paulo Meneses (Portugal); COLABORADORES Cristina Lobo; Paulo A. Azevedo; Luciana Leitão; Vítor Rebelo DESIGN Inês de Campos Alves PAGINAÇÃO José Figueiredo; Maria Soares FOTOGRAFIA Carmo Correia; Frank Regourd AGÊNCIA Lusa PUBLICIDADE Karen Leong PROPRIEDADE, ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Praia Grande Edições, Lda IMPRESSÃO Tipografia Welfare, Ltd MORADA Alameda Dr Carlos d'Assumpção 263, edf China Civil Plaza, 7º andar I, Macau TELEFONE 28339566/28338583 FAX 28339563 E-MAIL pontofinalmacau@gmail.com