16.4.08

Padre Cochini apresenta o seu livro sobre templo budistas na China, no Instituto Ricci
Mundo só liga o budismo ao Tibete

Christian Cochini é um padre com 80 anos que dedicou a sua vida ao diálogo inter-religioso entre o cristianismo e o budismo. Admitindo não conhecer o budismo tibetano, explica, no entanto, que de violenta a religião não tem nada

Marta Curto

“O budismo está muito ligado ao Tibete, porque o Dalai Lama ganhou um prémio Nobel. A Europa e a América conhecem mais o Tibete por causa disso. Mas há um sistema budista, o chinês, que é muito maior”.
Christian Cochini é um padre católico que aprendeu chinês em Taiwan em 1961 e escreveu o livro Guia dos Templos Budistas da China, ontem apresentado no fórum mensal organizado pelo Instituto Ricci sobre a China. Cochini andou três anos a visitar 157 templos Han, sistema chinês do budismo, e tudo o que encontrou foi amizade, tranquilidade e alegria. Nunca violência.
“Embora existam três sistemas budistas, o tibetano – que eu não conheci em profundidade –, o Han, também conhecido como o sistema chinês, e o lamaísta, todos os monges e freiras budistas têm uma atitude igual, que é de paz. Aliás, eu acredito que o diálogo inter-religioso é o caminho para a paz no mundo. Nunca escondi que era um padre cristão e sempre me receberam de braços abertos”.
Cochini prefere não continuar a falar sobre o Tibete, já que, adianta, o conhecimento que tem dos factos é igual ao comum dos mortais que acompanha diariamente a situação pelas notícias. Mas a verdade é que a conclusão que facilmente se tira da apresentação do seu livro é que violentos é precisamente o que os budistas não são, em teoria.
O padre cristão explica a uma mão cheia de interessados, entre os quais duas freiras católicas vestidas a preceito, que existem 13 mil templos budistas na China e 200 mil monges e freiras.
Em 1998, comemoraram-se os dois mil anos da entrada do budismo na China e Cochini relata, com prazer nos olhos de 80 anos, as vidas de alguns dos maiores monges da história da China. O Kumarajiva, que viveu entre 342 e 413 e traduziu para chinês as escrituras budistas que estavam em sânscrito, ou o Bodhidharma, do século VI, que passou nove anos a contemplar a parede de uma gruta, ou ainda Hui Neng (638 – 713) que fundou a escola budista Zen.
De todos viu esculturas pelos templos onde andou, sempre sozinho. “Eu não podia andar com uma equipa atrás, com câmaras e alta tecnologia. Então fui sempre sozinho e nunca avisei que ia chegar. No início ficava ansioso por pensar que estava a invadir a privacidade dos monges e das freiras sem ser convidado, mas eles mostraram-se sempre tão simpáticos que eu fui ficando mais descontraído”. Segundo o autor, o que mais o impressionou foi a vida ascética que os budistas levavam, o seu compromisso com a religião e a atitude de abertura e amizade que tinham para com os estrangeiros.
Cochini é padre há 50 anos e, depois de dominar o chinês, o seu superior eclesiástico perguntou-lhe o que queria fazer. Ele respondeu logo que desejava trabalhar na área do diálogo inter-religioso, nomeadamente com monges e freiras budistas. “Sempre disse aos budistas que era cristão, mas acrescentava que nós tínhamos tanta coisa em comum que devíamos conversar”.
A uma pergunta da assistência sobre o que une o cristianismo e o budismo, Cochini sorriu e respondeu que prefere falar nas diferenças. O budismo acredita na reincarnação, em que o ser viveu muitas vidas no passado e viverá muitas mais até chegar ao nirvana. Diz que os seres não têm alma, nem criador, e os budistas dizem-se ateus com orgulho. “Mas nada disto interessa para haver diálogo. Há diferenças sim, mas o que é preciso não é tentarmos converter-nos uns aos outros, mas haver uma conversão do coração. É como a relação entre um homem e uma mulher. Se não gostarem um do outro, só verão os defeitos. É preciso converter os corações dos homens para que exista harmonia no mundo”.
No final, ainda lhe perguntam se não gostaria de estabelecer um diálogo com os muçulmanos. Ele sorri. “Gostava muito, mas seria preciso outra vida”. Esta foi do budismo.

Edições Anteriores

Arquivo

DIRECTOR Paulo Reis REDACÇÃO Isabel Castro, Rui Cid, João Paulo Meneses (Portugal); COLABORADORES Cristina Lobo; Paulo A. Azevedo; Luciana Leitão; Vítor Rebelo DESIGN Inês de Campos Alves PAGINAÇÃO José Figueiredo; Maria Soares FOTOGRAFIA Carmo Correia; Frank Regourd AGÊNCIA Lusa PUBLICIDADE Karen Leong PROPRIEDADE, ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Praia Grande Edições, Lda IMPRESSÃO Tipografia Welfare, Ltd MORADA Alameda Dr Carlos d'Assumpção 263, edf China Civil Plaza, 7º andar I, Macau TELEFONE 28339566/28338583 FAX 28339563 E-MAIL pontofinalmacau@gmail.com