14.4.08

Resultado do crescimento económico em Macau
Emissão de gases de estufa
quase duplicou nos últimos 20 anos

A emissão de gases com efeito de estufa em Macau cresceu 76 por cento nos últimos 20 anos, avança um estudo elaborado em conjunto pelo Civic Exchange, de Hong Kong, e a Associação de Arquitectos de Macau.
O estudo, divulgado este semana, cita dados do Conselho do Ambiente da RAEM, e salienta que quase metade das emissões tem origem na produção de energia eléctrica. Os dados referem-se ao período compreendido entre 1990 e 2004, sendo de crer que a tendência de agravamento se tenha acentuado desde então devido ao acréscimo de consumo de energia que novos hotéis, como o Venetian, têm vindo a potenciar nos últimos meses.
O mesmo estudo, cuja divulgação trouxe até Macau vários dirigentes do Civic Exchange para um seminário realizado na sede da Associação de Arquitectos de Macau, refere ainda que o consumo de energia per capita aumentou em Macau 20 por cento entre 2004 e 2006, o que vem reforçar a ideia de que também a emissão de gases com efeito de estufa tenha sofrido um agravamento mais acentuado nos últimos anos. Em Macau, o sector comercial – onde se incluem hotéis e outras unidades da indústria do turismo – é responsável por 57 por cento do consumo de energia, o sector residencial 28%, o sector público – incluindo a iluminação pública – 9% e o sector industrial apenas 6 por cento.
E quanto a dados relativos ao ambiente em Macau, é tudo ou quase tudo o que o estudo está em condições de divulgar no que se refere ao impacto das alterações climáticas – o mote do seminário deste fim de semana. À falta deles, os autores do relatório socorrem-se dos dados disponíveis em Hong Kong e desenvolvem as similitudes. Concluem assim que vão criar-se nos próximos anos condições propícias para um aumento da intensidade das chuvas e da frequência dos desabamentos de terras, para um aumento das temperaturas médias e dos períodos de seca, para uma subida do nível da água do mar. Os efeitos no território são preocupantes.

Património em risco

O relatório do Civic Exchange e da Associação de Arquitectos nota que o estado de conservação de muitos edifícios em Macau é extremamente precário – e daí que chuvas mais intensas possam provocar o colapso de prédios. Entre estes estarão em risco edifícios patrimoniais, de construção antiga e com estruturas frágeis. Além disso, as chuvas podem facilmente provocar inundações em zonas ribeirinhas e afectar os sistema de esgotos, comunicações e distribuição de água e electricidade.
Os desabamentos de terras podem ter consequências graves em zonas como as colinas da Penha e da Guia, Cotai e Taipa, onde a construção em zonas de declive tende a ser acompanhada pela pavimentação das encostas. O relatório afirma que este é um método a evitar, pois acentua o aquecimento urbano, sendo preferíveis técnicas que lidem com a própria natureza dos terrenos e a vegetação que ali se possa plantar.
A subida das temperaturas médias só pode ser compensada, diz o estudo, com a criação de mais espaços verdes. Quanto aos períodos de seca que se antevêem, é imperioso que se adoptem técnicas de poupança de consumo de água e ao mesmo tempo se invista na reciclagem. O relatório aponta o exemplo a seguir de Hong Kong, onde é cada vez mais frequente a existência de uma canalização separada para as instalações sanitárias, que apenas utiliza água do mar.
Finalmente, o estudo alerta para os efeitos da subida das águas do mar, que a prazo pode pôr em risco zonas como o Cotai – centro nevrálgico do relançamento económico de Macau – e o Porto Interior, bem como vias de comunicação ribeirinhas, instalações portuárias e o próprio aeroporto.
Em termos de recomendações, o estudo apela ao governo da RAEM para que use as enormes disponibilidades financeiras e recursos tecnológicos existentes para transformar Macau numa das cidades mais avançadas em eficiência energética. Para isso deve criar um quadro legislativo que potencie a construção de edifícios inteligentes e estimule um consumo de energia mais racional por parte dos habitantes da RAEM.
“Até os governos (o de Macau mas também o de Hong Kong) reconhecerem as suas responsabilidades, as oportunidades criadas pelas novas tecnologias de poupança de energia continuarão a ser desperdiçadas”, conclui o estudo.

CAIXA
Christine Loh, do Civic Exchange
“Somos contra a ponte HK-Macau”

A anunciada mega-ponte do delta do Rio das Pérolas levanta vários problemas de impacto ambiental. Mas, pior do que isso, diz a directora executiva do Civic Exchange, está por provar a sua sustentabilidade. Por isso, “somos contra a ponte Hong Kong-Macau”, afirma Christine Loh.
Para além de um número eventualmente incomportável de veículos que poderá trazer até Macau, é a própria lógica de transformação da zona oeste do delta do Rio das Pérolas em “quintal das traseiras” da economia de Hong Kong que está em causa. Como refere Bill Barron, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong e também dirigente do Civic Exchange, a instalação de indústrias na margem do ocidental do delta está a tornar a poluição atmosférica num problema de tal forma grave que é a partir de agora aconselhável que só sejam autorizadas novas fábricas para lá de uma cordilheira montanhosa existente 75 kms a oeste de Macau, para que parte da poluição possa ser encaminhada na direcção do oceano.
Os dirigentes do Civic Exchange, grupo de reflexão que tem vindo a dar prioridade ao estudo das questões ambientais, censuram o governo de Hong Kong por não divulgar suficiente informação sobre o impacto da ponte, quase se limitando a responder às preocupações existentes sobre o futuro do habitat de golfinhos brancos existente na zona da ilha de Lantau. “Se há alguma estudo sério de impacto ambiental, ninguém o viu”, acusam os dirigentes do grupo.

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