250 mil pessoas nas ruas de Macau para ver passar a Tocha
Nacionalismo Olímpico
Os números falam por si. O equivalente a quase metade da população residente de Macau saiu às ruas ontem à tarde para ver passar a Tocha Olímpica. Os ‘temidos’ protestos não se materializaram e a Tocha passou incólume pela RAEM. Mas o número não previsto de pessoas acabou por forçar ao cancelamento da ‘etapa’ do Largo do Senado
Alfredo Vaz
Nacionalismo Olímpico
Os números falam por si. O equivalente a quase metade da população residente de Macau saiu às ruas ontem à tarde para ver passar a Tocha Olímpica. Os ‘temidos’ protestos não se materializaram e a Tocha passou incólume pela RAEM. Mas o número não previsto de pessoas acabou por forçar ao cancelamento da ‘etapa’ do Largo do Senado
Alfredo Vaz
Nunca tanta gente tinha estado – ao mesmo tempo, por uma mesma causa – nas ruas de Macau. Nem as cerimónias da transferência de Administração, em Dezembro de 1999, conseguiram mobilizar tamanha multidão. Nem de perto, nem de longe.
Alguém, que aguardava para ver passar a chama junto ao Centro Cultural de bandeira chinesa enrolada sobre os ombros, dizia que para ele e para os amigos esta era uma boa oportunidade para desfraldar o sentimento patriótico: “Desde o ‘handover’ que a bandeira estava guardada numa gaveta em casa a acumular pó.”
Apesar da afluência de populares às ruas de Macau – não há até este momento conhecimento público do registo oficial do número de visitantes que entraram em Macau este fim-de-semana - a passagem da tocha decorreu sem quaisquer problemas ao longo do percurso vigiado por 2.300 polícias, mas incapazes de controlar a mole humana que se concentrou nas ruas por onde passou a caravana.
Além de milhares de bandeiras da China e de Macau, também foi possível "descobrir" ao longo do percurso algumas bandeiras de Portugal, Angola, Brasil ou mesmo de Timor-Leste, colocadas junto à estrada pelas comunidades daqueles países residentes no território.
A RAEM, cidade pote de culturas e nacionalidades, assistiu a uma festa global, mas com o orgulho chinês marcadamente vincado e ‘estilizado’ em muitas caras pintadas com a bandeira chinesa ou nas t-shirts que ostentavam a frase "I love China”.
O cortejo terminou com um espectáculo de fogo-de-artifício ao início da noite no mesmo local de onde tinha partido, a Doca dos Pescadores.
“(Tocha) foi como ganhar uma medalha Olímpica”
Entre políticos, desportistas, empresários, advogados ou estudantes, o atleta de wushu Leong Hong Man foi o primeiro portador da tocha, no Largo do Rossio, na Doca dos Pescadores. O atleta disse ter sentido uma enorme honra :”Senti-me tão excitado que para mim foi como se tivesse ganho uma medalha nos Jogos Olímpicos.” Leong disse estar desapontado por Macau não poder participar nas Olimpíadas de Pequim (o território não é membro de pleno direito do Comité Olímpico Internacional), mas assumiu querer ter um papel activo na formação de futuros atletas: “Transfiro o meu sonho para as gerações vindouras. Vou trabalhar com as futuras gerações de atletas de Macau, eles estarão, um dia, nos Jogos Olímpicos (a representar a região).”
A passagem da tocha olímpica em Macau ficará na história do território, "local de encontro da cultura chinesa e da ocidental", disse ontem o Chefe do Executivo, Edmund Ho.
Num discurso em chinês com tradução para inglês na Praça do Rossio, Edmund Ho afirmou que a tocha "carrega uma missão histórica e os sonhos dos povos de todo o mundo".
O líder do Governo salientou que a tocha olímpica está agora numa cidade que é o "local de encontro da cultura chinesa e da ocidental", a última paragem antes da entrada no continente chinês. "Depois de Macau (a tocha) vai para o interior da pátria para divulgar o espírito olímpico e mostrar ao mundo os resultados da abertura e do progresso da China", sublinhou. Salientando que a passagem da tocha em Macau "é uma honra" que ficará na história da Região Administrativa Especial chinesa, Ho agradeceu ao Governo Central da China, ao Comité Olímpico Internacional e ao Comité Olímpico chinês terem proporcionado à cidade a passagem do símbolo olímpico na sua "viagem da harmonia". Edmund Ho disse ainda esperar que o "povo chinês e os povos do mundo se empenhem no espírito olímpico, que os atletas e povos do mundo possam aproveitar e apreciar, em conjunto, este grande evento desportivo cultural caracterizado pelo conhecimento mútuo e intercâmbio harmonioso, e que os Jogos Olímpicos de Pequim obtenham grande sucesso".
Entretanto, ontem à noite, o Governo da RAEM e o Comité Olímpico de Macau (COM) agradeceram o apoio do público e das pessoas envolvidas no Transporte da Tocha Olímpica, etapa de Macau, para o grande êxito do evento. Agradecimentos extensivos à compreensão e cooperação dos cidadãos de Macau pelas alterações no circuito da Chama Olímpica devido e às condições registadas na ocasião.
CAIXA
Milhares no Senado sem verem a Tocha passar
Milhares no Senado sem verem a Tocha passar
“Quanto maior a estrutura, o momento, a ocasião, maiores as probabilidades de algo não programado acontecer”. Foi desta forma que uma pessoa ligada à organização da passagem da Tocha Olímpica por Macau, e que pediu para não ser citado, ‘justificou’ o balde de água fria ‘despejado’ sobre milhares de pessoas que aguardavam para ver a chama passar na zona do Senado e ruas e ruelas circundantes.
Razões de segurança, motivadas pelo número inesperado de milhares de pessoas concentradas no espaço exíguo da baixa antiga da cidade, forçaram a organização a cancelar a passagem pela zona do Senado. A grande maioria das pessoas, de origem chinesa, soube da notícia pela rádio e foram passando a palavra. Agentes da policia surgiram minutos mais tarde fazendo o anúncio por megafone. Algumas dezenas de outras pessoas, entre elas alguns turistas, e de comunidades expatriadas radicadas em Macau, foram também apanhadas de surpresa e ficaram sem saber o que se tinha passado até mais tarde. Entre estes estava o repórter Rui Cid, destacado pelo PONTO FINAL para fazer a cobertura da passagem da Tocha pelo Largo do Senado. Aqui fica o seu testemunho, na primeira pessoa:
“Expectativa ,ansiedade, desilusão e desmobilização. Milhares de pessoas estavam concentradas no Largo do Senado. Muitas bandeiras chinesas, varandas com fotógrafos de ocasião. Está tudo preparado para a passagem da tocha olímpica por um dos locais mais emblemáticos de Macau. Alguém acompanha o percurso pela televisão, o hotel Lisboa ficara para trás, é, agora, uma questão de tempo. Um barulho ao longe, olhos no céu, helicóptero avistado. O burburinho é inevitável. Ensaiam-se cânticos. a expectativa cresce. os fotógrafos ‘afinam’ as objectivas, os populares, de telemóvel em riste, preparam o instantâneo para a eternidade. Afinal, esta é uma oportunidade única de ver, quase tocar, a tocha olímpica. Os minutos passam, os olhos perdem-se no horizonte. não há sinal de batedores, da chama muito menos. A ansiedade cresce. Mais uns minutos e a notícia chega, mas ninguém percebe muito bem como nem porquê. O grosso da multidão começa a dispersar. No rosto dos que ficam, a desilusão é notória. Mas, num minuto, a desilusão desaparece. Não há quem fique parado, e no Largo do Senado a vida continua. Não fossem os grupos organizados pelos patrocinadores da (não) ‘passagem’, ninguém suspeitaria que, uns minutos antes, estava ali uma multidão à espera da tocha que não chegou.”
Os atrasos motivados por estas alterações de última hora e pela obrigatoriedade em avançar a ritmo mais acelerado pela presença de milhares de pessoas nas ruas levaram ao cancelamento da passagem a Tocha baixa pela maioria dos pontos da Taipa: Aeroporto, Universidade de Ciência e Tecnologia, COTAI e Estádio Olímpico. Ou seja, a Tocha entrou na Taipa pela Ponte Nobre de Carvalho, fez a marginal fronteira a Macau, e entrou de imediato na Ponte Sai Wan para regressar à cidade.
Uma grande desilusão para outros tantos milhares de pessoas que vieram da China continental, expressamente para ver a chama Olímpica em Macau, e que pernoitaram em Gongbei, nas imediações do posto fronteiriço com Macau.
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‘Escaramuças’ em Hong Kong entre manifestantes pró-Pequim e activistas dos direitos humanos
Polícia evitou males maiores
Polícia evitou males maiores
Em Hong Kong, dezenas de milhar de pessoas saudaram na sexta-feira em algumas das principais ruas da cidade a passagem da Tocha Olímpica, na primeira etapa em solo chinês. A marcha ficou no entanto marcada por algumas ‘provocações’ e trocas de insultos entre os apoiantes das olimpíadas de Pequim e activistas dos direitos humanos que só tiveram consequências mais graves devido à pronta intervenção das autoridades policiais. Logo no início do percurso, em Kowloon, alguns agentes policiais – de um contingente de três mil destacados para esta operação – tiveram que intervir para separar algumas centenas de apoiantes dos jogos (vestidos de vermelho, a cor predominante da bandeira nacional da China) e activistas pró Tibete (trajados de laranja, o resultado da mistura do vermelho com o amarelo, a cor da esperança, segundo os activistas). Horas mais tarde, já no centro de Hong Kong, no distrito de Wan Chai, um único activista desfraldou uma bandeira amarela com a inscrição “Fa Lun Gong (a seita exotérica pacifista chinesa proibida na própria China), Tibete, Coreia do Norte, Darfur...a China patrocina homicídio internacional”, tendo sido prontamente cercado por centenas de pessoas que pretendiam fazer ali mesmo um ‘ajuste de contas’ (momento em que a foto faz referência). A pronta intervenção policial evitou um ‘mal-maior’, ainda que algumas garrafas tenham sido arremessadas. Ao todo a polícia fez 20 detenções, mas libertou os detidos algumas horas mais tarde.
AV
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Tocha recebida com patriotismo em Hainão
Tocha recebida com patriotismo em Hainão
Para alívio do governo chinês, a tocha olímpica dos Jogos de 2008 finalmente chegou à China continental. A chama passou neste domingo pela pelas ruas de Sanya, na província tropical de Hainão, no sul do país, e foi recebida por um público disposto a mostrar seu patriotismo e o apoio às Olimpíadas de Pequim.
A primeira campeã olímpica chinesa em Jogos de Inverno (nos de Salt Lake City em 2002), a patinadora de velocidade Yang Yang, abriu o percurso em Sanya, sede do concurso de Miss Mundo.
A cerimónia também contou com a participação de outras estrelas do país, como Yi Jianlian, ala do Milwaukee Bucks, e o actor Jackie Chan. A actual Miss Mundo, a chinesa Zhang Zilin, foi outra a conduzir a chama. No total, foral 208 portadores ao longo de 30km de percurso.
Sob forte medidas de segurança, milhares de chineses aclamaram a tocha olímpica com os gritos de "Vamos China" e bandeiras do país. O trajecto por Sanya foi cuidadosamente escolhido para mostrar o que o percurso da Tocha representa para Pequim, "uma viagem de harmonia".
Nos próximos dois dias, a tocha passará por duas outras cidades de Hainão: Wuzhishan e Haikou. O símbolo dos Jogos viajará por mais de uma centena de localidades chinesas até o início da competição, no dia 8 de Agosto.