Inauguração oficial do Museu do Oriente, em Lisboa, já na próxima quinta-feira, dia 8
Sem Macau e China, mas com Cavaco
Cavaco fará as pazes com a Fundação Oriente, mas Edmund faltará à inauguração de um dos maiores espaços de cultura chinesa no Oriente. Construído «a partir» de Macau
João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com
Sem Macau e China, mas com Cavaco
Cavaco fará as pazes com a Fundação Oriente, mas Edmund faltará à inauguração de um dos maiores espaços de cultura chinesa no Oriente. Construído «a partir» de Macau
João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com
A ausência de um representante do governo de Macau na inauguração do Museu do Oriente, que esta quinta-feira acontece em Lisboa, será uma das notas mais dominantes, para além da dimensão da obra e qualidade do espólio.
A três dias da inauguração, quando o PONTO FINAL coligiu os dados e redigiu este texto, não estava previsto que viajasse de Macau qualquer representante oficial.
A presença de Edmund Ho ou de um seu representante ao mais alto nível seriam sinónimo de uma pacificação entre Fundação Oriente e Macau, que pelos vistos ainda está longe de acontecer.
A Fundação nasceu exclusivamente com dinheiros de Macau, mas além de ter a sua sede em Lisboa – como sempre esteve previsto – tem reduzido as verbas que coloca no Oriente (e só contabilizando os subsídios atribuídos).
Relativamente à China, desconhece-se ainda se estará apenas o Embaixador em Lisboa ou se virá um representante com mais credenciais. Ainda assim, numa entrevista publicada sexta-feira passada no jornal «Semanário Económico», Monjardino queixava-se de falta de apoio (genérico e não em concreto do Estado) da China, uma vez que, disse, «não vai haver na Europa nenhum edifício com um conteúdo que tenha tanto a ver com a China e Macau, como o Museu do Oriente. Pode mesmo ser considerado uma embaixada cultural da China na Europa».
Na mesma entrevista Monjardino também referiu que nenhuma empresa ligada a Stanley Ho é mecenas do novo Museu, mas essa será de certeza uma situação a corrigir em breve (até porque o empresário terá dito que estaria disponível para ajudar).
Cavaco, um adversário histórico
Uma coisa parece certa a três dias da inauguração: a inauguração daquele que poderá ser um dos principais museus de cultura (sobretudo popular) e história chinesas no Ocidente não será o momento de aproximação que Monjardino poderia desejar. Como o PONTO FINAL notou em artigo publicado há seis meses, Edmund Ho não só foi fundador e curador da Fundação como, pelo menos publicamente, nunca se distanciou dela.
Ao contrário, Cavaco Silva foi um dos principais adversários históricos da Fundação. Enquanto primeiro-ministro, opôs-se – tanto quanto é público – ao modelo de gestão e à própria escolha do antigo secretário-adjunto para seu presidente do Conselho de Administração.
No final da década de 80 do século passado, Cavaco era líder do PSD e primeiro-ministro, estando Mário Soares na presidência da República. Tiveram muitas divergências, uma das mais conhecidas envolvendo a criação da Fundação Oriente.
Agora é Cavaco o Presidente e – tanto quanto pudemos apurar – estará na inauguração, além do primeiro-ministro Sócrates (e Mário Soares, provavelmente).
Depois da deslocação entusiástica à Madeira, Cavaco dá novo sinal de reconciliação com o passado, aguardando-se com curiosidade o que irá dizer.
«Repensar a Fundação»
A inauguração do Museu do Oriente não é a inauguração de um museu qualquer. Quem, a partir do dia 9 de Maio, o visitar ficará certamente impressionado pela dimensão do projecto, aproveitando as potencialidades do edifício comprado ao Estado português e que foi em tempos um armazém de bacalhau, mesmo no centro de Lisboa.
Monjardino tem vindo a explicar que não era este o Museu que a Fundação Oriente queria fazer, pelo menos quando há quase duas décadas pensou num terreno na Praça de Espanha para ali edificar a obra.
Embora não se conheçam, ainda, os valores finais, sabe-se que os custos de construção (incluindo a compra do edifício) poderão chegar aos 30 milhões de euros (subsidiados principalmente por empréstimos bancários), a que se deve juntar os custos de operação – serão cerca de 40 os funcionários).
Num artigo publicado recentemente neste jornal, com o título (metafórico) de «Morreu a Fundação Oriente, viva o Museu do Oriente», pretendíamos explicar que a Fundação, tal como a conhecemos em 20 anos, deixará de existir e que a esmagadora maioria das suas atenções se concentrarão no Museu.
O artigo em causa foi mal recebido na Rua do Salitre, em Lisboa, mas na sexta-feira, na já citada entrevista, Monjardino dizia que «A Fundação tem, de alguma maneira, de ser repensada. Grande parte da actividade vai passar por ali e, portanto, vamos ter de ingerir e digerir. Vamos ter de ser mais espartanos, sobretudo nos primeiros dois ou três anos».
Além das receitas que o Museu gerar, e que nunca serão suficientes para pagar os três a quatro milhões de euros anuais de despesas de manutenção, a Fundação conta com alguns mecenas, grandes e pequenos, que irão financiar a actividade do Museu (o Banco Espírito Santos ou a Central de Cervejas são alguns dos primeiros nomes).
Uma grande festa
de 9 a 11 de Maio
de 9 a 11 de Maio
A inauguração formal do Museu decorre ao fim da tarde de quinta-feira, dia 8. Foi num dia 8, mas de Março, de 1988, que a Fundação foi criada e essa era a data prevista para a abertura, mas foi necessário mais um último adiamento – um dos muitos que marcaram a projecção e edificação deste Museu.
Se a inauguração é apenas para quem tem convite – a imprensa de Macau, tanto quanto se sabe, não foi convidada –, a partir do dia 9 as portas estarão abertas durante três dias a todos os interessados para uma visita (com excepção do concerto de Mário Laginha). A Fundação promete uma «Festa do Oriente», com, entre outras iniciativas, «a tradução de nomes para chinês, as leituras do zodíaco chinês, a consulta a um adivinho de Macau, o ensino da arte de recorte de papel, a pintura de mãos ao gosto hindu, a feitura de máscaras, o ritual do chá, como se faz na China ou no Japão e até aulas de tai ji quan». Pelo que já foi divulgado, o Museu terá actividade cultural regular, para além das exposições permanentes (a colecção Kwok On ocupará o segundo piso, por exemplo) e temporárias.
CAIXA
Um novo site
Um novo site
A Fundação Oriente faz coincidir a abertura do seu Museu com uma nova página, que mantém o mesmo endereço (www.foriente.pt).
O novo site dá destaque às iniciativas previstas para o Museu, embora (ainda?) não haja um endereço próprio (que permitiria incluir novos conteúdos sobre o espaço, as exposições, o espólio, etc).
Outras novidades são uma página com 20 acontecimentos relevantes em 20 anos da Fundação (e respectivas imagens) e a disponibilização online do relatório e contas, neste caso relativo a 2006 (a FO é uma das poucas fundações que seguem uma política de transparência face às suas contas, permitindo o seu escrutínio público).
De resto, além da nova apresentação, o novo site segue os conteúdos da página que existiu durante vários anos (e que raramente era actualizada).
Tal como a versão anterior, a nova não inclui informação em chinês, apenas em português e inglês.
JPM