Alunos do IFT revisitam histórias e tradições do passado
"Que a herança cultural não se perca no tempo"
A brincar também se aprende. O assunto era sério, mas a boa disposição imperou, ontem de manhã, no Instituto de Formação Turística. Alunos do segundo do curso de Gestão do Património subiram, literalmente, ao palco para reviver histórias e relembrar tradições do passado. Para que as novas gerações não esqueçam a herança cultural do território
Rui Cid
"Que a herança cultural não se perca no tempo"
A brincar também se aprende. O assunto era sério, mas a boa disposição imperou, ontem de manhã, no Instituto de Formação Turística. Alunos do segundo do curso de Gestão do Património subiram, literalmente, ao palco para reviver histórias e relembrar tradições do passado. Para que as novas gerações não esqueçam a herança cultural do território
Rui Cid
Ainda não são 10 da manhã e já se acumulam algumas camionetas na rampa de Mong Há. Dezenas de crianças de várias escolas do território aguardam para sair. À voz de comando dos alunos do Instituto de Formação Turística (IFT) abrem-se as portas, e ,de uma forma surpreendentemente ordenada, a pequenada ocupa os seus lugares. O auditório do edifício Inspiração, com capacidade para 160 pessoas, está praticamente lotado.
Foram oito visitas ao passado. Oito pequenas histórias, onde de forma bem disposta, os alunos do segundo ano de Gestão do Património trouxeram para os dias de hoje, memórias e tradições de tempos antigos, algumas entretanto desaparecidas, outras em vias de extinção.
Na plateia, às primeiras frases, os sorrisos abrem-se, transformando-se, poucos segundos depois, em sonoras gargalhadas: a pequenada está conquistada. Mais conquistada se mostra à medida que as viagens no tempo se sucedem. Neste vai e vem temporal, os pequenos alunos ficam a saber mais sobre Lou Kau, o mandarim de Macau, e que um dia a vila de Ka Ho, em Coloane, escapou a um ataque de piratas porque estes, ao verem umas bandeiras junto à costa, pensaram que eram soldados, ou ainda que até 1960 a indústria do fósforo desempenhou um papel importante no território e que nos casamentos entre portugueses e chineses era costume celebrarem-se duas cerimónias, uma católica, outra de acordo com a tradição chinesa.
A escolha desta forma teatral de comunicar foi propositada, como explicaram ao PONTO FINAL alguns dos protagonistas: "O objectivo era mostrar às crianças a importância que a tradição e a cultura têm nas sociedades, que são heranças dos nossos pais e avós, que fizeram parte do dia a dia das pessoas, e achámos que se o fizéssemos de uma forma divertida, as crianças encaixariam melhor. Esperamos que elas, no futuro, não deixem que estas tradições se percam no tempo, e que saibam transmitir esta mensagem às próximas gerações."
Mais do que apenas recordar a herança cultural do território, os alunos do IFT usaram a ironia para explicar porque o desaparecimento de algumas tradições, como, por exemplo, no caso dos casamentos, onde a grande maioria dos casais adoptou a cerimonia ocidental, por esta ser "mais fashion", ou o caso da vila de Ka Ho, que os alunos do IFT dizem ter sido votada ao abando pelos governos do território e onde a construção de fábricas levou a que hoje de uma população que chegou a ser de duzentas pessoas seja hoje de cerca de cinquenta, que mesmo assim não vivem a tempo inteiro na vila. Ironia usada, também, para criticar a construção "desenfreada" de casinos no território, não deixando de reconhecer também que o algumas da mudanças trouxeram mais comodidade e progresso à sociedade da RAEM.
Prometida, para o ano, ficou outra acção deste tipo. Para que histórias e tradições de outros tempos não caiam no esquecimento e continuem a ser a herança cultural de Macau.