Encontrar abrigo para quem perdeu casas na tragédia é agora o maior desafio
Cinco milhões desalojados pelo sismo
Cinco milhões desalojados pelo sismo
A China cumpriu ontem o terceiro e último dia de luto nacional, com o maior desafio depois do sismo que, segundo as autoridades, consiste em alojar os cinco milhões de pessoas que perderam as suas casas na tragédia.
Mais de uma semana após o desastre, o plano das operações na zona devastada pelo pior sismo em três décadas mudou a prioridade, passando de um estado de emergência para um cenário de recuperação.
Segundo os relatos da imprensa estatal chinesa, milhares de pessoas vivem em cidades-tenda como a que se encontra perto da montanha de Qianfo na zona do desastre, e que providencia abrigo, alimento e tratamento médico às vítimas do sismo de Sichuan que sobreviveram.
"Depois do sismo, não conseguimos dormir durante cinco dias. Tínhamos medo, muito medo", afirmou Chen Shigui ao jornal China Daily, um agricultor de 55 anos que caminhou pela montanha durante dois dias com a mulher e o pai para chegarem ao campo da sua vila.
"Senti-me aliviado quando chegámos aqui, que é bem mais seguro que a minha casa", acrescentou.
Agravando o problema de alojamento e enquanto as réplicas continuam a suceder-se, o Gabinete Meteorológico de Sichuan previu chuva durante o dia de hoje em várias zonas da província, incluindo em Wenchuan perto do epicentro do terramoto.
O governo já fez um apelo dando conta da urgência de tendas e equipas estrangeiras de especialistas como médicos e enfermeiros encontram-se a trabalhar no terreno, em colaboração e por turnos, com as equipas especializadas em busca e salvamento, entre as quais há equipas russas, alemãs e japonesas.
O último balanço oficial confirmou que o sismo de dia 12 provocou a morte a mais de 40 mil pessoas, admitindo que este número pode subir porque ainda há cerca de 32 mil pessoas desaparecidas.
Segundo a agência Xinhua, o Conselho de Estado informou ontem que 80 por cento dos corpos encontrados em Sichuan já foram sepultados ou cremados.
A ameaça de surtos de doenças
Depois da tragédia, além de apoiar os sobreviventes tornou-se urgente tratar dos corpos das vítimas para evitar qualquer surto de doença na zona atingida onde milhares de desalojados vivem em campos de tendas e se debatem com o acesso restrito a água potável.
De acordo com as autoridades, os cadáveres foram fotografados, registados pela polícia e os médicos colheram amostras humanas para a realização de testes de DNA, para elaborar uma base de dados com vista à posterior identificação dos cadáveres de desconhecidos.
Nove dias após o sismo, a actividade das equipas de socorro vai diminuindo perante a esperança quase nula de encontrar ainda sobreviventes entre os escombros.
Segundo a Xinhua, o último salvamento aconteceu na terça-feira à tarde quando uma mulher de 60 anos foi resgatada com vida de entre os destroços de um templo em Pengzhou mais de oito dias depois do terramoto.
Jiang afirmou que cinco milhões de pessoas estão desalojadas e que o governo está a providenciar alojamento temporário para as vítimas que não conseguem encontrar abrigo junto de familiares.
Segundo a responsável, cerca de 280 mil tendas foram enviadas para a província e outras 700 mil foram encomendadas, com as fábricas a acelerarem a produção para responderem a esta necessidade.
O governo de Sichuan estimou que são precisas 3 milhões de tendas.
No campo de Qianfo em Anxian, 100 quilómetros a norte de Chengdu, capital provincial de Sichuan, centenas de grandes tendas azuis povoam os campos de arroz e cevada e são a casa temporária de aproximadamente 4.600 pessoas.
Cerca de 90 por cento destes desalojados são das montanhas que rodeiam a aldeia de Chaping, cujas estradas permanecem cortadas.
"Todos estes refugiados perderam as suas casas, as suas roupas e bens estão enterrados", referiu o director do campo Yang Jianxin, citado pelo China Daily, acrescentando que "estamos a fazer o que podemos para ajudá-los".
No campo há uma clínica, distribuição diária de comida (três garrafas de água, um pacote de massa, pão e umas bolachas), instalações sanitárias, recolha de lixo e há planos para uma escola temporária.
A clínica funciona das 06:00 às 23:00, orientada por voluntários da Cruz Vermelha que atendem cerca de mil pessoas por dia.
No campo, altifalantes relembram regularmente as regras de higiene e apelam à verificação da saúde de cada pessoa como formas de precaver surtos de doenças.
"O maior problema é a densidade populacional dos campos. Se surge uma infecção pode espalhar-se muito rapidamente", referiu o responsável.
Segundo Yang, mais pessoas deverão aparecer no campo nos próximos dias, uma vez que 500 pessoas de Chaping estão mortas ou desaparecidas enquanto cerca de 1800 sobreviventes estão a viver nas montanhas.