20.5.08

Três minutos de silêncio em memória das vítimas de sismo na China
E os casinos pararam

Vários casinos de Macau suspenderam ontem as apostas durante três minutos enquanto durava o período de silêncio integrado nos três dias de luto nacional decretado pelo Conselho de Estado em memória das vítimas do sismo da semana passada.
Apesar de alguns dos casinos terem parado as suas operações durante o período de silêncio, as operações continuaram imediatamente, contrariamente ao que acontece no continente chinês onde as empresas de entretenimento estarão encerradas durante os três dias do luto nacional.
Em declarações à agência France Presse, Anita Ao, porta-voz da Galaxy, um dos operadores de jogo em Macau, explicou que "foi a primeira vez que as operações em mesas de jogo pararam desde a abertura dos espaços de jogo em Macau".
"Temos acompanhado a situação em Sichuan e obviamente que estamos sensibilizados com o que se está a passar naquela província" chinesa, acrescentou a mesma responsável.
Também o The Venetian, o maior casino do mundo, propriedade da norte-americana Las Vegas Sands, apelou aos seus jogadores para suspenderem as apostas durante três minutos quando eram 14:28 em Macau, a hora do sismo de Sichuan que atingiu os 7,9 na escla de Richter.
Outros casinos também pararam as suas actividades.
A população de Macau respondeu ontem ao apelo do Governo para três minutos de silêncio, com o toque das buzinas de carros e motos bem como com a paragem nos serviços governamentais e algumas empresas.
Enquanto na rua, tal como tinha sido solicitado pelo Executivo, as buzinas de automóveis, motos e autocarros não se calaram durante os cerca de três minutos do silêncio oficial, no mar também os navios tocaram as suas sirenes em homenagem às vítimas do sismo.
Com as bandeiras a meia-haste devido ao luto de três dias que ontem teve início, Macau aderiu à homenagem às vítimas, sendo visível nas ruas muitos transeuntes parados, a mesma atitude de muitos táxis que, vazios, pararam junto às bermas para cumprir o apelo do Executivo.
O Chefe do Executivo, Edmund Ho, juntamente com os principais responsáveis do governo e das direcções dos serviços públicos da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), guardaram ontem os três minutos de silêncio na sede do governo.
Edmund Ho sublinhou que muitos funcionários do governo já deram os seus donativos para as vítimas da tragédia e fez votos de que todos os sectores da sociedade de Macau continuem a demonstrar solidariedade e generosidade nos contributos para que as pessoas afectadas possam ultrapassar as dificuldades e começar a reconstrução.
O Chefe do Executivo solicitou que todos os serviços e entidades governamentais respeitem os três dias de luto nacional em memória às vítimas de terramoto, decretados pelo Conselho de Estado, e que sejam suspensas, neste período, todas as actividades públicas de entretenimento e outras, de carácter comemorativo.
Durante este período, foram cancelados ainda todos os espectáculos do XIX Festival de Artes de Artes, nomeadamente os do grupo mexicano Sensorama (Experiências Multiperceptuais: Os Quatro Elementos - Cantos Nativos), previstos para dia 20 e 21 de Maio, na Casa de Lou Kau.
Os membros do público que estiverem na posse de bilhetes para estes espectáculos poderão dirigir-se à Rede Kong Seng para procederem ao reembolso ou à troca dos mesmos para outra data. O espectáculo será retomado no dia 22 de Maio.


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Homenagens às vítimas do terramoto prestadas em todo o país
China em silêncio

A China desceu ontem as bandeiras a meia haste, suspendeu o percurso da chama olímpica e interrompeu as actividades culturais e de entretenimento, marcando o início de três dias de luto nacional devido ao pior sismo em 30 anos.
A televisão estatal chinesa transmitiu imagens solenes dos soldados chineses a içaram a bandeira nacional durante a madrugada na Praça de Tiananmen, centro político-simbólico em Pequim, baixando-a em seguida a meia haste em memória dos mortos do sismo que se sentiu em todo o país na segunda-feira, dia 12 de Maio.
Esta cena foi repetida um pouco por todo a China declarando o início do luto nacional de três dias que também colocou ontem o país em silêncio durante três minutos à hora exacta em que o sismo atingiu a província de Sichuan com um abalo de magnitude 8 na escala de Richter.
"Às 14:28 de hoje hora local, os cidadãos chineses em todo o país vão fazer três minutos de silêncio para chorar as vítimas do sismo, enquanto as sirenes anti-aéreas e as buzinas dos carros, dos comboios e dos navios, vão ecoar numa manifestação de pena", informou a agência noticiosa Xinhua.
A viagem da chama olímpica que está a percorrer a China também foi cancelada durante três dias, "em honra da memória dos que perderam a vida no terrível sismo", afirmou no Domingo a organização dos Jogos.
Segundo a Xinhua, todas as bandeiras nacionais chinesas vão estar a meia haste no território nacional e em todas as missões diplomáticas chinesas no estrangeiro até quarta-feira.
A tragédia desencadeou uma onda de comoção e de solidariedade, com milhares de pessoas a oferecerem-se como voluntários para ajudar, a doar dinheiro e bens de auxílio e a enviarem condolências pela internet ou a disponibilizarem-se para tomar conta dos órfãos.
De acordo com o serviço noticioso oficial China News Service esta mobilização e luto são uma manifestação sem precedentes no país mais populoso do mundo.
"Perante o balanço elevado de mortes, a sociedade chinesa pediu um período de luto", referiu o serviço informativo, acrescentando que "a decisão do Conselho de Estado reflecte a vontade do povo e as práticas internacionais".
O Ministério da Cultura chinês ordenou que todos os locais culturais e de entretenimento suspendessem actividade para manterem a solenidade, respeitando os três dias de luto nacional.
"As equipas de supervisão das leis de actividade cultural devem confirmar a implementação da ordem em todos os locais culturais e de entretenimento na sua região", afirmou o ministério numa directiva publicada na sua página de internet.
Autoridades em Xangai afirmaram que todos os cinemas, salas de espectáculos, discotecas, bares de karaoke, salas de jogos on-line, recintos desportivos e locais semelhantes vão estar encerrados, segundo um comunicado do governo.
A bolsa de Xangai, bem como a de Shenzhen, afirmaram que iam suspender as transacções durante os três minutos de silêncio.
Em Pequim, o novo Centro Nacional para as Artes vai interromper os espectáculos durante três dias, referiu o jornal Beijing Times, bem como os parques de diversões e os estabelecimentos em locais de vida nocturna.
A televisão local de Pequim tem planos para alterar a programação e transmitir apenas a cobertura relacionada com o sismo, disse a estação televisiva.
A maioria dos jornais nacionais publicou ontem uma primeira página sem cores, só a preto e branco, como o jornal Beijing Times, que abre com a imagem de uma vela e destaca o número 32.476 - as mortes provocadas pelo sismo.
De acordo com o balanço provisório oficial, o sismo provocou cerca de 32.500 vítimas mortais no Domingo, mas o governo reiterou que este número pode alcançar os 50 mil mortos, tal como já tinha anunciado.
Contra todas as expectativas, as equipas de socorro salvaram no domingo mais dois sobreviventes que estiveram soterrados mais de 148 horas.
Mas segundo os especialistas, a probabilidade de encontrar mais pessoas com vida diminui a cada momento, porque as hipóteses de resistir entre os escombros mais de três dias depois do sismo é muito reduzida.
A chuva forte que foi anunciada para o fim-de-semana passado na zona do desastre dificultou os trabalhos de resgate e colocou em risco os 4,8 milhões de pessoas que ficaram sem casa.
A Organização Mundial de Saúde alertou as autoridades que é necessário estar a postos para enviar equipas de saúde ao mínimo sinal de surto de doença.
Shi Yingkang, director do maior hospital em Chengdu, capital provincial de Sichuan, afirmou à imprensa que há falta de psicólogos na zona do sismo para ajudarem as populações atingidas a lidarem com o trauma psicológico provocado pela tragédia.
"Agora alguns pacientes têm problemas mentais", afirmou Shi à imprensa, explicando que "algumas vítimas querem cometer suicídio porque perderam familiares".
Com a reabertura de estradas durante o fim-de-semana, só então algumas famílias começaram a ter notícias dos seus familiares.
Mais de 113 mil soldados e efectivos da polícia de intervenção foram mobilizados para a zona do sismo para trabalharem nas buscas e salvamento de sobreviventes e dar assistência aos feridos, afirmou o governo no Domingo.
As autoridades estimam que cerca de 9.500 pessoas ainda se encontram presas entre os escombros e aproximadamente 4,8 milhões ficaram sem casa devido ao terramoto, que devastou cidades inteiras na província de Sichuan, a mais atingida, onde poucas pessoas sobreviveram.


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Gestão da crise por parte de Pequim merece elogios na imprensa ocidental
Tragédia reduz críticas
ao governo chinês


A poucos meses dos Jogos Olímpicos de Pequim, o terramoto devastador no sudoeste da China pôde, pelo menos temporariamente, calar as críticas ao governo pela situação no Tibete e reduzir a polémica envolvendo a organização do evento olímpico.
"É normal que o mundo inteiro seja tolerante agora com a China, depois de uma tragédia desta magnitude", opina Joseph Cheng, professor de Ciências Políticas na Universidade de Hong Kong.
"É um pouco como depois do 11 de Setembro. Como teria sido possível criticar os Estados Unidos?", pergunta.
Para Pequim, as Olimpíadas, que acontecerão de 8 a 24 de Agosto, deveriam aproximar a China do resto do mundo e ser uma montra do gigante asiático.
Porém, a crise tibetana em Março provocou tensões com os governantes dos países ocidentais e revoltou a opinião pública do primeiro mundo, que denunciou as violações aos direitos humanos na região autónoma chinesa.
Em Olímpia, Londres, São Francisco, entre outras cidades, o percurso da tocha olímpica teve muitos incidentes. Em Paris, a passagem foi um verdadeiro fiasco. Os pedidos de boicote aos Jogos proliferaram, numa humilhação para a China, o que provocou uma grande reacção nacionalista no país.
Porém, desde o terramoto, as críticas cessaram no Ocidente e a imprensa chinesa passou a destacar a generosidade dos estrangeiros, que enviam ajuda ao país.
O tom mudou radicalmente e as autoridades chinesas esperam beneficiar do momento, afirmam os analistas.
"Com certeza que eles compreendem que a campanha internacional de relações públicas centrada nos Jogos de Pequim encontrou sérios problemas e agora têm uma boa oportunidade de reconquistar a simpatia do público", diz Joseph Cheng.
Artigos elogiosos na imprensa estrangeira sobre a gestão da crise por parte do governo chinês contribuíram para melhorar a atmosfera, considera Zhu Feng, especialista em Relações Internacionais na Faculdade de Relações Internacionais da Universidade de Pequim.
"A mudança de clima é muito importante para as relações da China com o mundo exterior", destacou.
Enquanto a cobertura da crise no Tibete pelos distúrbios antichineses foi muito controlada pelas autoridades, o governo permitiu em grande parte à imprensa local e estrangeira cobrir as consequências do terramoto.
Mesmo com o controle rígido no que diz respeito à imprensa nacional no geral e com algumas áreas com acesso fechado, a atitude da China não passou despercebida.
Porém, a questão agora é saber se o efeito será de longa duração e resistirá até os Jogos Olímpicos.
Os grupos de oposição sabem que não é produtivo criticar a China no momento, destaca Joseph Cheng.
"Antes de atacar de novo, talvez pensem que deveriam esperar um pouco, digamos até Julho ou Agosto", conclui.

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