30.6.08

Analista do United Nations Development Programme comenta desempenho da RAEM
Macau melhor do que Hong Kong
mas esquecido da ONU


O relatório mundial de referência é o que mede o desenvolvimento humano. Macau não faz parte. Mas podia. Bastava a China pedir. Hong Kong faz. Macau até está melhor…

João Paulo Meneses
putaoya@hotmail.com

Macau não consta dos relatórios de Desenvolvimento Humano da ONU porque a China não solicitou formalmente a inclusão da RAEM neste que é provavelmente o relatório mundial mais credível sobre o estado de desenvolvimento de cada país ou território.
A ausência de Macau não diminui apenas a capacidade de afirmação internacional, pela necessidade de criar uma identidade própria face à realidade chinesa. É menos um instrumento de análise, sobretudo ao nível regional, uma vez que as equipas da UNDP (United Nations Development Programme) também elaboram relatórios locais e regionais, que são os principais referenciais quando se trata de analisar o nível de desenvolvimento de cada país ou território (seja para investimentos externos seja como documento de consumo interno).
Para que Macau fizesse parte dos relatórios da UNDP a delegação da China na ONU ou o ministério da Economia em Pequim teriam de enviar esse pedido formalmente para Nova Iorque (mas trata-se, apurou o PONTO FINAL, de um processo simples, de uma carta a solicitar a inclusão). Apenas a República Popular da China o pode fazer.
É que se há mais de uma década, quando os relatórios começaram a ser elaborados, Macau não possuía a informação suficiente ou exigida pela ONU para um trabalho comparativo com esta responsabilidade, hoje esses dados existem e estão na posse dos próprios especialistas. Só falta mesmo o pedido de inclusão.

Macau melhor do que Hong Kong

É isto que explica que Hong Kong faça parte dos relatórios anuais da UNDP e Macau não.
Quando os relatórios começaram, a partir de 1990, a então colónia britânica não só tinha os dados necessários como manifestou interesse em ser comparada. Portugal nunca o fez, ao que apurámos, por não existirem os dados – embora não tenha sido possível saber em concreto quando é que eles começaram a estar disponíveis (se antes, se depois da transição).
Hong Kong é no último relatório, divulgado este ano, o 21º país ou território em todo o mundo com melhor desenvolvimento humano («uma medida comparativa de riqueza, alfabetização, educação, esperança média de vida, natalidade e outros factores. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem-estar de uma população, especialmente o bem-estar infantil», fonte Wikipedia). Ser 21º significa estar à frente de grandes potências como a Alemanha, Singapura e a Coreia. Portugal é 29º. À frente de Hong Kong, na Ásia, apenas o Japão. A lista é liderada pela Islândia, seguida da Noruega e da Austrália. Os Estados Unidos são o 12º e o Reino Unido o 16º. A China não aparece nos 50 primeiros.
O PONTO FINAL pediu, informalmente, a um analista do UNDP que fizesse algumas contas rápidas com os números relativos à RAEM e foi-nos garantido que Macau apareceria um ou dois lugares à frente de Hong Kong, portanto nos 20 países ou territórios mais desenvolvidos do mundo – o que explica a perplexidade com a ausência de Macau deste documento de referência.

Quase cinco meses à espera

Este trabalho começou a ser preparado em Fevereiro, quando foi divulgado o último relatório do UNDP. Nessa altura o PONTO FINAL enviou ao cuidado do Gabinete de Comunicação Social (GCS) de Macau duas questões que tentariam responder às principais dúvidas que este trabalho levanta:
- o governo de Macau deu algum passo junto da República Popular da China no sentido de ser apresentado um pedido de inclusão de Macau nos relatórios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento?
- não o tendo feito, admite fazê-lo, como forma de contribuir para a preservação de uma identidade própria, como RAEM?
O GCS respondeu quase de imediato, dizendo que estavam a «acompanhar o assunto. Assim que tivermos mais alguma informação voltaremos a contactar». Dois meses depois, voltámos a reenviar a mensagem, sendo que a resposta, mais uma vez imediata, foi que «o assunto não está esquecido, continuando a aguardar pela informação solicitada às entidades competentes».
Quase cinco meses depois entendemos ser tempo mais do que suficiente para uma resposta, pelo que trazemos o trabalho ao conhecimento dos leitores do PONTO FINAL.

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