26.6.08

CEEDS apresenta plano para o desenvolvimento urbano
Futuro em jogo

Abandonar medidas "tapa buracos" e fazer de Macau uma cidade turística com um multi-desenvolvimento, sempre com a indústria do jogo em plano de fundo são desejos que o CEEDS apresenta no Plano Conceptual para o Desenvolvimento Urbano. Especialistas de Hong Kong e do continente consideram fundamental uma cooperação regional

Rui Cid

Macau vai debater-se, muito em breve, com o problema da falta de espaço. Um diagnostico conhecido há muito, e para o qual o Plano Conceptual Urbano elaborado pelo Centro de Estudos Estratégicos para o Desenvolvimento Sustentado(CEEDS) procura soluções, a pensar no futuro. Daniel Tse Chi Wai, Coordenador do Centro, referiu, na apresentação do plano, que o CEEDS está a abandonar as medidas "tapa buracos", para seguir ideias da "terceira geração do planeamento urbano", focando-se na direcção do planeamento estratégico a longo prazo, de forma a promover o desenvolvimento sustentável no território. A estratégia do CEEDS é tornar, a longo prazo, a RAEM numa cidade de vigor mundial, que viva do turismo, tendo os casinos como industria impulsionadora de um crescimento sustentável que permita um multi-desenvolvimento, e o aumento da qualidade de vida da população. A criação de áreas verdes, assim como a protecção das zonas históricas da cidade, ou o estabelecimento de um novo sistema de transportes são outras das intenções inscritas no plano. Wang Guoen do Instituto de Desing e Planeamento Urbano de Guangzhou acredita que uma maneira de diversificar o turismo no território é a cooperação com Zhuhai, reforçando a linha de transportes entre as duas cidades. A ideia da cooperação com Zhuhai é igualmente defendida por Yeung Yue-man, professor catedrático da Universidade Chinesa de Hong Kong. O objectivo passa, explica Yue-man em sentar à mesa os governantes das duas cidades de forma a desenvolverem conceitos de crescimento conjunto. Para o professor, Macau atingiu o "topo dos topos", depois de um crescimento económico "absolutamente fantástico" nos últimos anos. Para este catedrático o território tem qualidades únicas, tem "estilo, grandes hotéis e é o único sítio na China onde se pode jogar", mas os investimentos futuros estão limitados pela falta de espaço, pelo que um protocolo com Zhuhai para o aproveitamento dos espaços daquela cidade pode ser a solução. O professor defende mesmo que a cooperação deve ser estendida a outras regiões do Delta do rio das Pérolas, uma situação onde "todos sairiam a ganhar." Yue-man diz que a RAEM começou, finalmente, a planear a longo prazo, ao apresentar este plano que "aparece na altura certa, mudando padrões, e pensa o futuro a 30 anos". Quem também ficou com uma impressão positiva do plano conceptual foi Liang Wei, director assistente do Instituto de Desing e Planeamento Urbano de Tsinghua de Pequim, que destaca o plano de intenções na área dos transportes, assim como o "bom diagnostico" que faz à actual situação do território, sendo um "guideline" para os anos que aí vêm. Liang Wei vê com bons olhos a questão da cooperação regional que afirma ser a solução para a "armadilha" em que a falta de terrenos se pode transformar. Para este especialista em planeamento urbano é a ausência de terrenos que torna quase impossível o total aproveitamento do "tremendo" potencial que a RAEM têm. Liang Wei acredita no crescimento sustentável de Macau, desde que as autoridades percebam que os casinos são apenas mais uma vantagem:" a aposta numa única indústria compromete a sustentabilidade, há muitas pessoas que procuram o território pela sua herança cultural." Uma diversificação que o professor Yueng Yue-man entende como natural e inevitável:" a determinada altura não vai haver espaço para mais casinos, por isso há que investir no turismo e aproveitar as marcas históricas do colonialismo, assim como combinar os casinos com outras actividades, como por exemplo conferências, seminários ou spás de forma a atrair mais turistas."

CAIXA
"Metro à superfície é um atentado urbanístico"

O plano conceptual do CEEDS não agradou a todos os participantes da reunião de ontem, com o arquitecto João Mexia a acusar o CEEDS de ter um plano "direccionado aos interesses dos casinos, por mais que se diga que esta ainda não é a versão final". João Mexia lamentou a ausência de representantes do turismo ou do ambiente, facto que demonstra a pouca preocupação do governo em relação a esta matéria. O arquitecto apontou o exemplo do metro ligeiro à superfície como prova do desnorte do CEEDS: " O projecto, é um atentado urbanístico, devia, pelo menos na península de Macau, ser subterrâneo." João Mexia considera que as propostas apresentadas estão ultrapassadas, e que o território tem dinheiro para apresentar um "plano de ponta". O arquitecto defende uma estratégia de substituição, que permita que em vez de se ter 5 prédios de 10 andares se possam ter 2 de 42 andares: "ajuda a poupar espaço", argumenta. Organizar os sistemas de transportes públicos com a criação de zonas para táxis e uma distribuição adequada dos percursos dos autocarros e o aumento do imposto de circulação sobre os veículos são outras soluções que o arquitecto proclama para o território. João Mexia acha que chegou a altura de Macau pensar se quer continuar a ter 27 milhões de turistas por ano, dos quais " a esmagadora maioria não contribui em nada para o crescimento económico da RAEM", ou se prefere ter 8 milhões de turistas com capacidade económica.

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